Mas é fake news ou uma possibilidade de interpretação distinta? Inclusive parece ser essa a abordagem do vídeo. Chamar de fake news o trabalho de outros cientistas não deveria ser instigado. Basta dizer "minha abordagem científica é diferente. Eis os nossos argumentos."
@@BruRobson Editarei o comentário, mas eu digitei o termo "fake news" por ser uma abordagem sem muita evidências que uma rede jornalística gigantesca divulgou, fazendo muitos acreditarem que era uma verdade absoluta, basta olhar os comentários.
O título da matéria (escrita e em vídeo) da BBC induzem ao erro. A teoria de que a língua DETERMINA o pensamento já foi desmentida há muito tempo e não é mais aceita por ninguém com um mínimo de bom senso. O que ainda existem são pesquisas mostrando coisas na linha de "falantes de russo conseguem classificar um objeto como sendo ciano ou azul uma minúscula fração de segundo mais rápido do que falantes de inglês, para os quais a diferença entre ciano e azul não é comumente expressa no idioma materno". Mas veja que isso, além de muito menos bombástico e chamativo, não quer dizer que quem fala inglês seja incapaz de fazer a mesma coisa. A língua determina o pensamento, como diz a chamada da BBC? Não. A língua influencia o pensamento? Em alguns pontos, sim, mas não da forma como as pessoas pensam - e até a roupa que você está usando pode influenciar seu pensamento, vide os trabalhos sobre enclothed cognition.
A língua pode ter influência no seu pensamento mas a língua depende dos falantes e não o contrário. Senão a gente estaria falando a primeira língua do mundo sem possibilidade de mudá-la porque a gente dependeria dessa língua e não seria possível entender outra. Todos sabemos que não é assim. Aprender uma nova língua pode ajudar você a ver como outras pessoas com uma cultura diferente vêm o mundo. Mas a língua sempre está mudando graças ao pensamento dessas pessoas. A gente faz a língua e não o contrário.
A premissa do filme "A chegada" é essa, que a língua pode modificar a forma como pensamos. No filme isso vai bem além, a ponto de a protagonista conseguir enxergar o tempo de uma forma completamente diferente.
Admitidamente, encontrar o seu canal nesse finalzinho de 2024, foi sem dúvidas o melhor ocorrido do ano nessa internet pra mim. Eu vi primeiro o vídeo Ideologia versus Ciências, em que você apresentava um vídeo da Rita von Hunty. Anos atrás eu via aquele vídeo da Rita e fiquei fulo da vida, pois graficamente, não tinha diferença alguma nas cores (sim, eu havia testado com o GIMP e havia me questionado sobre muitos pontos que você trouxe a respeito do método empregado nos supostos estudos), eu sabia que tudo não tinha embasamento como era apresentado, pois conhecia o documentário da BBC de onde ela tirava as ideias e ainda tive que discutir com meu ex-namorado sobre isso (foi horrível). Amo a Rita, acompanho o canal com muito gosto e adorei ver aqui em seu canal suas colocações. Não se trata de "atacar gratuitamente isso ou aquilo", mas apenas de pensar criticamente um pouco mais. Também adorei o presente vídeo, pois como falante nativo de mais de 4 línguas (isso não implica dizer que sou bom escritor de nada, eu só sei falar, escrever são outros quinhentos) eu também compartilho desse questionamento poético sobre "saber outro idioma muda sua visão de mundo", certamente amplia muito e enriquece sobremaneira, mas há limites. A propósito, o conselho final com a Björk foi um bálsamo. Obrigado pelo trabalho.
Puxa, que delícia ler um comentário como esses! É tão bom sentir que estou conseguindo passar a mensagem. Não é porque estamos no mesmo lado que precisamos fazer vista grossa para os deslizes, e apontar os eventuais erros não é o mesmo que atacar a pessoa ou virar a casaca. Meu círculo social felizmente é bem compreensivo e razoável, mas se os comentários me acusando de bolsonarista já geram certa frustração, imagino como você deve ter se sentido, lamento muito. Espero que você se sinta um pouco acolhido - mas vou admitir que tenho uma invejinha boa por você ter um repertório linguístico tão vasto... quatro línguas nativas?! Quem me dera! Obrigado pelo comentário! ❤️
Ótimo video. Um complemento é o debate entre Geoffrey Pullum e Guillaume Thierry que ocorreu na Universidade de Groningen sobre a relação linguagem e pensamento. É bem interessante, pois enquanto o Pullum é um cético de qualquer variação da hipotese Sapir-Whorf, enquanto o Thierry já defende uma versão mais fraca. Ambos apresentam as evidencias e argumentos bem sólidos, recomendo!
Olá André. Achei seu vídeo interessantíssimo pelo combate a vertente idealista da linguística moderna (e pós-moderna) cujo paradigma para a percepção do mundo é uma mediação Absoluta bizarra operada pela linguagem. Gostaria de saber as tuas referências teóricas, que são aparentemente construtivistas, tanto na filosofia quanto na linguística. Vejo que você não cai no formalismo de operar a cisão entre representações e conteúdos dessas representações (se posso me expressar assim), de forma a haver um todo de elementos formais sintáticos sobredeterminando o discurso, cujo contexto histórico e cultural é essencial. Um abraço e aguardarei novos conteúdos!
Obrigado pelos elogios, João! Eu preciso pensar em como envelopar essas questões, por assim dizer... talvez um vídeo de perguntas e respostas quando atingir um número X de inscritos? Pensando agora, é até engraçado, minha primeira iniciação científica na faculdade foi em Análise do Discurso de linha francesa, Michel Foucault na veia. Depois transitei pela semiótica de Peirce e Greimas, mas acabei caindo na fonética e na fonologia, influenciado pelo gerativismo, mas fazendo disciplinas com funcionalistas. No final das contas, acho que mesmo as vertentes teóricas com as quais eu não me identifiquei acabaram me ensinando alguma coisa!
Como um matemático, eu sempre fico puto quando alguém coloca a espiral de fibonacci numa foto de uma flor e brada "a matemática é perfeita"... Não tem o mais puto nexo. Então sempre que vejo explicações muito simples que permitem um leigo em uma área X entender uma "verdade universal" eu já truco. Mas eu tenho a dúvida genuína sobre se seres humanos em regiões diferentes desenvolvem linguagens diferentes e interpretam o mundo de forma diferente. Existe um teorema de Shannon que afirma que qualquer canal de transmissão de informação é ruidoso, i.e., pra levar informação de um ponto A até um ponto B, necessariamente ocorrerá uma forma de corrosão. Por exemplo, eu digitando isso agora estou supondo que todos que leiam essa mensagem, conheçam as palavras, saibam interpretar o conjunto... E pode ser que alguém intérprete "errado". Mais ainda, eu estou supondo que que o meu pensamento está representado nessas palavras, mas eu não tenho certeza absoluta nem mesmo disso. Visto que as línguas coisas que nos ensinam e nos entendemos a partir de inferências, me parece bem razoável que a visão de mundo de outra pessoa que nasce num contexto totalmente diferente seja de fato diferente. Eu criei essa balbúrdia de argumento quando me disseram que só o português conhece o sentimento de "saudade". O quanto disso que eu falei se sustenta? Ótimo vídeo.
Não sei se você se recorda mas alguns anos atrás hoive uma crise econômica na Grécia e muitas pessoas acusarem Ângela Merkel de ser muito intransigente em ajudar os gregos com um empréstimo, segundo o jornalista William Waack o motivo disso é que em alemão a palavra dívida tem uma origem ou significado muito próximo de pecado e culpa, então ele explicou que essa era uma questão quase que religiosa para Merkel, será que ele também foi nessa linha de que a língua molda a nossa visão de mundo?
Eu nunca tinha visto argumentos científicos a favor dessa tese e, como cético, nunca comprei. Mas eu cogitava que fosse real e sempre me perfuntei, não sobre esses exemplos de poesia do idioma, mas sobre a "filosofia alemã". Já ouvi o argumento de que falar alemão nativamente dava ferramentas diferentes para analisar o mundo e, portanto, tantos filósofos alemães renovaram a filosofia com perspectivas novas. Algo meio "a cognição de quem pensa em alemão é diferente". Ou também a coisa de alemães e japoneses terem sido os melhores na ciência e tecnologia em certos períodos de tempo. E agora os chineses também. Daí vem o argumento "é porque o idioma deles é mais complexo, aí eles tem mentes mais complexas capazes de entender e criar coisas também mais complexas." É a mesma lógica também. E confesso que ISSO, não a baboseira poética, me deixava bem encucado.
Ainda de acordo com o nobre Geraldo Cardoso Trevisan (GPT para os íntimos): Etimologia e Significado Origem Linguística: A palavra atenção vem do latim attentio, derivada do verbo attendere, que significa "inclinar-se para", "voltar-se a" ou "estar atento". Ad-: prefixo que indica "para" ou "em direção a". Tendere: verbo que significa "esticar", "tender" ou "inclinar-se". Significado Original: No latim, a ideia era de uma concentração ou direção da mente para algo específico, como ouvir ou observar com cuidado. Significado Atual: Em português, "atenção" refere-se ao ato de focar a mente ou os sentidos em algo, seja para aprender, observar ou interpretar. Também implica cuidado, vigilância ou consideração em relação a algo ou alguém. Origem Histórica e Social Primeiras Aparições Documentadas: O termo attentio aparece em textos latinos clássicos, especialmente filosóficos, para descrever o esforço mental de focar-se em um conceito ou ideia. Contexto Cultural e Filosófico: Na filosofia grega e romana, a atenção era associada à disciplina mental, um elemento central no estudo da lógica, ética e retórica. O conceito de atenção como cuidado também aparece em escritos religiosos, como na Bíblia, onde muitas passagens pedem que o fiel "preste atenção" aos ensinamentos divinos. Evolução Cultural: Na modernidade, a atenção ganhou novas dimensões com o advento da psicologia, sendo vista como um dos pilares da cognição e aprendizagem. Evolução Linguística Transformações Fonéticas e Semânticas: A palavra manteve sua forma e significado essencial desde o latim, mas ganhou aplicações mais amplas em diferentes campos, como a psicologia, comunicação e marketing. Adaptações em Outras Línguas: Espanhol: atención. Italiano: attenzione. Francês: attention. Inglês: attention. Em todas essas línguas, o significado básico permanece o mesmo, com variações sutis no uso cotidiano. Sinônimos e Antônimos Sinônimos: Foco. Observação. Cuidado. Vigilância. Consideração. Antônimos: Distração. Negligência. Desatenção. Descuidado. Exemplos de Uso Uso Cotidiano: "Preste atenção no que estou dizendo." Refere-se a ouvir e compreender de maneira ativa. Uso Emocional ou Afetivo: "Ele sente falta da atenção dos amigos." Aqui, "atenção" significa cuidado e consideração emocional. Uso Profissional ou Técnico: "A atenção aos detalhes é crucial para o sucesso do projeto." Refere-se à precisão e vigilância em tarefas específicas. Uso Filosófico ou Espiritual: "A atenção plena é um dos pilares da meditação." Em contextos espirituais ou filosóficos, a atenção ganha o significado de uma consciência presente e focada. Observações Adicionais Na Psicologia: A atenção é estudada como uma função cognitiva essencial para a percepção, memória e aprendizagem. Dividida em diferentes tipos: seletiva, sustentada, alternada e dividida. No Marketing e Comunicação: A palavra adquiriu relevância em estudos sobre como captar e manter o interesse das pessoas em um mundo saturado de informações. Na Educação: A atenção é um aspecto central no aprendizado, sendo frequentemente associada a técnicas para aumentar o foco dos alunos.
Não acho que a língua mude nosso pensamento, mas sim algumas coisas na visão de mundo. Por exemplo, por mais bobo que possa parecer, a gente vê os dedos da mão e do pé tudo na mesma categoria (dedos), ao passo que um americano talvez os veja como coisas distintas, por ter duas palavras diferentes em seu idioma. Outro exemplo, é verdade que alguns idiomas consideram verde e azul a mesma cor. Isso não muda a existência dessas cores e seus diversos tons, mas pode mudar algumas formas de ver as coisas. A verdade é que a língua reflete a visão de um povo, mas não a visão de um povo reflete a língua, por isso ambos estão sempre em movimento.
Esses exemplos que você mencionou são muito interessantes, mas eu diria que eles refletem formas levemente diferentes de categorizar as coisas, enquanto a expressão "visão de mundo" sugere algo mais amplo e mais profundo. No caso de dedos e finger/toes, o inglês ainda tem a palavra "digit", que engloba tanto fingers quanto toes. Da mesma forma, no português, a palavra "membros" engloba tanto pernas quanto pés. Em português, dizemos que um animal anda de quatro (patas), em inglês, um animal anda sobre quatro pernas. Mas acho difícil argumentar que essas diferenças lexicais entre português e inglês implicam em uma diferença de visão de mundo (ou de animais quadrúpedes). Da mesma forma, com certeza, quem fala inglês não vê conexão que nós vemos entre a manga da camisa e a manga fruta. Mas isso não quer dizer que a forma como a gente concebe uma manga seja muito diferente, concorda? Sobre a questão do verde e do azul, eu preciso fazer um vídeo sobre isso um dia, mas a única influência que isso vai ter é que em línguas que não diferenciam entre azul e verde os falantes são uma fração de segundo mais lentos em tarefas que envolvam classificar essas duas cores, mas isso não quer dizer que não enxerguem a diferença entre essas cores nem nada do tipo. No final das contas, essas questões de classificação acabam sendo pequenos "glitches" no cérebro, que não chegam nem perto da influência de aspectos como religião, vivências e até ideologias políticas.
Não acha que o simples fato de terem palavras com significado único em uma língua que em outras não teria uma palavra específica pode ser a prova de que sim, a língua reflete a visão de mundo? @@andremachadolinguistica
@@curiousmind111Acho que é uma relação aprioristica do pensamento de um adulto formado, mas também em movimento já que a língua e viva. E acho que a "visão de mundo" que é expressa por meio das linguas, está menos nas palavras do que no encadeamento semântico delas. Talvez seja aí que uma língua crie um modo único de raciocínio.
O que sempre me trouxe duvidas é a distinção de ser e de estar que os idiomas ibéricos tem. Sempre considerei a possibilidade dos idiomas que não tem a distinção de estados intrínseco e estados temporários do sujeito acabar afetando como ele se vê. Por exemplo, quando diz "i am sad", o "am" é o mesmo que usa para descrever uma característica que você sempre possuiu, como "i am tall", então minha teoria seria que as pessoas de idiomas que não tem essa distinção aderem sentimentos e estados temporários (estar) como características permanetnes (ser). O que acha?
É uma dúvida válida, mas usarem o mesmo verbo tanto para algo temporário quanto para algo permanente não significa, de modo algum, que os falantes não sejam capaz de diferenciar uma coisa da outra ou sejam menos atentos a isso. Mesmo sem usar dois verbos diferentes, é possível usar expressões que deixem claro que se trata de algo temporário (como "no momento", "agora", ou "hoje"), mas muitas vezes o contexto já é suficiente (mesmo em português, nós podemos perguntar se uma pessoa é triste ou se ela está triste, mas seria estranhíssimo perguntar se uma mulher é grávida). Por fim, se você prestar atenção, vai ver que existem formas diferentes de perguntar que se aplicam a uma situação, mas não a outra. Tanto "What is André like?" quanto "How is André?" usam o mesmo verbo, mas enquanto a primeira frase é usada pra perguntar que tipo de pessoa o André é, a segunda é usada pra perguntar como o André está nesse momento. Obrigado pela visita, pelo comentário e pela dúvida!
E acrescento também que um fator importante no inglês para saber se esse "to be" é um estado permanente é o próprio objeto. Se é gripe, é dedutível que é um estado necessariamente temporário, portanto sem a necessidade de desambiguar :)
Mesmo que concordo com os exemplos que você mencionou e nem todas as diferenças entre linguas têm um efeito palpable na realidade. É bem conhecida e estudianda a Hipótese da Relatividade Linguística (HRL), que propõe diferencias em capacidades e formas de interação entre falantes de linguas com estruturas diferentes. Um exemplo são algumas línguas que não possuem formas de referir números exatos (sistemas um-dois-muitos) como os falantes da lingua pirahã (norte da Amazônia) que não conseguem atingir objetivos em tareas cognitivas que precisam de números exatos. Outro caso bem conhecido é a palabra chave em alemão (schlüssel), que é masculina, ao contrário do português e espanhol. Existem estudios que acreditam que essa percepção masculina traz consigo que destaque outras características como a fortaleza, qualidade própria do matérial ferroso com que é fabricada. Esso não acontece em linguas que não classificam a palavra como masculina. Acho que a sobre simplificação dos titulares que colocam jornalistas e imágenes que compartilham nas redes sociais desvirtúa uma área de estudo muito interessante. (O português não é minha lingua primaria, peço desculpas se cometer alguns erros)
Não se preocupe com os possíveis desvios no português, você escreve bem :) Dito isso, esse(s) experimento(s) sobre chave e ponte são clássicos, mas também são experimentos bastante problemáticos e não tiveram seus resultados reproduzidos, até onde eu me lembro (eu quero abordar em um vídeo no futuro mas, até lá, se você entender inglês, procure o vídeo The Truth About Grammatical Gender, do canal Yuval Ben-Hayun). Sobre os Pirahã, esse exemplo fala menos sobre a língua do que sobre a cultura dessa tribo - mas, de novo, é algo que pretendo abordar no futuro :)
Na medida que o pensamento ocorre por palavras e as palavras variam entre os idiomas, o pensamento também vai variar - como varia entre pessoas do mesmo idioma de origem, mas com cargas de leitura e vocabulários diversos. O contexto histórico foi mais importante para o alemão ser um idioma com produção filosófica de peso do que a natureza do idioma em si - afinal, antes de Leibniz o alemão não era conhecido por ser "idioma de filósofos" - fama que foi pegar mesmo depois de Kant...
Então... Mas não é totalmente verdade que o pensamento ocorra por palavras, não. Tanto é que existem pessoas que sequer têm monólogo interno, e pra elas dizer que "a gente pensa através da linguagem verbal" seria esquisitíssimo.
O pensamento não ocorre por palavras. Na realidade, o que se dá é o contrário disso. Se não há pensamento, não há linguagem, pois a finalidade da linguagem é a expressão do pensamento.
Vc já ouviu falar sobre um estudo que mostra dificuldade ou facilidade de perceber a diferença entre matizes de cores entre uma sociedade dum pais africano e outros países? Como vc explicaria se não tiver relação com a linguagem?
Vi seu vídeo sobre um vídeo da Rita, faço filosofia e as primeiras disciplinas eram teoria do conhecimento, há outros vídeos da Rita equivocados também. Parabéns, amigo. Mais um seguidor. Bom trabalho.
Adorei o vídeo! Tu poderias fazer um sobre linguagem neutra? Já ouvi muito o argumento de que nossa sociedade é transfóbica porque o português é generificado binariamente, e também machista pois o gênero masculino "predomina" sobre o feminino para generalizar coisae (tipo, quando queremos nos referir a uma turma de escola com vários meninos e meninas, dizemos "os alunos" para englobar todo mundo, mesmo as alunas meninas), o que não faz muito sentido pois temos sociedades machistas com línguas em que o gênero feminino faz esse mesmo papel.
Santo algoritmo que finalmente me apresentou um canal tão bom quanto o seu! Acabei de terminar o penúltimo ano de letras. Nunca me apresentaram a ideia de que a língua dita especificamente nossa forma de ver o mundo, mas algumas declarações mais rasas e distraídas já me fizeram concluir isto de certa forma. É que é tão bonito acreditar nisso, né? Bom, se alguma ideia nos deixa com mais certeza do que com dúvidas, ela provavelmente não é confiável, que bom que reparei nisso agora.
Eu caí aqui de paraquedas, sou totalmente ignorante, mas acho que nessa questão não é a língua em si, mas a ideia que ela traz, tornando mais fácil formular pensamentos, quando aprendi muitas palavras novas, eu tive maior capacidade de formular ideias e expressar mais facilmente, como você disse, a gente absorve a cultura por tras, a ideia por tras e transforma aquela ideia em palavra/códigos como uma fórmula. Sei lá, daqui a pouco to falando besteira aqui, mas muito bom o conteúdo, vou pesquisar mais sobre isso.
Excelente vídeo. Tenho uma dúvida: como fica a questão do ser/estar no inglês? Para nós, falantes de língua latina, temos claramente essa diferença marcada. Como expressar essas duas coisas no inglês? Isso não seria um exemplo de forma diferente de ver o mundo? Um abraço. Nao conheço o inglês profundamente, ainda.
É mais simples do que parece! Mesmo sem usar dois verbos diferentes, é plenamente possível diferenciar uma coisa da outra. É possível usar expressões que deixem claro que se trata de algo temporário (como "no momento", "agora", "hoje"), mas muitas vezes o contexto já é suficiente (nós podemos perguntar se uma pessoa é triste ou se ela está triste, mas seria estranhíssimo perguntar se uma mulher é grávida). Por fim, se você prestar atenção, vai ver que existem formas diferentes de perguntar que se aplicam a uma situação, mas não a outra. Tanto "What is André like?" quanto "How is André?" usam o mesmo verbo, mas enquanto a primeira frase é usada pra perguntar que tipo de pessoa o André é, a segunda é usada pra perguntar como o André está nesse momento. Obrigado pela visita, pelo comentário e pela dúvida!
Entendo a critica a visão apresentada, mas partindo de outros pontos de vista, será que a linguagem não molda o sujeito? Não sou da área especificamente de linguagem - na verdade sou mais da área da filosofia. Ultimamente venho pesquisando muito sobre essa questão da linguagem afetar ou não o modo de pensar do sujeito… Ainda não tive uma pesquisa muito profunda frente ao tema, mas posso trazer uma reflexão de uma filosofia que me parece muito sólida argumentativamente. Ao partir de uma análise foucaultiana do discurso, é argumentável que o poder está e sempre esteve historicamente ligado as relações de poder nas sociedade. Isto é, Foucault tenta compreender como a sociedade está sendo moldada (ou construída) pela linguagem, que por sua vez reflete nas relações de poder existentes. Eis que me surge a ideia de que, partindo do pressuposto de que a sociedade está sendo moldada pela linguagem, é que somos sujeitos convivendo em sociedade, não estaríamos, portanto, sendo influenciados pela própria linguagem, pelo próprio discurso? Cabe aqui uma observação a partir da obra de George Orwell “1984”. No final do livro, é apresentado um apêndice explicando o conceito de Novafala imposto pelo Grande Irmão. Há quem considere essa parte do livro “inútil”, mas eu vejo como uma ótima fonte para reflexão sobre esse tema. A Novafala é um idioma fictício criado por Orwell, e o objetivo dessa linguagem desenvolvida pelo governo na ficção era a condensação e remoção de certas palavras, conceitos, ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o pensamento do indivíduo, e que assim, ele não chegue a ter um pensamento crime, isto é, não tenha a possibilidade de pensar algo contra o governo - uma vez que não há uma gramática que possibilite o sujeito pensar nisso. Essa parte do livro nos apresenta uma ideia muito interessante: A linguagem não como uma ferramenta meramente de comunicação, mas como estruturação do próprio pensamento. Assim, surge uma reflexão interessante… Em que medida a linguagem influencia o pensamento (e vice-versa)? Orwell sustenta, na sociedade dominada pelo Socing e pela Novafala, a hipótese de que a linguagem limita a extensão na qual os membros dessa comunidade linguística podem pensar sobre os temas. Como o senhor sendo Dr. na área de linguagens, gostaria de entender melhor sua opinião sobre o tema…
Faz muito tempo que não me volto ao Foucault (desde a minha primeira iniciação científica na faculdade, e isso foi há mais de dez anos, estou velho!), mas se bem me lembro, a noção de enunciado no pensamento do Foucault não se confunde com a noção de enunciado linguístico, justamente porque o enunciado seria um tipo de "força" que permite que enunciados linguísticos se formem. Outro ponto é que (de novo, até onde eu me lembro) a noção de linguagem nem sempre corresponde à noção de língua. Da perspectiva de autores como o Foucault e do Roman Jakobson, costumes, vestuário, culinária, comportamentos, tudo isso pode ser interpretado como linguagem e, portanto, discurso. Se você disser que o indivíduo é, de certa forma, moldado pelos enunciados e pelos discursos que o atravessam, eu vou concordar, desde que você se lembre que enunciado e discurso não se limitam à (nem se confundem com) linguagem verbal - e, ainda assim, veja que isso é bem diferente da postura de língua moldando pensamento apresentada na matéria da BBC e nos textos que eu abordei. Sobre a Novafala... ela parte de tantos pressupostos errados e de uma visão tão eurocêntrica que não empolga nem como ficção. Por exemplo, o fato de uma mesma forma da palavra poder ser usada como verbo, substantivo ou advérbio não implica, de modo algum, algum tipo de "simplificação" do pensamento dos falantes. Da mesma forma, o fato de não haver uma palavra para certa ideia nunca impediu que as pessoas concebessem conceitos novos e criassem novas palavras pra esse conceito, então a ideia de "se não há uma palavra para X, não se pode pensar em X" não faz o menor sentido. Sendo bem sincero, eu fico pasmo que alguém que falava tantas línguas quanto o George Orwell tenha aceitado esse tipo de raciocínio grosseiro (mas paciência, a linguística como ciência era extremamente recente na época dele, e pra algumas pessoas a Novafala funciona enquanto ficção). Se você tiver interesse, procura o meu vídeo "Sua forma de falar te torna menos inteligente", que aborda as ideias que norteiam a Novafala mesmo sem endereçar a Novafala diretamente. Espero ter ajudado!
Abraços meu querido, falantes por todos nos que somos da lingüística. E nos separastes dos leigos e da falsa ciência, a pseudolinguistica. Mantenha essa precisão cirúrgica. E chame Alomorfe, Piter Keo e Glossonauta e falem sobre Glotocidio em suas diversas formas e sobre pseudolinguistica em suas múltiplas máscaras e faces. Abraços. ❤
Vontade não me falta! Já tem quatro vídeos com o Glossonauta aqui no canal, mas torço pra que o Alomorfe e o Piter topem fazer uma (ou várias) colabs um dia! Abraço! ❤️
@@andremachadolinguistica Chame eles 3 contigo, porque cada um explorando uma parte do tema para os demais comentarem fica melhor. Pega os temas sugeridos por mim e divide em 4 partes iguais para cada participante na colab futura. Vai ser um trabalho maravilhoso e profundo. ❤
A tipologia linguística é algo tão vasto e complexo, cheia de divergências nas próprias convergências que supostamente se encontram. Mas ainda assim, partes do mundo muito longe umas das outras possuem similaridades em sua morfosintaxe, fonologia e assim por diante. No fim, o legado de Chomsky continua. A gramática universal é a realidade. Línguas são complexas, mas diferem de forma sistemática.
Se a língua determinasse o modo como enxergamos a realidade, seria impossível dublar um filme. Só porque não há uma palavra para definir a cor azul, por exemplo, não significa que o azul não esteja ali.
Muito obrigado, André. Confesso que recentemente vi este video da BBC e achei bobo, mas achei pelos motivos errados. Eu achava que era algo óbvio que novas línguas trariam novas visões de vida. Daí, vim aqui e aprendi que a ciência serve exatamente pra isso, pra nos mostrar que eventualmente o senso comum é falho. Muito obrigado!
Que bom que o vídeo atingiu quem eu esperava! 😁 Pode ter certeza que um vídeo aprofundando vai sair, porque até drag queen comunista brasileira andou falando besteira sobre esse assunto!
Muito importante esse fenômeno de fetichização como foi colocado. Não tinha pensado nisso! Eu estudo mantras e estou me preparando para iniciar o estudo do sânscrito (gramática) ano que vem. E o que percebo é que quando estou estudando a tradução de algo em sânscrito, os professores acabam tendo que contar histórias e desenrolar explicações para que a gente possa entender o sentido daquela palavra - é aí que eu percebo que entram a cultura e os diferentes modos de pensar da tradição védica em relação à cultura ocidental, ou nossa cultura brasileira de modo geral. Eu entendo que acabam sendo essas histórias e explicações que ajudam a ampliar minha visão de mundo... É o contexto e não a palavra em si. Uma outra coisa que ouvi os meus professores falarem, é que o sânscrito é uma língua que deixa a mente afiada. Há vários modos, declinações, sei lá mais o quê. Um monte de coisa que temos que saber de cor. Talvez seja um tipo de língua que vá treinar os neurônios e o pensamento lógico - indiretamente seria uma ginástica mental. Continuo achando línguas fascinantes, mas de fato, precisamos ter esse cuidado de não deixar os poetas mentirem para nós! Adorei a discussão!
é tanta fake news linguística que aparece que eu quase explodo. As que eu mais escuto são essa aí do vídeo e tbm que português é a língua mais difícil do mundo
Oi, eu sou leigo no assunto. Mas se as línguas não distinguem o pensamento, então por que tem tantas confusões linguísticas? Ex: O termo 'Geist' em Alemão remonta a espírito ou ideia, mas as pessoas pensam que o livro do Hegel "Fenomenologia do Espírito" (Phänomenologie des Geistes) remonta a fantasmas, pessoas mortas ou almas. Por que isso ocorre?
Muito legal seu vídeos. O pensamento é uma força muito mais inventiva do que a linguagem. Lembro de um professor apontando sobre o mar em francês que é feminino e em português que é masculino. Como essa visao representação linguistica e simbólica implica no modo como nos relacionamos com esse mar. Nos exemplos do vídeo fez muito sentido. Mas quando pensei nas representações a partir do genero das palavras me pareceu fazer algum sentido. Poderia me indicar uma leitura sobre o assunto?
Nossa, em português acho difícil, mas vou consultar minhas fontes aqui. Você consegue ler em inglês? De todo modo, obrigado pela visita e pelo comentário!
Bru, perdoe a minha demora, acabei me perdendo aqui nos comentários mas não esqueci o que você pediu. Um ótimo (e rápido) começo é o vídeo "LIES we believe about language", do canal "languagejones ", que é um bom complemento a esse vídeo meu. Numa linha de argumentação oposta, defendendo a influência da língua na cognição, está o livro "Through the Language Glass", do Guy Deutscher. Mas eu particularmente iria direto para o livro "The Language Hoax", do John McWhorter, porque ele vai abordar as ideias do Deutscher e dos Everett (pai e filho), mas já explicar o porquê de elas serem problemáticas. Em português é mais difícil, mas minhas fontes mencionaram o livro "Relativismo linguístico ou como a língua influencia o pensamento", de Rodrigo Tadeu Gonçalves. Eu não li ainda, mas disseram que é um trabalho bem ponderado. Mas, se me permite adiantar dois pontos: a) a língua não determina e não molda o pensamento, a questão é que existem, sim, alguns "glitches" que a língua causa na cognição (mas esses glitches e pequenas falhas de processamento são bem menos interessantes e impressionantes do que o pessoal faz parecer), e b) se você topar com qualquer coisa da Lera Boroditsky, fuja. Espero que isso te ajude! ☺️
Pergunta honesta. Se o signo é arbitrário (Saussure), seu sentido é social, certo? Então esse signo vai refletir (expressar) e refratar (não expressar) coisas (Volochínov), não? Nesse sentido, a linguagem expressa uma maneira de recortar arbitrariamente o mundo, mediando-o, e não sendo um meio transparente e neutro de representação, não? Se sim, a linguagem recorta o mundo, e diferentes linguagens recortam o mundo de formas distintas, partindo de uma visão materialista. Tem algum non sequitur aqui? Se tudo aqui proceder, a língua modula o pensamento, não? Obrigado pelo vídeo e pelas provocações! Parabéns!
Boas provocações, vamos lá! O mais importante, cuidado para não confundir linguagem com língua. A cultura certamente influencia nossa percepção de mundo, e a cultura se materializa e se transmite através de linguagens (não só a verbal, mas o vestuário, os gestos, etc.). Reconhecer isso é muito diferente de dizer que a estrutura morfológica, fonológica, sintática e o léxico de uma língua moldam o seu pensamento. Vou te dar um exemplo lexical. O holandês "mapeia" lexicamente o conceito de família de forma diferente do português. Temos "gezin", que se refere ao núcleo familiar, e "familie", que se refere à família de forma mais ampla. Mas veja que o fato de não haver uma correspondência 1:1 no vocabulário não impede que eu conceba e expresse as ideias em português. Da mesma forma, em línguas que não marquem morfologicamente o tempo futuro, eu posso usar outros recursos para expressar essa divisão temporal. Justamente pelo signo ser arbitrário, não dá pra dizer que ele tenha relação direta com a realidade, menos ainda que a língua crie "pontos cegos" na nossa percepção de mundo - isso estaria no domínio da cultura, da ideologia, da religião, mas são processos que independem da estrutura da linguagem verbal em si. Espero que tenha ficado claro! 😅
Não acredito 😭😭 na verdade, que bom que isso não ocorre. A única vez que ouvi sobre isso foi em 1984, do Orwell, e fiquei preocupado sobre a língua moldar a maneira como vemos o mundo (é ficção, mas me deixou com a pulga atrás da orelha). Estudar línguas e as nuances disso é maravilhoso. Continue o ótimo trabalho 🙏
Muito boa a reflexão, André. A dificuldade em se entender essa reflexão tão nichada, digamos assim, parece adivir do fato de as pessoas associarem língua à linguagem. Esse conceito de lingua, sabem aqueles que são linguistas, não se confunde com a fala e o discurso, sendo portanto produto da atividade humana. De outra perspectiva, bem mais popularizada, o discurso (em toda sua gama de definições) orienta nossa percepção do real, uma vez que veicula os valores/sentidos que atribuimos e compartilhamos sobre o real. Enfim, caberia um vídeo separando essas noções, tornando mais claro ainda o conceito de língua explorado em sua perspectiva. Ganhou mais um seguidor.
Vi esse vídeo da BBC, fiquei incomodado e alguns dias depois o algoritmo colocou o seu vídeo no meu feed. Obrigado, esse tipo de falácia é disseminado por aí e tomado como verdade, por isso é ótimo ver uma crítica como a sua.
Nossa, passei minha vida acreditando realmente que a kingua determinava o pensamento. Muito bom sua visao, gostaria nuito de ver um video seu mais conoleto e comolexo sobre o tema.
Excelente, excelente! A meu ver estão querendo nos empurrar uma forma de compreensão rasa e intencionalmente ideologizada, como se tudo fosse puro viés ideológico. Talvez as pessoas que insistem nesses estudos dessa forma é que vejam o mundo somente pelo viés da ideologia.
Eu entendo que quando uma língua fala de um tempo e outra fala de outra, não é que as duas línguas veem o tempo diferente. Ele é absoluto e igual para todos, mas como um povo (e por consequência, uma língua) estrutura esse tempo diferente é o que se fala de como pensamos. Todos nós pensamos sobre o tempo, mas como estruturamos o tempo é como difere. Eu não acho que um chinês explica e comenta as coisas do mesmo jeito que eu e não digo por individualidade, mas sim por causa da língua. Eu posso falar a mesma coisa que ele, mas não fica natural se eu usar a lógica do português. Outro exemplo, na China, o tempo é pensado numa linha de baixo pra cima. Em português numa linha de trás pra frente. Claro que se eu falar em chinês sobre o tempo numa linha de trás pra frente, ele vai me entender, mas não vai soar natural. Da mesma forma que eu falar do futuro apontando pra cima em português. Óbvio que vão me entender, mas não vai ficar natural. Acho que esse natural é como a lingua estrutura certos assuntos.
Mesmo que a gente ignore o absurdo que é dizer que um grupo de pessoas é incapaz de perceber a diferença entre passado, presente e futuro, a matéria da BBC sugere causalidade, o que iria além de uma "simples" correlação.
André, como você diferencia 'língua' de 'convenções culturais'? Línguas não são convenções culturais? Existem línguas fora de contextos e convenções culturais?
De certa forma, dependendo de como você entende o termo convenção, a língua pode ser uma convenção (no sentido de ser um fenômeno que surge no convívio social) ou então ter um aspecto convencional (a norma padrão e a gramática normativa são convenções, mas a língua é maior do que isso e não se limita a essas convenções). Não existem línguas fora de contextos e convenções culturais, até porque toda sociedade tem cultura e convenções. E, pensando no caso de línguas que são faladas em vários países e em várias sociedades, como o inglês, o espanhol e o francês, fica claro que uma língua pode estar ligada a mais de uma cultura.
Bem legal seu vídeo. Parabéns pelo canal e pelas explicações. Se você me permite tirar uma dúvida aqui de forma respeitosa: eu concordo com você que a ideia de que a língua que você fala determina o modo como você pensa é meio reducionista mesmo, é de uma simplificação muito grande de todos esses processos, tenta reduzir tudo à língua e à linguagem. Principalmente esses exemplos que você traz, que tentam trazer uma poética. Porém, não podemos fazer afirmações um pouco menos categóricas? Por exemplo, de que a língua que você fala, junto com o local em que você está inserido e falando aquela língua, influenciam o seu jeito de pensar? Note que aqui não sou categórico, não uso a palavra "determinar", porque não gosto muito de determinismos. Porém, creio que a língua pode influenciar as suas construções de mundo também, especialmente no nível ontológico da linguagem. Não é que vai ditar sua visão de mundo, mas vai influenciar ela, em diferentes níveis, de diferentes formas, com diferentes intensidades, etc. Estou viajando aqui? Pergunto tudo isso, de novo, de forma respeitosa, porque de você, e também pq, assim, a língua não é uma forma de cultura também?
Muda sim, ao conhecer conceitos e palavras que eu nem sabia que existe mudou profundamente meu modo de pensar, palavras como lógica e metafísica, agora vejo lógica em tudo, e penso a partir dela. Mas essa é um discussão complexa que não pode ser reduzida dessa forma, como se alguém tivesse a verdade.
Sua forma de pensar mudou porque você aprendeu coisas novas. Foram esses conceitos e esses novos conhecimentos que mudaram sua forma de pensar, não a linguagem em si. Inclusive porque o jargão e as palavras novas que você aprendeu só fazem sentido a partir desse conhecimento novo.
@andremachadolinguistica Se eu tivesse uma língua limitada talvez eu poderia pensar esse novo conhecimento, só que seria mais difícil pensar nele, Mas com novas palavras seria muito mais fácil entender esse novo conhecimento, seria mais fácil construir o raciocínio.
@@andremachadolinguistica é muito difícil pensar coisas que não tem palavras para pensar elas, não é impossível mas é muito difícil, eu posso organizar palavras em uma ordem não ainda pensada, mas uso palavras que já existem. Por essas e mais coisas acredito que a linguagem nos limita, mas não completamente.
@@AlémdaBlackNão é a linguagem que limita, mas o não conhecimento de uma coisa. Quando não se pensa sobre algo, não se tem a palavra. A palavra "lógica", por exemplo, representa uma ideia específica de algo. O fato de ela vir do grego não torna o grego em si especial,. Afinal, alguém, um indivíduo, precisou pensar nesse conceito antes de criar a palavra, e a partir dele a cultura grega adquiriu esse conceito. Um tradutor vai entender o conceito e traduzir como achar mais adequado. Considerando como exemplo uma tradução para o português, não há limitação desta língua por ela AINDA não ter uma "palavra" para o conceito,. É possível abarcar um conceito novo na língua portuguesa, não importando a língua original. A única limitação que vejo é a limitação do conhecimento cultural e não da língua em si.
Acho que você tem que dar uma oportunidade para as ciências sociais. Porque apesar de existirem elementos que são "universais" no serhumano. O contexto social, incluindo a linguagem influencia a maneira como os agentes sociais de um grupo específico pensam, vivem e interpretam a realidade! Isso pode fazer aspectos das cores terem mais importância do que propriamente sons, mas isso não significa que não escutam ou vêem essas características, mas que a relevância desses signos e elementos não tem importância social na mesma intenção que outros!
Boa parte do meu círculo social é das sociais, e minha primeira iniciação científica na faculdade foi estudando Foucault e mais um monte de nomes relacionados 🙃 Pra não deixar a coisa muito longa, só reforço que é importante diferenciar os conceitos de discurso, de linguagem e de língua. A língua é uma linguagem, mas não é a única. Além disso, dizer que o USO que se faz da língua (o discurso) influencia o pensamento é uma coisa, dizer que a estrutura formal do sistema linguístico influencia o pensamento é outra coisa, e bem diferente. Que a cultura, a sociedade, etc influenciam o pensamento, ninguém em sã consciência discorda (acho).
vi esse vídeo inteiro e depois o outro que vc recomendou no final e digo que mesmo concordando sim com a maioria dos seus pontos, outros ainda não fazem muito sentido pq parece um exagero de sua parte. não sou estudioso mas na minha cabeça faz todo sentido vc pensar diferente se estiver pensando em outra língua mas isso não esta ligado diretamente a cada pequeno detalhe de cada palavra ou se tem ou não tal tempo verbal, mas sim no contexto geral e na lingua "completa" (não sei se deu pra entender, mas enfim). Se eu começar a pensar numa lingua bem distante do português isso certamente faria com que eu pensasse de forma consideravelmente diferente sobre algumas coisas, não? uma lingua mudar totalmente minha visão de mundo é exagero (até por isso pra mim parece q vc exagera no video, pq está indo contra esses outros exageros) mas no fim alguma mudança de pensamento e de enxergar alguns pequenos detalhes parecem existir
Eu falo japonês fluente e português tbm, e a língua com certeza molda a forma que vc vê o mundo. A língua é fortemente ligada a cultura e costumes de um povo, dito isso ao vc aprender uma língua que faz parte de uma cultura distinta da que vc tem, é perceptível as nuances entre palavras que tem o mesmo significado. O significado em si pode ser o mesmo porém a perspectiva sobre o significado que a palavra traz é diferente, e isso de fato molda a forma que vc enxerga o mundo.
Olá! Antes de qualquer coisa, parabéns por ter atingido a fluência, eu ainda estou apanhando no meu processo de aprender japonês! 🥹 Dito isso, aprender uma língua costuma te forçar a entrar em contato com uma cultura que não é a sua, até aqui nenhuma discordância. Mas o meu ponto é que essas "nuances" às quais você se refere a) são, essencialmente, culturais e não linguísticas (como no caso das medidas de tempo e espaço, que eu abordei no vídeo), ou b) refletem usos históricos que se fixaram no léxico quando as palavras sequer queriam dizer a mesma coisa, ou ainda c) são tão difusos que acabam sendo pouquíssimo relevantes. Ninguém em sã consciência diria que o fato de em português você poder "tomar banho" e também "tomar sorvete" reflete alguma relação entre essas duas ações, ou mesmo que isso reflete uma nuance de sentido que a gente encontra no verbo tomar. Influenciar o pensamento, até a temperatura do ambiente e a roupa que você está usando influenciam, mas a coisa é muito mais na linha de você demorar uma fração minúscula de segundo a mais para categorizar a cor de um objeto, bem menos interessante e bombástico do que "moldar a forma que você enxerga o mundo" sugere. De todo modo, obrigado pela visita e pelo comentário!
Ja ouviu falar na hipótese de sapir wolf ? Acho que tem algima coisa gaver com essa ideia aí, descobri isso pesquisando sobre depois de ver o filme a chegada, é interessante...
Exatamente isso! Essa hipótese tem um apelo imenso (principalmente pra leigos e pra quem não tem uma base sólida de método científico), como o próprio filme "A Chegada" mostra. Mas ela tem muitas fragilidades, implicações absurdas, e os estudos empíricos que tentaram comprovar essa hipótese são, em geral, muito problemáticos.
Entendo o ponto e há verdade nele, mas não é preto no branco assim. A língua é sim um dos elementos que mais forma nossa percepção da realidade. Assim como temos palavras pronunciadas de forma diferente, com o mesmo significado comum e objetivo a diferentes culturas, como vaca, parede, pedra etc... temos palavras que variam a pronúncia e o significado (conceito) de cunho mais subjetivo, como amor, felicidade e até mesmo deus, palavras que não conseguem ser descritas de forma universal ou material. Essas ultimas sao palavras que, mesmo numa sociedade onde todos falam a mesma lingua e pronunciam essas palavras de forma comum entre si, o significado de cada pessoa para alguma delas vai ser diferente, de acordo com o que ela tem como realidade daquela palavra. Outro bom exemplo é: se nao fosse assim, nao existiriam tantos espantalhos sobre esquerda e direita que formam a percepçao das pessoas sobre o cenário de políticas públicas. Outro exemplo: um daltônico que não consegue ver a cor laranja pode nomear a fruta laranja como quiser, que materialmente ela não vai deixar de ser uma laranja, de fato não é porque ele possui uma limitação perceptiva visual que não permite ver essa cor, que ela deixa de existir, ela faz parte da realidade, mas quem vai provar pra um muçulmano que o conceito, a explicação, de Deus é o mesmo conceito cristão e vice versa. Você já fez 3 ou 2 vídeos sobre esse assunto e continua a espalhar essa informação como verdade absoluta.
Francisco, existe uma nuance aí que você não está levando em conta. Uma coisa é dizer que a língua (e aqui eu me refiro ao sistema linguístico, tempos verbais, flexão morfológica, léxico, etc.) molda o pensamento, e outra coisa bem diferente é dizer que aspectos culturais materializados no uso da linguagem (o discurso) influenciam o pensamento. Ideologia, religião, posturas filosóficas - enfim, cultura - de fato são transmitidas através da linguagem verbal (não só dela, mas também dela) e vão influenciar a nossa visão de mundo. Mas esse fenômeno é independente da estrutura e das características da língua em si. Mesmo pensando em palavras mais subjetivas, como você menciona: pode ser que em uma língua seja necessário usar mais palavras para expressar o que em outra língua é possível expressar com uma palavra só, mas isso não significa que a estrutura de uma língua limite o que se pode ou não expressar nela. Da mesma forma, se você assume que mesmo entre falantes de um mesmo idioma cada um vai ter uma percepção levemente diferente do que as palavras significam, isso só reforça a importância de contextos sociais e culturais e mostra que a estrutura linguística não é capaz, por si só, de determinar a forma como as pessoas percebem a realidade material e interpretam a subjetividade.
@@andremachadolinguistica Então, André, aqui eu falo da língua, que é o termo utilizado para definir todo o sistema linguístico, não apenas da gramática e suas respectivas áreas de estudo que você citou, como a morfologia. Meu ponto não é que a língua consegue por si só determinar a forma como as pessoas percebem a realidade, mas sim que ela está em conjunto e faz parte dos contextos sociais e culturais que moldam o ser humano. O complexo sistema de se formar um pensamento não aborda apenas a língua, também agrega outros fatores fisiológicos, psicológicos e sociais dos seres humanos, ou seja, ao se falar de língua, todos esses fatores, inclusive também o fator do espaço percebido ao redor do ser humano, já devem ser levados em consideração, pois sem eles sequer existiria língua, sequer existiria ser humano. O discurso e tudo o que ele representa para um ser humano, influencia a nossa visão de mundo, e não se classifica e nem é analisado da mesma forma que uma estrutura gramatical, mas está dentro do sistema da língua, que é muito abrangente e conecta todos os elementos do estudo da mesma entre si. Sobre o exemplo que você deu de que uma língua pode ter duas palavras para expressar a mesma coisa que em outra língua é definida por duas palavras, isso existe mesmo e nunca pus em questão. A "palavra", a imagem acústica, o significante que se une ao significado para se formar o signo linguístico não é a questão, visto que são só variações de um mesmo objeto concreto o qual um signo representa. Posto isso, meu ponto é exatamente que a língua, por ser um sistema, com "regras" de funcionamento, na verdade limita o que pode ou não ser expressado por meio de palavras, se não limitasse, não existiria gramática. Nisso, há palavras que possuem maior possibilidade de expressão objetiva do que outras subjetivas. há aqui um reforço da importância de contextos sociais e culturais para determinar visões de mundo, contextos esses que a língua está intrinsecamente conectada.
Pós estruturalismo. Palavras são construções sociais que reforçam certas estruturas. Se todos os cisneis são brancos então o cisnei preto da Austrália não pode ser um cisnei.
Ué, mas eu não falar francês não me impede de pesquisar o significado e a forma como a palavra é usada, nem de ver o que falantes de francês falam acerca do uso dessa palavra. Foi isso o que eu fiz. 🤔
Desculpe, mas discordo do seu ponto de vista. As postagens que você leu no início do vídeo não têm nada de poético. Eles apenas mostram algo que a linguística cognitiva vem tentando mostrar há 4 décadas: as expressões metafóricas enraizadas na língua vêm das metáforas conceptuais, que, por sua vez, são compartilhadas socialmente (Teoria da Metáfora Conceptual, de Lakoff e Johnson). Você dá a entender (pelo menos entendi assim) que essas expressões estão lexicalizadas a ponto de sua metaforicidade ser nula ou baixíssima, mas já sabemos que não é o caso. Cornelia Muller, por exemplo, mostra que mesmo as expressões altamente enraizadas na língua podem ser metaforicamente reativadas, o que mostra que a metáfora conceptual de fato molda a nossa forma de entender o mundo. Ou seja, o sentido literal de "pagar" (pay) em "pay attention" pode ser evocado a qualquer momento por um falante da língua inglesa, fazendo com que ele, em algum momento, compreenda a "atenção" (attention) como um recurso valioso - o que não ocorre nas línguas em que essa metáfora do pagamento não ocorre quando o assunto é a atenção. Isso (o fato de a metáfora conceptual estruturar cognitivamente o pensamento), inclusive, tem efeito no uso dos tempos verbais, fazendo com que algumas línguas tenham o futuro projetado para trás, enquanto o passado fica para frente. O futuro, nesses casos, é o desconhecido (e justamente por isso fica para trás, onde os olhos não conseguem ver), enquanto o passado, já conhecido, fica para frente (onde a visão alcança). Se isso não é uma maneira diferente de ver o mundo reforçada ou até criada pela língua, não sei o que é. Para saber mais sobre o assunto, sugiro o livro da pesquisadora Jussara Abraçado sobre o tempo e os tempos verbais. Outro elemento linguístico que molda o pensamento é o gênero. Veja os adjetivos franceses que formam colocados com "la mer" (substantivo feminino), e depois faça o mesmo com adjetivos espanhois que formam colocados com "el mar" (substantivo masculino). Os adjetivos encontrados nas duas línguas não serão os mesmos, o que mostra que o gênero atribuído linguisticamente ao mar pode, em parte, moldar a nossa conceptualização da categoria "mar". Em suma, as línguas moldam SIM a nossa maneira de entender o mundo - o que não quer dizer que os falantes de duas línguas diferentes tenham noções de mundo completamente diferentes. Pelo contrário: as principais metáforas conceituais, chamadas metáforas primárias, tendem a ser compartilhadas quase universalmente. Por fim, podemos contrapor as línguas ao conhecimento enciclopédico para perceber o quanto a língua molda a forma como enxergamos e compreendemos o mundo. O nosso conhecimento enciclopédico nos informa que a Terra atrai todos os objetos que estão sobre ela por meio da força da gravidade. A nossa língua, por sua vez, nos obriga a dizer frequentemente que os objetos CAEM. O que você, de fato, enxerga? Você vê a Terra atrair tudo, conforme o seu conhecimento de física elementar? Ou vê tudo cair livremente, sem que exista uma força de atração mútua entre a Terra e aquilo que cai? Se aquilo que a gente percebe entra em conflito com o nosso conhecimento enciclopédico, só pode ser a nossa língua a "culpada". Apesar de discordar do seu ponto de vista, gostei muito do seu vídeo, pois provoca uma excelente reflexão. Abraços.
Em primeiro lugar, fico muito feliz que, mesmo discordando, você tenha gostado do vídeo e, mais importante, tenha levantado a discussão de forma educada e respeitosa. Conheço algumas das referências que você mencionou (Lakoff e Johnson, vi a live da Jussara no Abralin Ao Vivo em 2020), mas não todas (Cornelia Muller, inclusive pode recomendar um ou mais textos específicos, se quiser). Acho que, no fundo, não discordamos muito, provavelmente o que a gente esteja chamando de "moldar" e "maneira de ver o mundo" difira um pouco, já que você também não é determinista (e eu me oponho à noção de determinar e à de moldar, mas não à de influenciar, até porque os usos da língua também são uma forma de materialização da cultura). Se bem me lembro, essa questão dos adjetivos e do gênero, assim como aquele experimento clássico da chave e da ponte, são bem mais controversos e menos confiáveis do que as pessoas pensam, mas confesso que preciso ver se houve alguém retomando essa metodologia e encontrando resultados interessantes. Preciso revisitar esses tópicos, já é tempo de eu falar sobre Metáforas Conceptuais (pode não parecer, mas eu acho uma teoria bem produtiva e interessante). Apesar de tudo, espero que você encontre em outros vídeos (já postados ou futuros) mais pontos de concordância do que de discordância! 😀
Esse Everet criticou um linguística famoso americano que não me lembro o nome. Precisa de critica, mas precisa de ver os fundamentos e evidências. científicas. A ciência está aberta.
Foi o Noam Chomsky. Essa briga merecia um vídeo próprio. No final das contas, acho que ambos acabaram baixando um pouco demais o nível e a coisa descambou pra briga de ego. Mas, do ponto de vista puramente teórico e científico, acho que dá pra sacar de qual lado eu fico nessa história! rs
@@andremachadolinguistica, muito obrigado por ter me lembrado. Eu posso sugerir que você faça um vídeo sobre essa questão? Acho que os seguidores vão gostar.
Difícil de enganar pessoas de humanas, que tem outro método científico. Debate com o Guilherme sobre isso, por favor. Não adianta, a ideologia está presente atey as hipóteses cientificas e na produymassiva de papers atuais, que tem o viés da produtividade, e nayda qualidade do paper, como diz o Prof. Dr. , neurocientista, Miguel Nicolis. Sua explanação científico está ótima, para um matemático, não para as Ciências Humanas.
Discordo pouco. Bom vídeo. Acredito que a língua não necessariamente molda sua maneira de ver o mundo, mas ela é ou não um limitante e um mediador da profundidade das suas expressões. Expressão é linguagem, e tua consciência do mundo é mediatizada por ela. Eis que a linguagem molda tua maneira de pensar. Esta afirmação não é negacionismo de forma alguma. É uma afirmação plausível.
Em um momento do vídeo, quando você exemplifica a forma como expressamos temporalidade, você diz que as diferenças não tem a ver com a língua, mas sim com convenções culturais. Mas as línguas também são convenções culturais, não são um dado da natureza, não estão impressas no nosso DNA ou coisa do tipo. Gostaria que você explicasse melhor esse trecho, por favor.
Nossa cai aqui de paraquedas, mas amei o vídeo! Realmente faz total sentido, não é porque em chinês não existe gerúndio na fala ou escrita, que eles não têm a ideia de que "alguém está fazendo algo" naquele momento... Por exemplo, se alguem disser "o que você faz agora?" Transmite a mesma mensagem que "o que você está fazendo? Às vezes caímos nessas falácias e nem percebemos que no próprio Brasil há tantas formas diferentes de falar, e nem por isso temos compreensões distintas de uma mesma realidade por conta disso
Mas da maneira como você coloca parece que a lingua possui uma fixidez metafísica eterna, como se todos os povos de todas epocas e lugares, só por usarem uma lingua, teriam a mesma concepção de mundo, o mesmo mundo. Não acho que o termo correto seja "determina", mas "condiciona", e muito, assim como a economia, a religião etc. A lingua muda assim como a moral, a religião, e o próprio sentido das palavras muda. Isso aparece em varios filósofos como Wittgenstein, Heidegger, Nietzsche. Houve um ocorrido de quando o homem pisou na lua, em 1969, heidegger escreveu um texto que depois ficou conhecido, ele diz que o homem na epoca afirmava ter descoberto o lado escuro da lua, o que era um sonho e mistério desde a epoca medieval, mas que havia um enorme engano nessa ideia. A lua para o homem medieval era algo tão absolutamente diferente, havia nela um simbolismo tão diferente do homem moderno que nem poderia ser feita essa comparação. Outro texto bastante conhecido na filosofia, considerado um ponto de virada no seculo 20, é "Sobre sentido e referencia" de Frege. Esse texto distingue varias coisas que a gente não percebe mas que se sobrepoe. Uma coisa é o ente no mundo, outra é o vocabulo que usamos para no referir a ela, outra bem diferente é o sentido que ela tem. Todos esses niveis não possuem nenhuma relação de necessidade um com o outro, de modo que tudo depende da cultura, do tempo e do lugar onde a lingua é falada. De um ponto de vista estritamente filosofico, na verdade, não é possivel determinar com claresa a diferença entre linguagem e realidade. "Os limites da linguagem são os limites do mundo", outra frase conhecida do Wittgenstein. Esse debate é longo, dificil e cheio de nunaces, e acho que sim a linguagem condicona a visão de mundo e o pensamente (não determina), mas condiciona, mas não de modo necessário e absoluto.
Mas veja que você já está levando a discussão para um outro nível. A cultura, materializada nas diversas formas de linguagem, influenciar o pensamento, é uma coisa. Dizer que certas características estruturais e lexicais de uma língua fazem com que seus falantes sejam incapazes de articular certos conceitos, como costumam fazer por aí, é outra história.
Não existe uma palavra única que sirva para todos os contextos em que a gente usa "saudade", mas é perfeitamente possível expressar em inglês todas as ideias que a palavra "saudade" passa, usando palavras e construções frasais distintas 🙃
Se você entender inglês, um ótimo começo é o vídeo "LIES we believe about language", do canal "languagejones ", que é um bom complemento a esse vídeo meu. Numa linha de argumentação oposta, está o livro "Through the Language Glass", do Guy Deutscher. Mas eu particularmente iria direto para o livro "The Language Hoax", do John McWhorter, porque ele vai abordar as ideias do Deutscher e dos Everett (pai e filho), mas já explicar o porquê de elas serem problemáticas. Em português é mais difícil, mas minhas fontes mencionaram o livro "Relativismo linguístico ou como a língua influencia o pensamento", de Rodrigo Tadeu Gonçalves. Eu não li ainda, mas disseram que é um trabalho bem ponderado. Mas, se me permite adiantar dois pontos: a) a língua não determina e não molda o pensamento, a questão é que existem, sim, alguns "glitches" que a língua causa na cognição (mas esses glitches e pequenas falhas de processamento são bem menos interessantes e impressionantes do que o pessoal faz parecer), e b) se você topar com qualquer coisa da Lera Boroditsky, fuja. Espero que isso te ajude! ☺️
Não gosto de poemas. Nunca entendi o que eu lia, nunca consegui escrever e não gosto de recitar, não tenho carisma pra isso. Sobre esse papo de que os idiomas podem transformar nossa vida, pois é, sempre ouvi isso, mas nunca levei a sério, talvez porque não sei falar nada.
Justo! A gente não é obrigado a gostar de tudo . Pra algumas pessoas, poesia simplesmente não dá aquele barato, e não há nada de errado nisso. Eu acho que idiomas podem transformar nossa vida no sentido de oportunidades de educação, trabalho, socialização, mas não nesse sentido de "ganhar uma nova alma" ou coisas do tipo. Obrigado pelo comentário!
Exatamente. Não é porque vai a favor do que a gente já pensa, porque é uma ideia fofa ou porque se encaixa na narrativa que a gente quer defender que é verdadeiro e mereça ser divulgado.
Excelente!
Qualquer elogio vindo de ti tem um peso enorme, obrigado! ❤️
Manda um vídeo de um de vocês dois sobre a língua Mura-Pirahã. Tem tudo a ver com esse vídeo do André
Excelente? Não. Isso é exagerado demais. O sujeito pegou uns 2 casos particulares pra refutar uma idéia que chamou de bobagem. Isso NÃO é excelência.
Excelente? Não. Isso é exagerado demais. O sujeito pegou uns 2 casos particulares pra refutar uma idéia que chamou de bobagem. Isso NÃO é excelência.
Mais uma prova de que, entretenimento sempre vai vencer ciência, e pseudociencia é entretenimento.
Essa falácia e fake news foi disseminada por uma grande rede de jornalismo, a BBC.
Ótimo vídeo, como sempre.
Pois é. Falar sobre a matéria da BBC nem era algo que eu planejava no vídeo, mas as circunstâncias me forçaram! rs Obrigado pelo elogio!
Mas é fake news ou uma possibilidade de interpretação distinta? Inclusive parece ser essa a abordagem do vídeo.
Chamar de fake news o trabalho de outros cientistas não deveria ser instigado.
Basta dizer "minha abordagem científica é diferente. Eis os nossos argumentos."
Essa BBC é horrivel
@@BruRobson Editarei o comentário, mas eu digitei o termo "fake news" por ser uma abordagem sem muita evidências que uma rede jornalística gigantesca divulgou, fazendo muitos acreditarem que era uma verdade absoluta, basta olhar os comentários.
O título da matéria (escrita e em vídeo) da BBC induzem ao erro. A teoria de que a língua DETERMINA o pensamento já foi desmentida há muito tempo e não é mais aceita por ninguém com um mínimo de bom senso. O que ainda existem são pesquisas mostrando coisas na linha de "falantes de russo conseguem classificar um objeto como sendo ciano ou azul uma minúscula fração de segundo mais rápido do que falantes de inglês, para os quais a diferença entre ciano e azul não é comumente expressa no idioma materno". Mas veja que isso, além de muito menos bombástico e chamativo, não quer dizer que quem fala inglês seja incapaz de fazer a mesma coisa. A língua determina o pensamento, como diz a chamada da BBC? Não. A língua influencia o pensamento? Em alguns pontos, sim, mas não da forma como as pessoas pensam - e até a roupa que você está usando pode influenciar seu pensamento, vide os trabalhos sobre enclothed cognition.
A língua pode ter influência no seu pensamento mas a língua depende dos falantes e não o contrário. Senão a gente estaria falando a primeira língua do mundo sem possibilidade de mudá-la porque a gente dependeria dessa língua e não seria possível entender outra. Todos sabemos que não é assim. Aprender uma nova língua pode ajudar você a ver como outras pessoas com uma cultura diferente vêm o mundo. Mas a língua sempre está mudando graças ao pensamento dessas pessoas. A gente faz a língua e não o contrário.
"A gente faz a língua e não o contrário." Exatamente isso!
@@andremachadolinguistica não seria uma relação dialógica?
Eu acredito que existe os dois lados. Não é todo mundo que questiona as línguas e suas construções. e essas construções reforçam certas estruturas
A premissa do filme "A chegada" é essa, que a língua pode modificar a forma como pensamos. No filme isso vai bem além, a ponto de a protagonista conseguir enxergar o tempo de uma forma completamente diferente.
Admitidamente, encontrar o seu canal nesse finalzinho de 2024, foi sem dúvidas o melhor ocorrido do ano nessa internet pra mim. Eu vi primeiro o vídeo Ideologia versus Ciências, em que você apresentava um vídeo da Rita von Hunty. Anos atrás eu via aquele vídeo da Rita e fiquei fulo da vida, pois graficamente, não tinha diferença alguma nas cores (sim, eu havia testado com o GIMP e havia me questionado sobre muitos pontos que você trouxe a respeito do método empregado nos supostos estudos), eu sabia que tudo não tinha embasamento como era apresentado, pois conhecia o documentário da BBC de onde ela tirava as ideias e ainda tive que discutir com meu ex-namorado sobre isso (foi horrível). Amo a Rita, acompanho o canal com muito gosto e adorei ver aqui em seu canal suas colocações. Não se trata de "atacar gratuitamente isso ou aquilo", mas apenas de pensar criticamente um pouco mais. Também adorei o presente vídeo, pois como falante nativo de mais de 4 línguas (isso não implica dizer que sou bom escritor de nada, eu só sei falar, escrever são outros quinhentos) eu também compartilho desse questionamento poético sobre "saber outro idioma muda sua visão de mundo", certamente amplia muito e enriquece sobremaneira, mas há limites. A propósito, o conselho final com a Björk foi um bálsamo. Obrigado pelo trabalho.
Puxa, que delícia ler um comentário como esses! É tão bom sentir que estou conseguindo passar a mensagem. Não é porque estamos no mesmo lado que precisamos fazer vista grossa para os deslizes, e apontar os eventuais erros não é o mesmo que atacar a pessoa ou virar a casaca. Meu círculo social felizmente é bem compreensivo e razoável, mas se os comentários me acusando de bolsonarista já geram certa frustração, imagino como você deve ter se sentido, lamento muito. Espero que você se sinta um pouco acolhido - mas vou admitir que tenho uma invejinha boa por você ter um repertório linguístico tão vasto... quatro línguas nativas?! Quem me dera! Obrigado pelo comentário! ❤️
Ótimo video. Um complemento é o debate entre Geoffrey Pullum e Guillaume Thierry que ocorreu na Universidade de Groningen sobre a relação linguagem e pensamento. É bem interessante, pois enquanto o Pullum é um cético de qualquer variação da hipotese Sapir-Whorf, enquanto o Thierry já defende uma versão mais fraca. Ambos apresentam as evidencias e argumentos bem sólidos, recomendo!
Valeu pela recomendação, vou procurar!
Olá André. Achei seu vídeo interessantíssimo pelo combate a vertente idealista da linguística moderna (e pós-moderna) cujo paradigma para a percepção do mundo é uma mediação Absoluta bizarra operada pela linguagem. Gostaria de saber as tuas referências teóricas, que são aparentemente construtivistas, tanto na filosofia quanto na linguística. Vejo que você não cai no formalismo de operar a cisão entre representações e conteúdos dessas representações (se posso me expressar assim), de forma a haver um todo de elementos formais sintáticos sobredeterminando o discurso, cujo contexto histórico e cultural é essencial. Um abraço e aguardarei novos conteúdos!
Obrigado pelos elogios, João! Eu preciso pensar em como envelopar essas questões, por assim dizer... talvez um vídeo de perguntas e respostas quando atingir um número X de inscritos? Pensando agora, é até engraçado, minha primeira iniciação científica na faculdade foi em Análise do Discurso de linha francesa, Michel Foucault na veia. Depois transitei pela semiótica de Peirce e Greimas, mas acabei caindo na fonética e na fonologia, influenciado pelo gerativismo, mas fazendo disciplinas com funcionalistas. No final das contas, acho que mesmo as vertentes teóricas com as quais eu não me identifiquei acabaram me ensinando alguma coisa!
Como um matemático, eu sempre fico puto quando alguém coloca a espiral de fibonacci numa foto de uma flor e brada "a matemática é perfeita"... Não tem o mais puto nexo.
Então sempre que vejo explicações muito simples que permitem um leigo em uma área X entender uma "verdade universal" eu já truco.
Mas eu tenho a dúvida genuína sobre se seres humanos em regiões diferentes desenvolvem linguagens diferentes e interpretam o mundo de forma diferente.
Existe um teorema de Shannon que afirma que qualquer canal de transmissão de informação é ruidoso, i.e., pra levar informação de um ponto A até um ponto B, necessariamente ocorrerá uma forma de corrosão.
Por exemplo, eu digitando isso agora estou supondo que todos que leiam essa mensagem, conheçam as palavras, saibam interpretar o conjunto... E pode ser que alguém intérprete "errado".
Mais ainda, eu estou supondo que que o meu pensamento está representado nessas palavras, mas eu não tenho certeza absoluta nem mesmo disso.
Visto que as línguas coisas que nos ensinam e nos entendemos a partir de inferências, me parece bem razoável que a visão de mundo de outra pessoa que nasce num contexto totalmente diferente seja de fato diferente.
Eu criei essa balbúrdia de argumento quando me disseram que só o português conhece o sentimento de "saudade".
O quanto disso que eu falei se sustenta? Ótimo vídeo.
Não sei se você se recorda mas alguns anos atrás hoive uma crise econômica na Grécia e muitas pessoas acusarem Ângela Merkel de ser muito intransigente em ajudar os gregos com um empréstimo, segundo o jornalista William Waack o motivo disso é que em alemão a palavra dívida tem uma origem ou significado muito próximo de pecado e culpa, então ele explicou que essa era uma questão quase que religiosa para Merkel, será que ele também foi nessa linha de que a língua molda a nossa visão de mundo?
É mais plausível dizer que o idioma alemão reflete essa perspectiva cristã da dívida, não que ele é a causa
Eu nunca tinha visto argumentos científicos a favor dessa tese e, como cético, nunca comprei. Mas eu cogitava que fosse real e sempre me perfuntei, não sobre esses exemplos de poesia do idioma, mas sobre a "filosofia alemã". Já ouvi o argumento de que falar alemão nativamente dava ferramentas diferentes para analisar o mundo e, portanto, tantos filósofos alemães renovaram a filosofia com perspectivas novas. Algo meio "a cognição de quem pensa em alemão é diferente".
Ou também a coisa de alemães e japoneses terem sido os melhores na ciência e tecnologia em certos períodos de tempo. E agora os chineses também. Daí vem o argumento "é porque o idioma deles é mais complexo, aí eles tem mentes mais complexas capazes de entender e criar coisas também mais complexas."
É a mesma lógica também.
E confesso que ISSO, não a baboseira poética, me deixava bem encucado.
Nossa, não. Até porque a complexidade de um idioma é SEMPRE relativa, nunca absoluta. Que bom que você nunca acreditou totalmente nisso!
@andremachadolinguistica exatamente.
Ademais, obrigado pelo vídeo. É o primeiro que eu vejo e já me inscrevi!
Ainda de acordo com o nobre Geraldo Cardoso Trevisan (GPT para os íntimos):
Etimologia e Significado
Origem Linguística:
A palavra atenção vem do latim attentio, derivada do verbo attendere, que significa "inclinar-se para", "voltar-se a" ou "estar atento".
Ad-: prefixo que indica "para" ou "em direção a".
Tendere: verbo que significa "esticar", "tender" ou "inclinar-se".
Significado Original:
No latim, a ideia era de uma concentração ou direção da mente para algo específico, como ouvir ou observar com cuidado.
Significado Atual:
Em português, "atenção" refere-se ao ato de focar a mente ou os sentidos em algo, seja para aprender, observar ou interpretar.
Também implica cuidado, vigilância ou consideração em relação a algo ou alguém.
Origem Histórica e Social
Primeiras Aparições Documentadas:
O termo attentio aparece em textos latinos clássicos, especialmente filosóficos, para descrever o esforço mental de focar-se em um conceito ou ideia.
Contexto Cultural e Filosófico:
Na filosofia grega e romana, a atenção era associada à disciplina mental, um elemento central no estudo da lógica, ética e retórica.
O conceito de atenção como cuidado também aparece em escritos religiosos, como na Bíblia, onde muitas passagens pedem que o fiel "preste atenção" aos ensinamentos divinos.
Evolução Cultural:
Na modernidade, a atenção ganhou novas dimensões com o advento da psicologia, sendo vista como um dos pilares da cognição e aprendizagem.
Evolução Linguística
Transformações Fonéticas e Semânticas:
A palavra manteve sua forma e significado essencial desde o latim, mas ganhou aplicações mais amplas em diferentes campos, como a psicologia, comunicação e marketing.
Adaptações em Outras Línguas:
Espanhol: atención.
Italiano: attenzione.
Francês: attention.
Inglês: attention.
Em todas essas línguas, o significado básico permanece o mesmo, com variações sutis no uso cotidiano.
Sinônimos e Antônimos
Sinônimos:
Foco.
Observação.
Cuidado.
Vigilância.
Consideração.
Antônimos:
Distração.
Negligência.
Desatenção.
Descuidado.
Exemplos de Uso
Uso Cotidiano:
"Preste atenção no que estou dizendo."
Refere-se a ouvir e compreender de maneira ativa.
Uso Emocional ou Afetivo:
"Ele sente falta da atenção dos amigos."
Aqui, "atenção" significa cuidado e consideração emocional.
Uso Profissional ou Técnico:
"A atenção aos detalhes é crucial para o sucesso do projeto."
Refere-se à precisão e vigilância em tarefas específicas.
Uso Filosófico ou Espiritual:
"A atenção plena é um dos pilares da meditação."
Em contextos espirituais ou filosóficos, a atenção ganha o significado de uma consciência presente e focada.
Observações Adicionais
Na Psicologia:
A atenção é estudada como uma função cognitiva essencial para a percepção, memória e aprendizagem.
Dividida em diferentes tipos: seletiva, sustentada, alternada e dividida.
No Marketing e Comunicação:
A palavra adquiriu relevância em estudos sobre como captar e manter o interesse das pessoas em um mundo saturado de informações.
Na Educação:
A atenção é um aspecto central no aprendizado, sendo frequentemente associada a técnicas para aumentar o foco dos alunos.
Kakakaakakkaakaka
Não acho que a língua mude nosso pensamento, mas sim algumas coisas na visão de mundo.
Por exemplo, por mais bobo que possa parecer, a gente vê os dedos da mão e do pé tudo na mesma categoria (dedos), ao passo que um americano talvez os veja como coisas distintas, por ter duas palavras diferentes em seu idioma.
Outro exemplo, é verdade que alguns idiomas consideram verde e azul a mesma cor. Isso não muda a existência dessas cores e seus diversos tons, mas pode mudar algumas formas de ver as coisas.
A verdade é que a língua reflete a visão de um povo, mas não a visão de um povo reflete a língua, por isso ambos estão sempre em movimento.
Esses exemplos que você mencionou são muito interessantes, mas eu diria que eles refletem formas levemente diferentes de categorizar as coisas, enquanto a expressão "visão de mundo" sugere algo mais amplo e mais profundo.
No caso de dedos e finger/toes, o inglês ainda tem a palavra "digit", que engloba tanto fingers quanto toes. Da mesma forma, no português, a palavra "membros" engloba tanto pernas quanto pés. Em português, dizemos que um animal anda de quatro (patas), em inglês, um animal anda sobre quatro pernas. Mas acho difícil argumentar que essas diferenças lexicais entre português e inglês implicam em uma diferença de visão de mundo (ou de animais quadrúpedes). Da mesma forma, com certeza, quem fala inglês não vê conexão que nós vemos entre a manga da camisa e a manga fruta. Mas isso não quer dizer que a forma como a gente concebe uma manga seja muito diferente, concorda?
Sobre a questão do verde e do azul, eu preciso fazer um vídeo sobre isso um dia, mas a única influência que isso vai ter é que em línguas que não diferenciam entre azul e verde os falantes são uma fração de segundo mais lentos em tarefas que envolvam classificar essas duas cores, mas isso não quer dizer que não enxerguem a diferença entre essas cores nem nada do tipo.
No final das contas, essas questões de classificação acabam sendo pequenos "glitches" no cérebro, que não chegam nem perto da influência de aspectos como religião, vivências e até ideologias políticas.
@@andremachadolinguistica Não dá para dizer que as ideologias influenciam a própria língua, cristalizando assim determinadas classificações?
Não acha que o simples fato de terem palavras com significado único em uma língua que em outras não teria uma palavra específica pode ser a prova de que sim, a língua reflete a visão de mundo? @@andremachadolinguistica
@@curiousmind111Acho que é uma relação aprioristica do pensamento de um adulto formado, mas também em movimento já que a língua e viva. E acho que a "visão de mundo" que é expressa por meio das linguas, está menos nas palavras do que no encadeamento semântico delas. Talvez seja aí que uma língua crie um modo único de raciocínio.
O que sempre me trouxe duvidas é a distinção de ser e de estar que os idiomas ibéricos tem. Sempre considerei a possibilidade dos idiomas que não tem a distinção de estados intrínseco e estados temporários do sujeito acabar afetando como ele se vê. Por exemplo, quando diz "i am sad", o "am" é o mesmo que usa para descrever uma característica que você sempre possuiu, como "i am tall", então minha teoria seria que as pessoas de idiomas que não tem essa distinção aderem sentimentos e estados temporários (estar) como características permanetnes (ser).
O que acha?
É uma dúvida válida, mas usarem o mesmo verbo tanto para algo temporário quanto para algo permanente não significa, de modo algum, que os falantes não sejam capaz de diferenciar uma coisa da outra ou sejam menos atentos a isso. Mesmo sem usar dois verbos diferentes, é possível usar expressões que deixem claro que se trata de algo temporário (como "no momento", "agora", ou "hoje"), mas muitas vezes o contexto já é suficiente (mesmo em português, nós podemos perguntar se uma pessoa é triste ou se ela está triste, mas seria estranhíssimo perguntar se uma mulher é grávida). Por fim, se você prestar atenção, vai ver que existem formas diferentes de perguntar que se aplicam a uma situação, mas não a outra. Tanto "What is André like?" quanto "How is André?" usam o mesmo verbo, mas enquanto a primeira frase é usada pra perguntar que tipo de pessoa o André é, a segunda é usada pra perguntar como o André está nesse momento.
Obrigado pela visita, pelo comentário e pela dúvida!
E acrescento também que um fator importante no inglês para saber se esse "to be" é um estado permanente é o próprio objeto. Se é gripe, é dedutível que é um estado necessariamente temporário, portanto sem a necessidade de desambiguar :)
Vlw gente
Mesmo que concordo com os exemplos que você mencionou e nem todas as diferenças entre linguas têm um efeito palpable na realidade. É bem conhecida e estudianda a Hipótese da Relatividade Linguística (HRL), que propõe diferencias em capacidades e formas de interação entre falantes de linguas com estruturas diferentes.
Um exemplo são algumas línguas que não possuem formas de referir números exatos (sistemas um-dois-muitos) como os falantes da lingua pirahã (norte da Amazônia) que não conseguem atingir objetivos em tareas cognitivas que precisam de números exatos.
Outro caso bem conhecido é a palabra chave em alemão (schlüssel), que é masculina, ao contrário do português e espanhol. Existem estudios que acreditam que essa percepção masculina traz consigo que destaque outras características como a fortaleza, qualidade própria do matérial ferroso com que é fabricada. Esso não acontece em linguas que não classificam a palavra como masculina.
Acho que a sobre simplificação dos titulares que colocam jornalistas e imágenes que compartilham nas redes sociais desvirtúa uma área de estudo muito interessante.
(O português não é minha lingua primaria, peço desculpas se cometer alguns erros)
Não se preocupe com os possíveis desvios no português, você escreve bem :)
Dito isso, esse(s) experimento(s) sobre chave e ponte são clássicos, mas também são experimentos bastante problemáticos e não tiveram seus resultados reproduzidos, até onde eu me lembro (eu quero abordar em um vídeo no futuro mas, até lá, se você entender inglês, procure o vídeo The Truth About Grammatical Gender, do canal Yuval Ben-Hayun). Sobre os Pirahã, esse exemplo fala menos sobre a língua do que sobre a cultura dessa tribo - mas, de novo, é algo que pretendo abordar no futuro :)
Na medida que o pensamento ocorre por palavras e as palavras variam entre os idiomas, o pensamento também vai variar - como varia entre pessoas do mesmo idioma de origem, mas com cargas de leitura e vocabulários diversos.
O contexto histórico foi mais importante para o alemão ser um idioma com produção filosófica de peso do que a natureza do idioma em si - afinal, antes de Leibniz o alemão não era conhecido por ser "idioma de filósofos" - fama que foi pegar mesmo depois de Kant...
Então... Mas não é totalmente verdade que o pensamento ocorra por palavras, não. Tanto é que existem pessoas que sequer têm monólogo interno, e pra elas dizer que "a gente pensa através da linguagem verbal" seria esquisitíssimo.
O pensamento não ocorre por palavras. Na realidade, o que se dá é o contrário disso. Se não há pensamento, não há linguagem, pois a finalidade da linguagem é a expressão do pensamento.
@@andremachadolinguistica "na medida"
Vc já ouviu falar sobre um estudo que mostra dificuldade ou facilidade de perceber a diferença entre matizes de cores entre uma sociedade dum pais africano e outros países? Como vc explicaria se não tiver relação com a linguagem?
Semana passada lancei um vídeo abordando esse estudo, pode procurar o meu vídeo "Fuja de Ciência Fajuta", vai te elucidar um pouco 🙃
Vi seu vídeo sobre um vídeo da Rita, faço filosofia e as primeiras disciplinas eram teoria do conhecimento, há outros vídeos da Rita equivocados também. Parabéns, amigo. Mais um seguidor. Bom trabalho.
Valeu, Leonardo! Espero continuar produzindo conteúdos dignos do seu tempo e da sua atenção. Sucesso!
Adorei o vídeo! Tu poderias fazer um sobre linguagem neutra? Já ouvi muito o argumento de que nossa sociedade é transfóbica porque o português é generificado binariamente, e também machista pois o gênero masculino "predomina" sobre o feminino para generalizar coisae (tipo, quando queremos nos referir a uma turma de escola com vários meninos e meninas, dizemos "os alunos" para englobar todo mundo, mesmo as alunas meninas), o que não faz muito sentido pois temos sociedades machistas com línguas em que o gênero feminino faz esse mesmo papel.
Ótimo trabalho!!
Santo algoritmo que finalmente me apresentou um canal tão bom quanto o seu! Acabei de terminar o penúltimo ano de letras. Nunca me apresentaram a ideia de que a língua dita especificamente nossa forma de ver o mundo, mas algumas declarações mais rasas e distraídas já me fizeram concluir isto de certa forma. É que é tão bonito acreditar nisso, né? Bom, se alguma ideia nos deixa com mais certeza do que com dúvidas, ela provavelmente não é confiável, que bom que reparei nisso agora.
Eu caí aqui de paraquedas, sou totalmente ignorante, mas acho que nessa questão não é a língua em si, mas a ideia que ela traz, tornando mais fácil formular pensamentos, quando aprendi muitas palavras novas, eu tive maior capacidade de formular ideias e expressar mais facilmente, como você disse, a gente absorve a cultura por tras, a ideia por tras e transforma aquela ideia em palavra/códigos como uma fórmula.
Sei lá, daqui a pouco to falando besteira aqui, mas muito bom o conteúdo, vou pesquisar mais sobre isso.
Excelente vídeo. Tenho uma dúvida: como fica a questão do ser/estar no inglês? Para nós, falantes de língua latina, temos claramente essa diferença marcada. Como expressar essas duas coisas no inglês? Isso não seria um exemplo de forma diferente de ver o mundo? Um abraço. Nao conheço o inglês profundamente, ainda.
É mais simples do que parece! Mesmo sem usar dois verbos diferentes, é plenamente possível diferenciar uma coisa da outra. É possível usar expressões que deixem claro que se trata de algo temporário (como "no momento", "agora", "hoje"), mas muitas vezes o contexto já é suficiente (nós podemos perguntar se uma pessoa é triste ou se ela está triste, mas seria estranhíssimo perguntar se uma mulher é grávida). Por fim, se você prestar atenção, vai ver que existem formas diferentes de perguntar que se aplicam a uma situação, mas não a outra. Tanto "What is André like?" quanto "How is André?" usam o mesmo verbo, mas enquanto a primeira frase é usada pra perguntar que tipo de pessoa o André é, a segunda é usada pra perguntar como o André está nesse momento.
Obrigado pela visita, pelo comentário e pela dúvida!
Entendo a critica a visão apresentada, mas partindo de outros pontos de vista, será que a linguagem não molda o sujeito? Não sou da área especificamente de linguagem - na verdade sou mais da área da filosofia. Ultimamente venho pesquisando muito sobre essa questão da linguagem afetar ou não o modo de pensar do sujeito… Ainda não tive uma pesquisa muito profunda frente ao tema, mas posso trazer uma reflexão de uma filosofia que me parece muito sólida argumentativamente.
Ao partir de uma análise foucaultiana do discurso, é argumentável que o poder está e sempre esteve historicamente ligado as relações de poder nas sociedade. Isto é, Foucault tenta compreender como a sociedade está sendo moldada (ou construída) pela linguagem, que por sua vez reflete nas relações de poder existentes.
Eis que me surge a ideia de que, partindo do pressuposto de que a sociedade está sendo moldada pela linguagem, é que somos sujeitos convivendo em sociedade, não estaríamos, portanto, sendo influenciados pela própria linguagem, pelo próprio discurso?
Cabe aqui uma observação a partir da obra de George Orwell “1984”. No final do livro, é apresentado um apêndice explicando o conceito de Novafala imposto pelo Grande Irmão. Há quem considere essa parte do livro “inútil”, mas eu vejo como uma ótima fonte para reflexão sobre esse tema.
A Novafala é um idioma fictício criado por Orwell, e o objetivo dessa linguagem desenvolvida pelo governo na ficção era a condensação e remoção de certas palavras, conceitos, ou de alguns de seus sentidos, com o objetivo de restringir o pensamento do indivíduo, e que assim, ele não chegue a ter um pensamento crime, isto é, não tenha a possibilidade de pensar algo contra o governo - uma vez que não há uma gramática que possibilite o sujeito pensar nisso.
Essa parte do livro nos apresenta uma ideia muito interessante: A linguagem não como uma ferramenta meramente de comunicação, mas como estruturação do próprio pensamento. Assim, surge uma reflexão interessante… Em que medida a linguagem influencia o pensamento (e vice-versa)? Orwell sustenta, na sociedade dominada pelo Socing e pela Novafala, a hipótese de que a linguagem limita a extensão na qual os membros dessa comunidade linguística podem pensar sobre os temas.
Como o senhor sendo Dr. na área de linguagens, gostaria de entender melhor sua opinião sobre o tema…
Faz muito tempo que não me volto ao Foucault (desde a minha primeira iniciação científica na faculdade, e isso foi há mais de dez anos, estou velho!), mas se bem me lembro, a noção de enunciado no pensamento do Foucault não se confunde com a noção de enunciado linguístico, justamente porque o enunciado seria um tipo de "força" que permite que enunciados linguísticos se formem. Outro ponto é que (de novo, até onde eu me lembro) a noção de linguagem nem sempre corresponde à noção de língua. Da perspectiva de autores como o Foucault e do Roman Jakobson, costumes, vestuário, culinária, comportamentos, tudo isso pode ser interpretado como linguagem e, portanto, discurso.
Se você disser que o indivíduo é, de certa forma, moldado pelos enunciados e pelos discursos que o atravessam, eu vou concordar, desde que você se lembre que enunciado e discurso não se limitam à (nem se confundem com) linguagem verbal - e, ainda assim, veja que isso é bem diferente da postura de língua moldando pensamento apresentada na matéria da BBC e nos textos que eu abordei.
Sobre a Novafala... ela parte de tantos pressupostos errados e de uma visão tão eurocêntrica que não empolga nem como ficção. Por exemplo, o fato de uma mesma forma da palavra poder ser usada como verbo, substantivo ou advérbio não implica, de modo algum, algum tipo de "simplificação" do pensamento dos falantes. Da mesma forma, o fato de não haver uma palavra para certa ideia nunca impediu que as pessoas concebessem conceitos novos e criassem novas palavras pra esse conceito, então a ideia de "se não há uma palavra para X, não se pode pensar em X" não faz o menor sentido. Sendo bem sincero, eu fico pasmo que alguém que falava tantas línguas quanto o George Orwell tenha aceitado esse tipo de raciocínio grosseiro (mas paciência, a linguística como ciência era extremamente recente na época dele, e pra algumas pessoas a Novafala funciona enquanto ficção). Se você tiver interesse, procura o meu vídeo "Sua forma de falar te torna menos inteligente", que aborda as ideias que norteiam a Novafala mesmo sem endereçar a Novafala diretamente. Espero ter ajudado!
legal! obrigado pelo esclarecimento 👊
"Faire attention" geralmente pode ser traduzido como "prestar atenção", sim.
Vídeo muito bom! 👏🏽🤩
Ótimo canal, ótimo vídeo
_Vídeo muito lindo e reflexivo amei. E cheio de lição de vida no dia a dia e na linguística.❤_
Muito obrigado pela visita e pelo elogio! ❤️
Abraços meu querido, falantes por todos nos que somos da lingüística.
E nos separastes dos leigos e da falsa ciência, a pseudolinguistica.
Mantenha essa precisão cirúrgica.
E chame Alomorfe, Piter Keo e Glossonauta e falem sobre Glotocidio em suas diversas formas e sobre pseudolinguistica em suas múltiplas máscaras e faces.
Abraços.
❤
Vontade não me falta! Já tem quatro vídeos com o Glossonauta aqui no canal, mas torço pra que o Alomorfe e o Piter topem fazer uma (ou várias) colabs um dia! Abraço! ❤️
@@andremachadolinguistica Chame eles 3 contigo, porque cada um explorando uma parte do tema para os demais comentarem fica melhor.
Pega os temas sugeridos por mim e divide em 4 partes iguais para cada participante na colab futura.
Vai ser um trabalho maravilhoso e profundo.
❤
A tipologia linguística é algo tão vasto e complexo, cheia de divergências nas próprias convergências que supostamente se encontram. Mas ainda assim, partes do mundo muito longe umas das outras possuem similaridades em sua morfosintaxe, fonologia e assim por diante. No fim, o legado de Chomsky continua. A gramática universal é a realidade. Línguas são complexas, mas diferem de forma sistemática.
É tipo quem fala interruptor e apagador, um interrompe a corrente elétrica e o outro apaga a luz.
Parabens pelo conteudo, vc é necessário!
Se a língua determinasse o modo como enxergamos a realidade, seria impossível dublar um filme.
Só porque não há uma palavra para definir a cor azul, por exemplo, não significa que o azul não esteja ali.
Muito obrigado, André. Confesso que recentemente vi este video da BBC e achei bobo, mas achei pelos motivos errados. Eu achava que era algo óbvio que novas línguas trariam novas visões de vida. Daí, vim aqui e aprendi que a ciência serve exatamente pra isso, pra nos mostrar que eventualmente o senso comum é falho. Muito obrigado!
Achei que o exemplo comentado seria sobre certas linguas terem mais palavras para descrever tons de branco, etc
Caí aqui justamente por conta dessa polêmica do Caleb, obrigado por mencionar em seu vídeo, adoraria um vídeo aprofundado sobre o assunto!
Que bom que o vídeo atingiu quem eu esperava! 😁
Pode ter certeza que um vídeo aprofundando vai sair, porque até drag queen comunista brasileira andou falando besteira sobre esse assunto!
Este vídeo me traz vida, me dá esperança na humanidade.
Muito importante esse fenômeno de fetichização como foi colocado. Não tinha pensado nisso!
Eu estudo mantras e estou me preparando para iniciar o estudo do sânscrito (gramática) ano que vem. E o que percebo é que quando estou estudando a tradução de algo em sânscrito, os professores acabam tendo que contar histórias e desenrolar explicações para que a gente possa entender o sentido daquela palavra - é aí que eu percebo que entram a cultura e os diferentes modos de pensar da tradição védica em relação à cultura ocidental, ou nossa cultura brasileira de modo geral. Eu entendo que acabam sendo essas histórias e explicações que ajudam a ampliar minha visão de mundo... É o contexto e não a palavra em si.
Uma outra coisa que ouvi os meus professores falarem, é que o sânscrito é uma língua que deixa a mente afiada. Há vários modos, declinações, sei lá mais o quê. Um monte de coisa que temos que saber de cor. Talvez seja um tipo de língua que vá treinar os neurônios e o pensamento lógico - indiretamente seria uma ginástica mental.
Continuo achando línguas fascinantes, mas de fato, precisamos ter esse cuidado de não deixar os poetas mentirem para nós!
Adorei a discussão!
é tanta fake news linguística que aparece que eu quase explodo. As que eu mais escuto são essa aí do vídeo e tbm que português é a língua mais difícil do mundo
Oi, eu sou leigo no assunto. Mas se as línguas não distinguem o pensamento, então por que tem tantas confusões linguísticas? Ex: O termo 'Geist' em Alemão remonta a espírito ou ideia, mas as pessoas pensam que o livro do Hegel "Fenomenologia do Espírito" (Phänomenologie des Geistes) remonta a fantasmas, pessoas mortas ou almas. Por que isso ocorre?
Muito legal seu vídeos.
O pensamento é uma força muito mais inventiva do que a linguagem.
Lembro de um professor apontando sobre o mar em francês que é feminino e em português que é masculino. Como essa visao representação linguistica e simbólica implica no modo como nos relacionamos com esse mar.
Nos exemplos do vídeo fez muito sentido. Mas quando pensei nas representações a partir do genero das palavras me pareceu fazer algum sentido.
Poderia me indicar uma leitura sobre o assunto?
Nossa, em português acho difícil, mas vou consultar minhas fontes aqui. Você consegue ler em inglês?
De todo modo, obrigado pela visita e pelo comentário!
@@andremachadolinguistica consigo sim. Pode mandar
Bru, perdoe a minha demora, acabei me perdendo aqui nos comentários mas não esqueci o que você pediu. Um ótimo (e rápido) começo é o vídeo "LIES we believe about language", do canal "languagejones ", que é um bom complemento a esse vídeo meu. Numa linha de argumentação oposta, defendendo a influência da língua na cognição, está o livro "Through the Language Glass", do Guy Deutscher. Mas eu particularmente iria direto para o livro "The Language Hoax", do John McWhorter, porque ele vai abordar as ideias do Deutscher e dos Everett (pai e filho), mas já explicar o porquê de elas serem problemáticas. Em português é mais difícil, mas minhas fontes mencionaram o livro "Relativismo linguístico ou como a língua influencia o pensamento", de Rodrigo Tadeu Gonçalves. Eu não li ainda, mas disseram que é um trabalho bem ponderado. Mas, se me permite adiantar dois pontos: a) a língua não determina e não molda o pensamento, a questão é que existem, sim, alguns "glitches" que a língua causa na cognição (mas esses glitches e pequenas falhas de processamento são bem menos interessantes e impressionantes do que o pessoal faz parecer), e b) se você topar com qualquer coisa da Lera Boroditsky, fuja. Espero que isso te ajude! ☺️
@@andremachadolinguistica muito obrigado pelas sugestões de caminhos. Irei seguir com certeza. Abraço.
Pergunta honesta. Se o signo é arbitrário (Saussure), seu sentido é social, certo? Então esse signo vai refletir (expressar) e refratar (não expressar) coisas (Volochínov), não? Nesse sentido, a linguagem expressa uma maneira de recortar arbitrariamente o mundo, mediando-o, e não sendo um meio transparente e neutro de representação, não? Se sim, a linguagem recorta o mundo, e diferentes linguagens recortam o mundo de formas distintas, partindo de uma visão materialista. Tem algum non sequitur aqui? Se tudo aqui proceder, a língua modula o pensamento, não? Obrigado pelo vídeo e pelas provocações! Parabéns!
Boas provocações, vamos lá! O mais importante, cuidado para não confundir linguagem com língua. A cultura certamente influencia nossa percepção de mundo, e a cultura se materializa e se transmite através de linguagens (não só a verbal, mas o vestuário, os gestos, etc.). Reconhecer isso é muito diferente de dizer que a estrutura morfológica, fonológica, sintática e o léxico de uma língua moldam o seu pensamento. Vou te dar um exemplo lexical. O holandês "mapeia" lexicamente o conceito de família de forma diferente do português. Temos "gezin", que se refere ao núcleo familiar, e "familie", que se refere à família de forma mais ampla. Mas veja que o fato de não haver uma correspondência 1:1 no vocabulário não impede que eu conceba e expresse as ideias em português. Da mesma forma, em línguas que não marquem morfologicamente o tempo futuro, eu posso usar outros recursos para expressar essa divisão temporal. Justamente pelo signo ser arbitrário, não dá pra dizer que ele tenha relação direta com a realidade, menos ainda que a língua crie "pontos cegos" na nossa percepção de mundo - isso estaria no domínio da cultura, da ideologia, da religião, mas são processos que independem da estrutura da linguagem verbal em si. Espero que tenha ficado claro! 😅
@andremachadolinguistica ajudou muito! Muito obrigado e, mais uma vez, parabéns pelo canal e pelo trabalho! :D
Não acredito 😭😭 na verdade, que bom que isso não ocorre. A única vez que ouvi sobre isso foi em 1984, do Orwell, e fiquei preocupado sobre a língua moldar a maneira como vemos o mundo (é ficção, mas me deixou com a pulga atrás da orelha). Estudar línguas e as nuances disso é maravilhoso. Continue o ótimo trabalho 🙏
Não se preocupe, 1984 funciona bem como um romance, mas não tem lastro algum na realidade. Obrigado pelo comentário, Alexandre!
Puxa! Que vídeo legal! Parabéns pelo trabalho!
Muito boa a reflexão, André.
A dificuldade em se entender essa reflexão tão nichada, digamos assim, parece adivir do fato de as pessoas associarem língua à linguagem. Esse conceito de lingua, sabem aqueles que são linguistas, não se confunde com a fala e o discurso, sendo portanto produto da atividade humana. De outra perspectiva, bem mais popularizada, o discurso (em toda sua gama de definições) orienta nossa percepção do real, uma vez que veicula os valores/sentidos que atribuimos e compartilhamos sobre o real.
Enfim, caberia um vídeo separando essas noções, tornando mais claro ainda o conceito de língua explorado em sua perspectiva.
Ganhou mais um seguidor.
Boa sugestão, obrigado!
Vi esse vídeo da BBC, fiquei incomodado e alguns dias depois o algoritmo colocou o seu vídeo no meu feed. Obrigado, esse tipo de falácia é disseminado por aí e tomado como verdade, por isso é ótimo ver uma crítica como a sua.
Muito bom! Já compartilhei com amigos linguistas, professores de línguas e poliglotas.
Valeu, Wagner!
Nossa, passei minha vida acreditando realmente que a kingua determinava o pensamento. Muito bom sua visao, gostaria nuito de ver um video seu mais conoleto e comolexo sobre o tema.
Excelente, excelente! A meu ver estão querendo nos empurrar uma forma de compreensão rasa e intencionalmente ideologizada, como se tudo fosse puro viés ideológico. Talvez as pessoas que insistem nesses estudos dessa forma é que vejam o mundo somente pelo viés da ideologia.
Eu entendo que quando uma língua fala de um tempo e outra fala de outra, não é que as duas línguas veem o tempo diferente. Ele é absoluto e igual para todos, mas como um povo (e por consequência, uma língua) estrutura esse tempo diferente é o que se fala de como pensamos. Todos nós pensamos sobre o tempo, mas como estruturamos o tempo é como difere. Eu não acho que um chinês explica e comenta as coisas do mesmo jeito que eu e não digo por individualidade, mas sim por causa da língua. Eu posso falar a mesma coisa que ele, mas não fica natural se eu usar a lógica do português.
Outro exemplo, na China, o tempo é pensado numa linha de baixo pra cima. Em português numa linha de trás pra frente. Claro que se eu falar em chinês sobre o tempo numa linha de trás pra frente, ele vai me entender, mas não vai soar natural. Da mesma forma que eu falar do futuro apontando pra cima em português. Óbvio que vão me entender, mas não vai ficar natural. Acho que esse natural é como a lingua estrutura certos assuntos.
06:12 Mas isso precisa ter uma correlação?
Mesmo que a gente ignore o absurdo que é dizer que um grupo de pessoas é incapaz de perceber a diferença entre passado, presente e futuro, a matéria da BBC sugere causalidade, o que iria além de uma "simples" correlação.
André, como você diferencia 'língua' de 'convenções culturais'? Línguas não são convenções culturais? Existem línguas fora de contextos e convenções culturais?
De certa forma, dependendo de como você entende o termo convenção, a língua pode ser uma convenção (no sentido de ser um fenômeno que surge no convívio social) ou então ter um aspecto convencional (a norma padrão e a gramática normativa são convenções, mas a língua é maior do que isso e não se limita a essas convenções). Não existem línguas fora de contextos e convenções culturais, até porque toda sociedade tem cultura e convenções. E, pensando no caso de línguas que são faladas em vários países e em várias sociedades, como o inglês, o espanhol e o francês, fica claro que uma língua pode estar ligada a mais de uma cultura.
Bem legal seu vídeo. Parabéns pelo canal e pelas explicações. Se você me permite tirar uma dúvida aqui de forma respeitosa: eu concordo com você que a ideia de que a língua que você fala determina o modo como você pensa é meio reducionista mesmo, é de uma simplificação muito grande de todos esses processos, tenta reduzir tudo à língua e à linguagem. Principalmente esses exemplos que você traz, que tentam trazer uma poética. Porém, não podemos fazer afirmações um pouco menos categóricas? Por exemplo, de que a língua que você fala, junto com o local em que você está inserido e falando aquela língua, influenciam o seu jeito de pensar? Note que aqui não sou categórico, não uso a palavra "determinar", porque não gosto muito de determinismos. Porém, creio que a língua pode influenciar as suas construções de mundo também, especialmente no nível ontológico da linguagem. Não é que vai ditar sua visão de mundo, mas vai influenciar ela, em diferentes níveis, de diferentes formas, com diferentes intensidades, etc. Estou viajando aqui? Pergunto tudo isso, de novo, de forma respeitosa, porque de você, e também pq, assim, a língua não é uma forma de cultura também?
Muda sim, ao conhecer conceitos e palavras que eu nem sabia que existe mudou profundamente meu modo de pensar, palavras como lógica e metafísica, agora vejo lógica em tudo, e penso a partir dela. Mas essa é um discussão complexa que não pode ser reduzida dessa forma, como se alguém tivesse a verdade.
Sua forma de pensar mudou porque você aprendeu coisas novas. Foram esses conceitos e esses novos conhecimentos que mudaram sua forma de pensar, não a linguagem em si. Inclusive porque o jargão e as palavras novas que você aprendeu só fazem sentido a partir desse conhecimento novo.
@andremachadolinguistica Se eu tivesse uma língua limitada talvez eu poderia pensar esse novo conhecimento, só que seria mais difícil pensar nele, Mas com novas palavras seria muito mais fácil entender esse novo conhecimento, seria mais fácil construir o raciocínio.
@@andremachadolinguistica é muito difícil pensar coisas que não tem palavras para pensar elas, não é impossível mas é muito difícil, eu posso organizar palavras em uma ordem não ainda pensada, mas uso palavras que já existem. Por essas e mais coisas acredito que a linguagem nos limita, mas não completamente.
@@AlémdaBlackNão é a linguagem que limita, mas o não conhecimento de uma coisa. Quando não se pensa sobre algo, não se tem a palavra.
A palavra "lógica", por exemplo, representa uma ideia específica de algo. O fato de ela vir do grego não torna o grego em si especial,. Afinal, alguém, um indivíduo, precisou pensar nesse conceito antes de criar a palavra, e a partir dele a cultura grega adquiriu esse conceito.
Um tradutor vai entender o conceito e traduzir como achar mais adequado. Considerando como exemplo uma tradução para o português, não há limitação desta língua por ela AINDA não ter uma "palavra" para o conceito,. É possível abarcar um conceito novo na língua portuguesa, não importando a língua original. A única limitação que vejo é a limitação do conhecimento cultural e não da língua em si.
Penso igual.
Acho que você tem que dar uma oportunidade para as ciências sociais. Porque apesar de existirem elementos que são "universais" no serhumano. O contexto social, incluindo a linguagem influencia a maneira como os agentes sociais de um grupo específico pensam, vivem e interpretam a realidade! Isso pode fazer aspectos das cores terem mais importância do que propriamente sons, mas isso não significa que não escutam ou vêem essas características, mas que a relevância desses signos e elementos não tem importância social na mesma intenção que outros!
Boa parte do meu círculo social é das sociais, e minha primeira iniciação científica na faculdade foi estudando Foucault e mais um monte de nomes relacionados 🙃
Pra não deixar a coisa muito longa, só reforço que é importante diferenciar os conceitos de discurso, de linguagem e de língua. A língua é uma linguagem, mas não é a única. Além disso, dizer que o USO que se faz da língua (o discurso) influencia o pensamento é uma coisa, dizer que a estrutura formal do sistema linguístico influencia o pensamento é outra coisa, e bem diferente. Que a cultura, a sociedade, etc influenciam o pensamento, ninguém em sã consciência discorda (acho).
conteúdo maravilhoso!! sem nenhum nó na mente...
vi esse vídeo inteiro e depois o outro que vc recomendou no final e digo que mesmo concordando sim com a maioria dos seus pontos, outros ainda não fazem muito sentido pq parece um exagero de sua parte. não sou estudioso mas na minha cabeça faz todo sentido vc pensar diferente se estiver pensando em outra língua mas isso não esta ligado diretamente a cada pequeno detalhe de cada palavra ou se tem ou não tal tempo verbal, mas sim no contexto geral e na lingua "completa" (não sei se deu pra entender, mas enfim). Se eu começar a pensar numa lingua bem distante do português isso certamente faria com que eu pensasse de forma consideravelmente diferente sobre algumas coisas, não? uma lingua mudar totalmente minha visão de mundo é exagero (até por isso pra mim parece q vc exagera no video, pq está indo contra esses outros exageros) mas no fim alguma mudança de pensamento e de enxergar alguns pequenos detalhes parecem existir
Eu falo japonês fluente e português tbm, e a língua com certeza molda a forma que vc vê o mundo.
A língua é fortemente ligada a cultura e costumes de um povo, dito isso ao vc aprender uma língua que faz parte de uma cultura distinta da que vc tem, é perceptível as nuances entre palavras que tem o mesmo significado.
O significado em si pode ser o mesmo porém a perspectiva sobre o significado que a palavra traz é diferente, e isso de fato molda a forma que vc enxerga o mundo.
Olá! Antes de qualquer coisa, parabéns por ter atingido a fluência, eu ainda estou apanhando no meu processo de aprender japonês! 🥹
Dito isso, aprender uma língua costuma te forçar a entrar em contato com uma cultura que não é a sua, até aqui nenhuma discordância. Mas o meu ponto é que essas "nuances" às quais você se refere a) são, essencialmente, culturais e não linguísticas (como no caso das medidas de tempo e espaço, que eu abordei no vídeo), ou b) refletem usos históricos que se fixaram no léxico quando as palavras sequer queriam dizer a mesma coisa, ou ainda c) são tão difusos que acabam sendo pouquíssimo relevantes. Ninguém em sã consciência diria que o fato de em português você poder "tomar banho" e também "tomar sorvete" reflete alguma relação entre essas duas ações, ou mesmo que isso reflete uma nuance de sentido que a gente encontra no verbo tomar. Influenciar o pensamento, até a temperatura do ambiente e a roupa que você está usando influenciam, mas a coisa é muito mais na linha de você demorar uma fração minúscula de segundo a mais para categorizar a cor de um objeto, bem menos interessante e bombástico do que "moldar a forma que você enxerga o mundo" sugere.
De todo modo, obrigado pela visita e pelo comentário!
@@andremachadolinguistica "culturais e não linguísticas" Mas e tem como separar uma coisa da outra? Não é esse o ponto?
Ja ouviu falar na hipótese de sapir wolf ? Acho que tem algima coisa gaver com essa ideia aí, descobri isso pesquisando sobre depois de ver o filme a chegada, é interessante...
Exatamente isso! Essa hipótese tem um apelo imenso (principalmente pra leigos e pra quem não tem uma base sólida de método científico), como o próprio filme "A Chegada" mostra. Mas ela tem muitas fragilidades, implicações absurdas, e os estudos empíricos que tentaram comprovar essa hipótese são, em geral, muito problemáticos.
Entendo o ponto e há verdade nele, mas não é preto no branco assim. A língua é sim um dos elementos que mais forma nossa percepção da realidade. Assim como temos palavras pronunciadas de forma diferente, com o mesmo significado comum e objetivo a diferentes culturas, como vaca, parede, pedra etc... temos palavras que variam a pronúncia e o significado (conceito) de cunho mais subjetivo, como amor, felicidade e até mesmo deus, palavras que não conseguem ser descritas de forma universal ou material. Essas ultimas sao palavras que, mesmo numa sociedade onde todos falam a mesma lingua e pronunciam essas palavras de forma comum entre si, o significado de cada pessoa para alguma delas vai ser diferente, de acordo com o que ela tem como realidade daquela palavra. Outro bom exemplo é: se nao fosse assim, nao existiriam tantos espantalhos sobre esquerda e direita que formam a percepçao das pessoas sobre o cenário de políticas públicas. Outro exemplo: um daltônico que não consegue ver a cor laranja pode nomear a fruta laranja como quiser, que materialmente ela não vai deixar de ser uma laranja, de fato não é porque ele possui uma limitação perceptiva visual que não permite ver essa cor, que ela deixa de existir, ela faz parte da realidade, mas quem vai provar pra um muçulmano que o conceito, a explicação, de Deus é o mesmo conceito cristão e vice versa. Você já fez 3 ou 2 vídeos sobre esse assunto e continua a espalhar essa informação como verdade absoluta.
Francisco, existe uma nuance aí que você não está levando em conta. Uma coisa é dizer que a língua (e aqui eu me refiro ao sistema linguístico, tempos verbais, flexão morfológica, léxico, etc.) molda o pensamento, e outra coisa bem diferente é dizer que aspectos culturais materializados no uso da linguagem (o discurso) influenciam o pensamento. Ideologia, religião, posturas filosóficas - enfim, cultura - de fato são transmitidas através da linguagem verbal (não só dela, mas também dela) e vão influenciar a nossa visão de mundo. Mas esse fenômeno é independente da estrutura e das características da língua em si. Mesmo pensando em palavras mais subjetivas, como você menciona: pode ser que em uma língua seja necessário usar mais palavras para expressar o que em outra língua é possível expressar com uma palavra só, mas isso não significa que a estrutura de uma língua limite o que se pode ou não expressar nela. Da mesma forma, se você assume que mesmo entre falantes de um mesmo idioma cada um vai ter uma percepção levemente diferente do que as palavras significam, isso só reforça a importância de contextos sociais e culturais e mostra que a estrutura linguística não é capaz, por si só, de determinar a forma como as pessoas percebem a realidade material e interpretam a subjetividade.
@@andremachadolinguistica Então, André, aqui eu falo da língua, que é o termo utilizado para definir todo o sistema linguístico, não apenas da gramática e suas respectivas áreas de estudo que você citou, como a morfologia. Meu ponto não é que a língua consegue por si só determinar a forma como as pessoas percebem a realidade, mas sim que ela está em conjunto e faz parte dos contextos sociais e culturais que moldam o ser humano. O complexo sistema de se formar um pensamento não aborda apenas a língua, também agrega outros fatores fisiológicos, psicológicos e sociais dos seres humanos, ou seja, ao se falar de língua, todos esses fatores, inclusive também o fator do espaço percebido ao redor do ser humano, já devem ser levados em consideração, pois sem eles sequer existiria língua, sequer existiria ser humano. O discurso e tudo o que ele representa para um ser humano, influencia a nossa visão de mundo, e não se classifica e nem é analisado da mesma forma que uma estrutura gramatical, mas está dentro do sistema da língua, que é muito abrangente e conecta todos os elementos do estudo da mesma entre si. Sobre o exemplo que você deu de que uma língua pode ter duas palavras para expressar a mesma coisa que em outra língua é definida por duas palavras, isso existe mesmo e nunca pus em questão. A "palavra", a imagem acústica, o significante que se une ao significado para se formar o signo linguístico não é a questão, visto que são só variações de um mesmo objeto concreto o qual um signo representa. Posto isso, meu ponto é exatamente que a língua, por ser um sistema, com "regras" de funcionamento, na verdade limita o que pode ou não ser expressado por meio de palavras, se não limitasse, não existiria gramática. Nisso, há palavras que possuem maior possibilidade de expressão objetiva do que outras subjetivas. há aqui um reforço da importância de contextos sociais e culturais para determinar visões de mundo, contextos esses que a língua está intrinsecamente conectada.
Sou mais um inscrito. Seus vídeos são todos excelentes, alguns não têm como dar like 👍, não sei porquê.
Obrigado pelo elogio, pela visita e pela inscrição! Vou continuar dando meu melhor por aqui!
Pós estruturalismo. Palavras são construções sociais que reforçam certas estruturas. Se todos os cisneis são brancos então o cisnei preto da Austrália não pode ser um cisnei.
2:27 Poxa, mano! Esse "eu não falo francês mas, pelo que eu vi, parece que" foi osso.
Ué, mas eu não falar francês não me impede de pesquisar o significado e a forma como a palavra é usada, nem de ver o que falantes de francês falam acerca do uso dessa palavra. Foi isso o que eu fiz. 🤔
Desculpe, mas discordo do seu ponto de vista. As postagens que você leu no início do vídeo não têm nada de poético. Eles apenas mostram algo que a linguística cognitiva vem tentando mostrar há 4 décadas: as expressões metafóricas enraizadas na língua vêm das metáforas conceptuais, que, por sua vez, são compartilhadas socialmente (Teoria da Metáfora Conceptual, de Lakoff e Johnson). Você dá a entender (pelo menos entendi assim) que essas expressões estão lexicalizadas a ponto de sua metaforicidade ser nula ou baixíssima, mas já sabemos que não é o caso. Cornelia Muller, por exemplo, mostra que mesmo as expressões altamente enraizadas na língua podem ser metaforicamente reativadas, o que mostra que a metáfora conceptual de fato molda a nossa forma de entender o mundo. Ou seja, o sentido literal de "pagar" (pay) em "pay attention" pode ser evocado a qualquer momento por um falante da língua inglesa, fazendo com que ele, em algum momento, compreenda a "atenção" (attention) como um recurso valioso - o que não ocorre nas línguas em que essa metáfora do pagamento não ocorre quando o assunto é a atenção. Isso (o fato de a metáfora conceptual estruturar cognitivamente o pensamento), inclusive, tem efeito no uso dos tempos verbais, fazendo com que algumas línguas tenham o futuro projetado para trás, enquanto o passado fica para frente. O futuro, nesses casos, é o desconhecido (e justamente por isso fica para trás, onde os olhos não conseguem ver), enquanto o passado, já conhecido, fica para frente (onde a visão alcança). Se isso não é uma maneira diferente de ver o mundo reforçada ou até criada pela língua, não sei o que é. Para saber mais sobre o assunto, sugiro o livro da pesquisadora Jussara Abraçado sobre o tempo e os tempos verbais. Outro elemento linguístico que molda o pensamento é o gênero. Veja os adjetivos franceses que formam colocados com "la mer" (substantivo feminino), e depois faça o mesmo com adjetivos espanhois que formam colocados com "el mar" (substantivo masculino). Os adjetivos encontrados nas duas línguas não serão os mesmos, o que mostra que o gênero atribuído linguisticamente ao mar pode, em parte, moldar a nossa conceptualização da categoria "mar". Em suma, as línguas moldam SIM a nossa maneira de entender o mundo - o que não quer dizer que os falantes de duas línguas diferentes tenham noções de mundo completamente diferentes. Pelo contrário: as principais metáforas conceituais, chamadas metáforas primárias, tendem a ser compartilhadas quase universalmente. Por fim, podemos contrapor as línguas ao conhecimento enciclopédico para perceber o quanto a língua molda a forma como enxergamos e compreendemos o mundo. O nosso conhecimento enciclopédico nos informa que a Terra atrai todos os objetos que estão sobre ela por meio da força da gravidade. A nossa língua, por sua vez, nos obriga a dizer frequentemente que os objetos CAEM. O que você, de fato, enxerga? Você vê a Terra atrair tudo, conforme o seu conhecimento de física elementar? Ou vê tudo cair livremente, sem que exista uma força de atração mútua entre a Terra e aquilo que cai? Se aquilo que a gente percebe entra em conflito com o nosso conhecimento enciclopédico, só pode ser a nossa língua a "culpada". Apesar de discordar do seu ponto de vista, gostei muito do seu vídeo, pois provoca uma excelente reflexão. Abraços.
Em primeiro lugar, fico muito feliz que, mesmo discordando, você tenha gostado do vídeo e, mais importante, tenha levantado a discussão de forma educada e respeitosa. Conheço algumas das referências que você mencionou (Lakoff e Johnson, vi a live da Jussara no Abralin Ao Vivo em 2020), mas não todas (Cornelia Muller, inclusive pode recomendar um ou mais textos específicos, se quiser). Acho que, no fundo, não discordamos muito, provavelmente o que a gente esteja chamando de "moldar" e "maneira de ver o mundo" difira um pouco, já que você também não é determinista (e eu me oponho à noção de determinar e à de moldar, mas não à de influenciar, até porque os usos da língua também são uma forma de materialização da cultura). Se bem me lembro, essa questão dos adjetivos e do gênero, assim como aquele experimento clássico da chave e da ponte, são bem mais controversos e menos confiáveis do que as pessoas pensam, mas confesso que preciso ver se houve alguém retomando essa metodologia e encontrando resultados interessantes. Preciso revisitar esses tópicos, já é tempo de eu falar sobre Metáforas Conceptuais (pode não parecer, mas eu acho uma teoria bem produtiva e interessante). Apesar de tudo, espero que você encontre em outros vídeos (já postados ou futuros) mais pontos de concordância do que de discordância! 😀
Esse Everet criticou um linguística famoso americano que não me lembro o nome. Precisa de critica, mas precisa de ver os fundamentos e evidências. científicas. A ciência está aberta.
Foi o Noam Chomsky. Essa briga merecia um vídeo próprio. No final das contas, acho que ambos acabaram baixando um pouco demais o nível e a coisa descambou pra briga de ego. Mas, do ponto de vista puramente teórico e científico, acho que dá pra sacar de qual lado eu fico nessa história! rs
@@andremachadolinguistica, muito obrigado por ter me lembrado. Eu posso sugerir que você faça um vídeo sobre essa questão? Acho que os seguidores vão gostar.
Estou preparando o roteiro aos poucos, mas estou demorando porque quero fazer algo profundo e bem-feito. Obrigado!
@@andremachadolinguistica me inscrevi só pra aguardar esse vídeo
05:30 ai mano, as pessoas tratam ciência como religião. Como se não pudessemos questionar.
Difícil de enganar pessoas de humanas, que tem outro método científico. Debate com o Guilherme sobre isso, por favor. Não adianta, a ideologia está presente atey as hipóteses cientificas e na produymassiva de papers atuais, que tem o viés da produtividade, e nayda qualidade do paper, como diz o Prof. Dr. , neurocientista, Miguel Nicolis. Sua explanação científico está ótima, para um matemático, não para as Ciências Humanas.
Discordo pouco. Bom vídeo.
Acredito que a língua não necessariamente molda sua maneira de ver o mundo, mas ela é ou não um limitante e um mediador da profundidade das suas expressões. Expressão é linguagem, e tua consciência do mundo é mediatizada por ela. Eis que a linguagem molda tua maneira de pensar. Esta afirmação não é negacionismo de forma alguma. É uma afirmação plausível.
Em um momento do vídeo, quando você exemplifica a forma como expressamos temporalidade, você diz que as diferenças não tem a ver com a língua, mas sim com convenções culturais. Mas as línguas também são convenções culturais, não são um dado da natureza, não estão impressas no nosso DNA ou coisa do tipo. Gostaria que você explicasse melhor esse trecho, por favor.
Eu não entendo pq esse doutor acha que pegar uns exemplos particulares de equívocos sobre um assunto configura um argumento.
Nossa cai aqui de paraquedas, mas amei o vídeo!
Realmente faz total sentido, não é porque em chinês não existe gerúndio na fala ou escrita, que eles não têm a ideia de que "alguém está fazendo algo" naquele momento... Por exemplo, se alguem disser "o que você faz agora?" Transmite a mesma mensagem que "o que você está fazendo?
Às vezes caímos nessas falácias e nem percebemos que no próprio Brasil há tantas formas diferentes de falar, e nem por isso temos compreensões distintas de uma mesma realidade por conta disso
Fico muito feliz que, mesmo caindo de paraquedas, você tenha gostado e que o vídeo tenha te feito refletir. Obrigado pela visita e pelo comentário!
Até os regionalismos do Português brasileiro muda a forma de ver a vida. Nós gaúchos, por exemplo: somos mais depressivos e negativistas.
Bah
Che
Mas da maneira como você coloca parece que a lingua possui uma fixidez metafísica eterna, como se todos os povos de todas epocas e lugares, só por usarem uma lingua, teriam a mesma concepção de mundo, o mesmo mundo. Não acho que o termo correto seja "determina", mas "condiciona", e muito, assim como a economia, a religião etc. A lingua muda assim como a moral, a religião, e o próprio sentido das palavras muda. Isso aparece em varios filósofos como Wittgenstein, Heidegger, Nietzsche. Houve um ocorrido de quando o homem pisou na lua, em 1969, heidegger escreveu um texto que depois ficou conhecido, ele diz que o homem na epoca afirmava ter descoberto o lado escuro da lua, o que era um sonho e mistério desde a epoca medieval, mas que havia um enorme engano nessa ideia. A lua para o homem medieval era algo tão absolutamente diferente, havia nela um simbolismo tão diferente do homem moderno que nem poderia ser feita essa comparação. Outro texto bastante conhecido na filosofia, considerado um ponto de virada no seculo 20, é "Sobre sentido e referencia" de Frege. Esse texto distingue varias coisas que a gente não percebe mas que se sobrepoe. Uma coisa é o ente no mundo, outra é o vocabulo que usamos para no referir a ela, outra bem diferente é o sentido que ela tem. Todos esses niveis não possuem nenhuma relação de necessidade um com o outro, de modo que tudo depende da cultura, do tempo e do lugar onde a lingua é falada. De um ponto de vista estritamente filosofico, na verdade, não é possivel determinar com claresa a diferença entre linguagem e realidade. "Os limites da linguagem são os limites do mundo", outra frase conhecida do Wittgenstein. Esse debate é longo, dificil e cheio de nunaces, e acho que sim a linguagem condicona a visão de mundo e o pensamente (não determina), mas condiciona, mas não de modo necessário e absoluto.
Mas veja que você já está levando a discussão para um outro nível. A cultura, materializada nas diversas formas de linguagem, influenciar o pensamento, é uma coisa. Dizer que certas características estruturais e lexicais de uma língua fazem com que seus falantes sejam incapazes de articular certos conceitos, como costumam fazer por aí, é outra história.
É verdade que no Ingles nao existe traduçao pra saudade?
Não existe uma palavra única que sirva para todos os contextos em que a gente usa "saudade", mas é perfeitamente possível expressar em inglês todas as ideias que a palavra "saudade" passa, usando palavras e construções frasais distintas 🙃
@andremachadolinguistica Entendi, como eu desconfiava
@@eric45005no japonês tbm não tem.
Opa mano, achei seu contraponto interessante, mas nao estou convencido. Ce tem referências de linguistas que falam mais sobre isso?
Se você entender inglês, um ótimo começo é o vídeo "LIES we believe about language", do canal "languagejones ", que é um bom complemento a esse vídeo meu. Numa linha de argumentação oposta, está o livro "Through the Language Glass", do Guy Deutscher. Mas eu particularmente iria direto para o livro "The Language Hoax", do John McWhorter, porque ele vai abordar as ideias do Deutscher e dos Everett (pai e filho), mas já explicar o porquê de elas serem problemáticas. Em português é mais difícil, mas minhas fontes mencionaram o livro "Relativismo linguístico ou como a língua influencia o pensamento", de Rodrigo Tadeu Gonçalves. Eu não li ainda, mas disseram que é um trabalho bem ponderado. Mas, se me permite adiantar dois pontos: a) a língua não determina e não molda o pensamento, a questão é que existem, sim, alguns "glitches" que a língua causa na cognição (mas esses glitches e pequenas falhas de processamento são bem menos interessantes e impressionantes do que o pessoal faz parecer), e b) se você topar com qualquer coisa da Lera Boroditsky, fuja. Espero que isso te ajude! ☺️
Gostei
É muito mais o contrário, nossa visão de mundo é que determina como usamos a língua.
Não gosto de poemas. Nunca entendi o que eu lia, nunca consegui escrever e não gosto de recitar, não tenho carisma pra isso.
Sobre esse papo de que os idiomas podem transformar nossa vida, pois é, sempre ouvi isso, mas nunca levei a sério, talvez porque não sei falar nada.
Justo! A gente não é obrigado a gostar de tudo . Pra algumas pessoas, poesia simplesmente não dá aquele barato, e não há nada de errado nisso. Eu acho que idiomas podem transformar nossa vida no sentido de oportunidades de educação, trabalho, socialização, mas não nesse sentido de "ganhar uma nova alma" ou coisas do tipo. Obrigado pelo comentário!
Irmao tu é igualzinho ao cara do canal makarov, so quem sem o cabelo grande, ate a voz e o cabelo parece KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
Gente, sou mesmo?! Eu vejo uma levíssima semelhança, bem de longe, mas nunca pensaria que sou igualzinho! Agora fica a questão... fã ou hater? kkkkk
Obrigado por destruir mais um sonho!!!!
É um tipo de negacionismo científico que ajuda a piorar a situação mundial.
Exatamente. Não é porque vai a favor do que a gente já pensa, porque é uma ideia fofa ou porque se encaixa na narrativa que a gente quer defender que é verdadeiro e mereça ser divulgado.
E a língua pirahã ? Queria saber melhor dela
Ah, essa língua é objeto daquela que talvez seja a maior treta da história da linguística. Preciso fazer um vídeo só pra ela. Ou vários, talvez! rs
O missionário que estudou essa língua é meio picareta
First!
Vai ganhar a estrelinha de bom menino!
Há idiomas que não tem descrição para alguma cores... E isso gera uma limitação...
No vídeo que vai sair nessa sexta eu vou falar sobre isso, mas pra te dar um spoiler: não gera limitação não 😉