Esse fenômeno de neutralização também é notável em português, não é mesmo? Especialmente entre as vogais médias /e/, /o/ /ɛ/, /ɔ/. Em posição tônica ou acentuada essas vogais contrastam significado sendo portanto fonemas distintos. sede ['sedʒi] => Estou com muita sede. sede ['sɛdʒi] => A sede da prefeitura foi vandalizada. almoço [aw'mosu] => O almoço estava delicioso. almoço [aw'mɔsu] => Eu almoço sempre ao meio-dia. Porém em posição pretônica esse contraste se perde havendo uma alternância de pronúncia em muitas palavras podendo ocorrer tanto [e] / [ɛ] [o] / [ɔ]. [e]l[e]fante / [ɛ]l[ɛ]fante [o]rgulhoso / [ɔ]rgulhoso Em algumas situações as vogais [e] / [o] ; [i]; [u] que atuam como fonemas em posição tônica ex: b[e]co vs b[i]co / s[o]co vs s[u]co também perdem contraste em posição pretônica na pronúncia de alguns dialetos do português havendo alternância na pronúncia m[e]nino / m[i]nino b[o]tão / b[u]tão Esse fenômeno é descrito fonologicamente como alçamento vocálico.
Sim, de fato ocorre neutralização das vogais médias do português em contextos não tônicos. Já no caso do alçamento vocálico se trata mais de um processo de harmonia vocálica, já que /e/ e /o/ mutam para /i/ e /u/ apenas quando ocorrem antes de uma vogal tônica fechada.
3:21 Uma coisa interessante é que no meu dialeto elas geralmente são contrastadas como /pas/ e /pajs/ respectivamente. Acho que em todos os dialetos com ditongação pré-S isso ocorre.
@@PiterKeo Provavelmente há variações nesse quesito. O que eu observo de maneira geral é que a ditongação não ocorre se o som de "s" for um morfema de plural. Isso gera pares homógrafos como nós (pronome pessoal, ditongado) e nós (plural de nó, não ditongado). Uma excessão notável é "vocês", que apesar de etimologicamente ser o plural de "você", acabou se tornando um pronome pessoal independente.
Ao aprender holandês (tal como em outras línguas próximas, como o alemão e o africâner), reparei que toda letra 'd', ao final de uma palavra ou sílaba (coda) toma o som de uma oclusiva alveolar surda /t/, como em 'hand' [hant], 'antwoord' [antʋo:ɹt], 'goed' [ɣu:t] , 'hond' [hont], goednacht [ɣu:t'naɣt] e 'goedkoop' [ɣu:t'kowp]. Contudo, quando seguidas por uma vogal, como nas formas plurais 'handen' [handə] e 'honden' [hondə], no infinitivo do verbo 'antwoorden' [antʋo:ɹdə] e na forma enfática 'goede' [ɣu:də], o som do 'd' volta a ser de uma oclusiva alveolar sonora /d/. Nesses casos, o som da letra 'd' seria considerado um arquifonema, o que faria as palavras serem transcritas foneticamente com um D (maiúsculo)? Confesso que o conceito de arquifonema é absolutamente novo para mim. Agradeço por apresentá-lo a nós, entusiastas da linguística, em mais um excelente vídeo. 👏👏
Sim, se você for usar uma representação com arquifonemas, pode usar /D/ ou /T/ para representar o som final em todas as palavras que terminam em D ou T no holandês, como /ɣuːT/, /honT/, /ɣuːTnaXT/. Ou você poderia optar pela transcrição morfofonêmica e usar //ɣuːd//, //hond//, //ɣuːdnaxt//.
Não tenho nada abordando isso ainda não. Você pode achar vídeos comentando alguns pontos da fonética do português brasileiro em vídeos dos canais Glossonauta e Alomorfe.
Qual é a diferença entre alofone e arquifonema? Arquifonema é só um dos alofones que eu escolho e coloco em "letra" maiúscula? O arquifonema é só o fone a qual os alofones se referem/direcionam?
São coisas diferentes. Alofones são pronúncias diferentes do mesmo fonema em diferentes contextos. Em português o caso mais comum é com os fonemas /t/ e /d/, que podem soar [t͡ʃ] e [d͡ʒ] antes de /i/. São pronúncias diferentes, mas os falantes de português consideram como sendo a mesma consoante. Um fonema é geralmente transcrito com uma letra minúscula mesmo. Então "tal" e "til" vão ser transcritos fonemicamente como /taw/ e /tiw/, mas foneticamente como [taw] e [t͡ʃiw]. Dois alofones nunca podem contrastar no mesmo ambiente. Se o português diferenciasse [ti] e [t͡ʃi], as duas consoantes teriam que ser fonemas distintos. Arquifonemas são dois fonemas que não se diferenciam num contexto específico, mas em outros sim. O caso mais comum no português é com o R, que mencionei no vídeo. Entre vogais o português tem dois tipos de R que contrastam, como em caro x carro, então eles são dois fonemas separados, não alofones do mesmo fonema. Mas no final de uma sílaba só um tipo de R ocorre. Em sotaques como o paraense ele é igual ao R em carro, mas em outros, como o gaúcho, ele é igual do R em caro, e em outros, como o caipira, é um fone diferente, mas ainda interpretado pelos falantes como um tipo de R. Nesse caso não dá pra dizer que o R em carta é igual ao de carro ou igual ao de caro. Nesse contexto os dois fonemas não se diferenciam, então consideramos como sendo um arquifonema, um fonema "obscuro", um lugar onde dois fonemas se misturam.
@@PiterKeo Seria correto dizer que um arquifonema é uma representação arquetípica(abstrata), ou seja, que não faz referência a nenhuma realização específica do fonema?
@@PiterKeo O Chat GPT me disse o que "os alofones estão relacionados à análise fonética, enquanto os arquifonemas estão relacionados à análise fonológica". Procede?
@@wagnerjunior6524 Não. Arquifonema é o resultado da neutralização de dois ou mais fonemas. Não tem nada a ver com a realização deles, que seriam os fones. Você ainda está misturando alofones com arquifonemas. Um arquifonema não é uma representação abstrata pra diversos fones. Isso é um fonema simplesmente. Um arquifonema é o resultado de dois FONEMAS diferentes (como /r/ em caRRo e /ɾ/ em caRo), que num determinado contexto deixam de contrastar (como o /R/ em caRta). Arquifonema é a falta de contraste entre dois fonemas que em outros lugares contrastam. Alofones nunca contrastam em contexto nenhum, então são sempre um fonema só. É o caso do [t] em Tapa e do [t͡ʃ] em Tipo. Não temos palavras que se diferenciam apenas por uma ter [t] e outra [t͡ʃ], então esses sons nunca contrastam e são sempre um fonema só, que costuma ser escrito /t/. Então aqui não tem nada a ver com arquifonema.
O FONE pronunciado para o FONEMA /r/ pode ser [r], [x], [h], [ɦ] dependendo do sotaque. A transcrição fonológica/fonêmica não precisa usar o símbolo fonético exato da pronúncia. Na verdade nem é possível considerando a grande variação entre sotaques e dialetos.
É incrível quando a gente vê a teoria daquilo que é percebido de forma empírica
que legal um canal em portugues falando sobre isso
Muito bom!🔥🔥🔥🔥
Muito bom o vídeo, obrigado! Eu já passei vários perrengues com essa história de "sotaque certo/errado", "padrão disso e daquilo"
Esse vídeo apareceu do nada pra mim, mas foi muito bom! Kkkkk vídeo super explicativo e didático
Esse fenômeno de neutralização também é notável em português, não é mesmo?
Especialmente entre as vogais médias
/e/, /o/ /ɛ/, /ɔ/.
Em posição tônica ou acentuada essas vogais contrastam significado sendo portanto fonemas distintos.
sede ['sedʒi] => Estou com muita sede.
sede ['sɛdʒi] => A sede da prefeitura foi vandalizada.
almoço [aw'mosu] => O almoço estava delicioso.
almoço [aw'mɔsu] => Eu almoço sempre ao meio-dia.
Porém em posição pretônica esse contraste se perde havendo uma alternância de pronúncia em muitas palavras podendo ocorrer tanto [e] / [ɛ]
[o] / [ɔ].
[e]l[e]fante / [ɛ]l[ɛ]fante
[o]rgulhoso / [ɔ]rgulhoso
Em algumas situações as vogais [e] / [o] ; [i]; [u] que atuam como fonemas em posição tônica ex: b[e]co vs b[i]co / s[o]co vs s[u]co também perdem contraste em posição pretônica na pronúncia de alguns dialetos do português havendo alternância na pronúncia
m[e]nino / m[i]nino
b[o]tão / b[u]tão
Esse fenômeno é descrito fonologicamente como alçamento vocálico.
Sim, de fato ocorre neutralização das vogais médias do português em contextos não tônicos. Já no caso do alçamento vocálico se trata mais de um processo de harmonia vocálica, já que /e/ e /o/ mutam para /i/ e /u/ apenas quando ocorrem antes de uma vogal tônica fechada.
3:21 Uma coisa interessante é que no meu dialeto elas geralmente são contrastadas como /pas/ e /pajs/ respectivamente. Acho que em todos os dialetos com ditongação pré-S isso ocorre.
Eita, achava que vocês ditongavam ambas as palavras!
@@PiterKeo Provavelmente há variações nesse quesito.
O que eu observo de maneira geral é que a ditongação não ocorre se o som de "s" for um morfema de plural. Isso gera pares homógrafos como nós (pronome pessoal, ditongado) e nós (plural de nó, não ditongado).
Uma excessão notável é "vocês", que apesar de etimologicamente ser o plural de "você", acabou se tornando um pronome pessoal independente.
maneiro, nem sabia que existiam jeitos de falar sobre isso em português 😳
Ao aprender holandês (tal como em outras línguas próximas, como o alemão e o africâner), reparei que toda letra 'd', ao final de uma palavra ou sílaba (coda) toma o som de uma oclusiva alveolar surda /t/, como em 'hand' [hant], 'antwoord' [antʋo:ɹt], 'goed' [ɣu:t] , 'hond' [hont], goednacht [ɣu:t'naɣt] e 'goedkoop' [ɣu:t'kowp]. Contudo, quando seguidas por uma vogal, como nas formas plurais 'handen' [handə] e 'honden' [hondə], no infinitivo do verbo 'antwoorden' [antʋo:ɹdə] e na forma enfática 'goede' [ɣu:də], o som do 'd' volta a ser de uma oclusiva alveolar sonora /d/. Nesses casos, o som da letra 'd' seria considerado um arquifonema, o que faria as palavras serem transcritas foneticamente com um D (maiúsculo)? Confesso que o conceito de arquifonema é absolutamente novo para mim. Agradeço por apresentá-lo a nós, entusiastas da linguística, em mais um excelente vídeo. 👏👏
Sim, se você for usar uma representação com arquifonemas, pode usar /D/ ou /T/ para representar o som final em todas as palavras que terminam em D ou T no holandês, como /ɣuːT/, /honT/, /ɣuːTnaXT/. Ou você poderia optar pela transcrição morfofonêmica e usar //ɣuːd//, //hond//, //ɣuːdnaxt//.
Adorei o vídeo ❤❤❤
Você tem algum video sobre fonetica brasileira?
Não tenho nada abordando isso ainda não.
Você pode achar vídeos comentando alguns pontos da fonética do português brasileiro em vídeos dos canais Glossonauta e Alomorfe.
Qual é a diferença entre alofone e arquifonema? Arquifonema é só um dos alofones que eu escolho e coloco em "letra" maiúscula? O arquifonema é só o fone a qual os alofones se referem/direcionam?
São coisas diferentes. Alofones são pronúncias diferentes do mesmo fonema em diferentes contextos. Em português o caso mais comum é com os fonemas /t/ e /d/, que podem soar [t͡ʃ] e [d͡ʒ] antes de /i/. São pronúncias diferentes, mas os falantes de português consideram como sendo a mesma consoante. Um fonema é geralmente transcrito com uma letra minúscula mesmo. Então "tal" e "til" vão ser transcritos fonemicamente como /taw/ e /tiw/, mas foneticamente como [taw] e [t͡ʃiw]. Dois alofones nunca podem contrastar no mesmo ambiente. Se o português diferenciasse [ti] e [t͡ʃi], as duas consoantes teriam que ser fonemas distintos.
Arquifonemas são dois fonemas que não se diferenciam num contexto específico, mas em outros sim. O caso mais comum no português é com o R, que mencionei no vídeo. Entre vogais o português tem dois tipos de R que contrastam, como em caro x carro, então eles são dois fonemas separados, não alofones do mesmo fonema. Mas no final de uma sílaba só um tipo de R ocorre. Em sotaques como o paraense ele é igual ao R em carro, mas em outros, como o gaúcho, ele é igual do R em caro, e em outros, como o caipira, é um fone diferente, mas ainda interpretado pelos falantes como um tipo de R. Nesse caso não dá pra dizer que o R em carta é igual ao de carro ou igual ao de caro. Nesse contexto os dois fonemas não se diferenciam, então consideramos como sendo um arquifonema, um fonema "obscuro", um lugar onde dois fonemas se misturam.
@@PiterKeo Excelente explicação! Obrigado!
@@PiterKeo Seria correto dizer que um arquifonema é uma representação arquetípica(abstrata), ou seja, que não faz referência a nenhuma realização específica do fonema?
@@PiterKeo O Chat GPT me disse o que "os alofones estão relacionados à análise fonética, enquanto os arquifonemas estão relacionados à análise fonológica". Procede?
@@wagnerjunior6524 Não. Arquifonema é o resultado da neutralização de dois ou mais fonemas. Não tem nada a ver com a realização deles, que seriam os fones. Você ainda está misturando alofones com arquifonemas.
Um arquifonema não é uma representação abstrata pra diversos fones. Isso é um fonema simplesmente.
Um arquifonema é o resultado de dois FONEMAS diferentes (como /r/ em caRRo e /ɾ/ em caRo), que num determinado contexto deixam de contrastar (como o /R/ em caRta). Arquifonema é a falta de contraste entre dois fonemas que em outros lugares contrastam.
Alofones nunca contrastam em contexto nenhum, então são sempre um fonema só. É o caso do [t] em Tapa e do [t͡ʃ] em Tipo. Não temos palavras que se diferenciam apenas por uma ter [t] e outra [t͡ʃ], então esses sons nunca contrastam e são sempre um fonema só, que costuma ser escrito /t/. Então aqui não tem nada a ver com arquifonema.
Pera, mas o fonema do R não seria /ɦ/? Só os falantes de italiano, falantes de espanhol pronunciam /r/.
O FONE pronunciado para o FONEMA /r/ pode ser [r], [x], [h], [ɦ] dependendo do sotaque. A transcrição fonológica/fonêmica não precisa usar o símbolo fonético exato da pronúncia. Na verdade nem é possível considerando a grande variação entre sotaques e dialetos.
@@PiterKeo ah sim, é uma transcrição fonêmica e não fonética. Agora que eu fui ver.
Tupetchi da MN Raussi kkk