Flávio, a discussão que você trouxe é muito interessante, penso que a psicologia ter um pé em cada ciência só enriquece o debate, pois possibilita a compreensão dos fenômenos psicológicos de diferentes óticas. Também achei interessante quando demonstra as fragilidades da PBE. O seu TCC foi publicado em algum lugar? eu gostaria de entender mais sobre...
Oi Christian! Pois é, está aí um dilema importante e sem consenso, pois muitos profissionais das abordagens cognitivo-comportamentais e instituições defendem que a Psicologia faça parte somente das Ciências Naturais. Esse debate deve aumentar daqui pra frente. Sobre o TCC, eu concluí em novembro e agora estou preparando o material para enviar para uma revista científica. Eu posso te passar o arquivo em formato pdf. Se você quiser, me envie um e-mail no flaviomsmendes@gmail.com que eu te passo, sem problemas. É bom que o material vai circulando. De todo modo, eu falarei mais dele em novos vídeos e no curso Psicoterapias dia 25. Obrigado por seu comentário!
Ei David, sim! Ele ficará gravado para acesso ao longo do mês de fevereiro. Além disso, todo o conteúdo será disponibilizado em uma apostila. Se tiver outras dúvidas, fique à vontade para perguntar. Tem link com mais informações na descrição do vídeo.
Flávio, acho que há distorções no que é PBE de acordo com a APA nos discursos de quem segue a prática no Brasil. Primeiro a APA considera enormemente as ciências humanas. O relatório destaca que a prática é uma integração. Levar em conta pesquisa científica, e isso inclui vários modelos e desenhos, não só ensaios clínicos, é só uma parte dela. Adaptar as intervenções e o próprio setting aos fatores do pacientes e ter uma ética autorreflexiva em busca de melhores habilidades também é papel do terapeuta na PBE. E isso inclui, portanto, considerar teorias que não necessariamente partem de contextos laboratoriais ou de ciências naturais. Muitos tratamentos humanistas e psicodinâmicos funcionam em ensaio clínicos. Não temos a menor dúvida disso. E grande parte do que faz a terapia funcionar é a Aliança Terapêutica, cuja sistematização vem das ciências humanas, assim como demais construtos e conceitos que influenciam (questões linguísticas e sociais, por exemplo). A própria PBE considera que todas as abordagens bona-fide são efetivas. E isso até mesmo com resultados de pesquisas. É o q chamamos de veredito do pássaro Dodo. Algo que já foi exaustivamente replicado. Segundo, o que também fiquei confuso é com a questão da PBE ser associada com as ciências naturais. A resposta da APA veio em um contexto onde a pressão dos planos de saúde requisitavam justificativas para suas práticas para acatar reembolsos. Porém, a psicoterapia está bem longe de um modelo médico. Há quem defenda isso, mas grande parte da Divisão 29 é até uma boa parte da Divisão 12 não concordam com esse modelo. A PBE é uma proposta mais acessível e inclusiva aos profissionais que sofriam com o paradigma de tratamentos empiricamente sustentados, que gerou uma comparação entre terapias de forma incoerente e infundada. Um outro ponto que me fez pensar, é que se terapeutas estão olhando para listas de tratamentos como opções para dar “match” aos transtornos mentais, estão indo na contramão da PBE. A prática não enxerga o profissional como um cientista. Na verdade, estamos falando de um modelo que visa a personalização acima da padronização. O problema é que pouca gente de fato faz isso. A maioria leva em consideração que “melhores evidências” se resumem a tratamentos, e esquecem que a integração envolve uma consideração enorme dos fatores dos clientes e um treino contínuo de competências. Entretanto, há limitações realmente na PBE. O que Henrik Berg escreve, por exemplo, faz bastante sentido em relação à ética da psicoterapia.
Olá! Como você se chama? Achei bem pertinentes suas colocações, elas dialogam com uma parte do material que encontrei no tcc na pós-graduação. Concordo com tudo o que disse. A título de referência, menciono o documento "Recognition of Psychotherapy Effectiveness", de 2012 da APA endossando a importância da psicoterapia, a questão da eficácia das diferentes práticas e o efeito Dodô, assim como do campo da psicoterapia ter sua própria forma de se apresentar ao público, diferentemente da psiquiatria e da prática medicamentosa. Por outro lado, o debate científico tem girado em torno do conflito entre métodos nomotéticos e idiográficos, do excesso de listras de tratamentos empiricamente sustentados (TES), da dificuldade do profissional agir como um cientista clínico local devido à diferença entre as práticas científica e clínica - o Henrik Berg é um exemplo, como você disse -, e também da posição ambígua dos profissionais quanto à PBE, dos problemas de alto custos de formação, de dificuldade de compreensão e acesso aos materiais, das diferenças entre o trabalho prescrito e o real na prática no sentido de situar os tratamentos diante da complexidade da clínica. Isso toca na reflexão que você colocou se os profissionais estão tentando dar match - sim, eles estão, e isso tem gerado confusões sobre a importância do diagnóstico no tratamento, a relação entre técnica e clínica, entre teoria e técnica etc. Além disso, embora a PBE seja uma resposta ao problema das listas de TES, no fim, a presença das TES com base no método dos ensaios clínicos randomizados, sem considerar tanto outras metodologias, continua sendo um fator de conflito, ao menos no debate acadêmico. Mas esse conflito está situado sobre problemas epistemológicos entre as ciências. Então, enquanto de um lado a APA tem mostrado abertura a outras propostas em seus documentos, o debate científico, ao menos o que acessei na literatura, tem tomado a configuração de conflitos entre pressupostos filosóficos, teorias e métodos das ciências naturais e humanas. Por exemplo, muitos artigos trazem a problemática de autores de premissas das ciências naturais atribuírem críticas de pseudociências aos autores de outras premissas, que é o que temos visto acontecer aqui no Brasil. Te agradeço pela contribuição, pois ajuda muito a pensar nesse contexto. Se você tiver materiais a indicar, eu aceito de bom grado para juntar aos que estou estudando. Quanto ao tcc, eu ainda não enviei para uma revista pois foi bem recente, de novembro, mas em breve enviarei. De todo modo, posso enviar o material por e-mail se você quiser. É só me enviar um e-mail para flaviomsmendes@gmail.com que te passo. E também trabalharei algumas dessas temáticas aqui nas redes e no curso Psicoterapias dia 25/01. Aguardo seu retorno. Até breve!
@@flaviomendespsi Bom dia, Flavio. Obrigado por responder. Me chamo Lucas. Eu concordo com todo o seu texto. A forma como a PBE tem sido difundida aqui, lembra muito mais uma briga por fatores específicos, que são úteis, mas não explicam completamente os efeitos da psicoterapia. E por isso, a maioria é munida de técnicas, mas quase nada em estratégias, competências interpessoais, habilidades para personalizar tratamentos, focados em princípios etc. As leituras que fiz nos últimos anos, me guiaram para uma prática muito mais pluralista e compreensível, do que essa corrida pelo "padrão ouro", algo que é extremamente questionável, visto que nenhum modelo de tratamento bona-fide é melhor que outro. Pensei em deixar as indicações que você pediu por aqui, para caso tenha alguém lendo e queira ler também, mas vou enviar um e-mail, pois com certeza gostaria muito de ler seu material. E também farei um esforço para estar no seu curso dia 25. Livros: 1. The Great Psychotherapy Debate - Wampold, Imel, 2015. 2. APA Handbook of Psychotherapy, 2023: esse livro é um tipo de "up to date" da psicoterapia, e mostra como diferentes métodos, teorias e formas de fazer psicoterapia podem funcionar para diferentes indivíduos, culturas e contextos. Nele eu recomendo fortemente a leitura do capítulo: EVIDENCE-BASED PSYCHOTHERAPY: ON WHAT CAN WE AGREE?, Averi N. Gaines and Marvin R. Goldfried 3. Bergin and Garfield's Handbook of Psychotherapy and Behavior Change, 2021 - livro com várias metanálises e revisões, quantitativas e qualitativas, sobre a psicoterapia. 4. A Critical Reconstruction of Evidence-based Practice in Psychology; Evidence and Ethics, 2025 - Henrik Berg: uma crítica incrível, ao meu ver, que inaugura uma reconstrução da prática focada na ética e em virtudes, eu gostaria muito de ver se tornando realidade. Artigos: 1. Client-identified outcomes of individual psychotherapy: a qualitative meta-analysis, 2025 DOI:10.1016/S2215-0366(24)00356-0 (que fala sobre como estamos medindo desfechos que não são necessariamente úteis para os clientes. Tratamentos empiricamente sustentados focam em sintomas, e clientes buscam auto-compreensão, auto-agência, engajamento social) 2. Broadening the Evidentiary Basis for Clinical Practice Guidelines: Recommendations From Qualitative Psychotherapy Researchers, 2024; DOI: 10.1037/amp0001363 (eu acho que esse é um dos textos mais importantes desse último ano. Inclusive fala sobre o que conversamos aqui, sobre a necessidade de estudos com suporte nas ciências humanas para a compreensão da psicoterapia, principalmente ao falarmos sobre dinâmicas na díade terapêutica, contextos culturais, experiências internas individuais, relações interpessoais e de poder entre terapeuta e cliente, estudos fenomenológicos, hermenêuticos, descritivos, focados em processos) 3. Inside the consulting room of a highly effective therapist: An analysis of first sessions: um exemplo de como ciências humanas devem ser utilizadas para a investigação da psicoterapia e dos seus efeitos e dificuldades. Existem vários outros artigos como estes, inclusive brasileiros, principalmente da PUCRS. Ah, e a maioria destes estudos replicam o resultado: terapeutas bons são ótimos ouvintes, falantes e facilitadores. O estabelecimento de aliança, a presença de expertise interpessoal, de adaptar sua fala e ser responsivo, é o que está associado a melhores resultados. E não o uso de tecnicas. 4. Therapist and relationship factors influencing dropout from individual psychotherapy: A literature review DOI:10.1080/10503307.2013.775528 ; (outro exemplo de estudos de processos que trazem dados importantíssimos sobre a prática natural) 5. A Principle-Based Approach to Psychotherapy Integration, DOI: 10.1093/med-psych/9780190690465.003.0004 (capítulo onde há uma proposta de integração de psicoterapias, e que mostra como princípios além da abordagem estão associados à mudança)
Olá, tudo bem? Por gentileza, eu quero saber se existe cura do cid.f60 o psicólogo disse que era borderline e com isso fez a psiquiatra retirar a medicação ritalina 10mg do paciente? Após solicitar o laudo da avaliação psicológica o psicólogo mudou o diagnóstico para cid. F90 e cid. F41.1 e cid.f90..
Oi, tudo bem! Imagino que as coisas não estejam bem por aí por conta da insegurança que esse tanto de diagnósticos, trocados tão rapidamente, está te dando. Sua mensagem me passa a sensação de que você tem sentido insegurança com o que está acontecendo e, por isso, está procurando informações para entender por que essas trocas de diagnósticos, por que o psiquiatra tirou a ritalina etc. De fato, cada um dos diagnósticos é diferente, como o CID F60 para transtornos de personalidade, o F90 para TDAH e o F41.1 para ansiedade generalizada. Mas alguns dos sintomas desses transtornos são comuns uns aos outros, então talvez possa ser esse o motivo para essas mudanças. Quando você pergunta sobre "cura", o que cabe dizer no momento é que uma boa integração entre tratamento psicoterápico e farmacológico te dará uma qualidade de vida bem satisfatória. Mas, no momento, seria importante você sentir que está tendo segurança no seu acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e isso não parece que está acontecendo. Estou certo? Se for isso, vale a pena se perguntar se você gostaria de conversar com os profissionais sobre a insegurança e tentar achar um novo caminho com eles, ou se gostaria de procurar outros profissionais para se cuidar. O que acha? Desejo uma boa caminhada!
Entendo que essa posição do CFP é a mais adequada e mais intelectualmente honesta. Só me preocupa se ela conseguirá se sustentar diante de tanto lobby que as abordagens alinhadas às ciências naturais têm promovido junto ao grande público através de um terrorismo marketeiro.
Ei Leo, obrigado pelo retorno! Pois é, está aí uma questão a ser considerada. Por outro lado, eu entendo que esse contexto do lobby é uma parte do processo dialético e pode ter outros desdobramentos futuramente. Como o conteúdo que trazem é algo novo para os debates brasileiros, e vem com o peso do marketing das redes, a promessa de algo definitivamente resolutivo etc, o sentimento de novidade faz muitas pessoas buscarem. Eu aposto em que cada vez mais outros profissionais passem a se posicionar diante desse contexto, e que o próprio CFP futuramente tenha posicionamentos para situar a categoria.
Flávio, a discussão que você trouxe é muito interessante, penso que a psicologia ter um pé em cada ciência só enriquece o debate, pois possibilita a compreensão dos fenômenos psicológicos de diferentes óticas. Também achei interessante quando demonstra as fragilidades da PBE. O seu TCC foi publicado em algum lugar? eu gostaria de entender mais sobre...
Oi Christian! Pois é, está aí um dilema importante e sem consenso, pois muitos profissionais das abordagens cognitivo-comportamentais e instituições defendem que a Psicologia faça parte somente das Ciências Naturais. Esse debate deve aumentar daqui pra frente.
Sobre o TCC, eu concluí em novembro e agora estou preparando o material para enviar para uma revista científica. Eu posso te passar o arquivo em formato pdf. Se você quiser, me envie um e-mail no flaviomsmendes@gmail.com que eu te passo, sem problemas. É bom que o material vai circulando.
De todo modo, eu falarei mais dele em novos vídeos e no curso Psicoterapias dia 25.
Obrigado por seu comentário!
Flávio, o curso que você vai promover no dia 25 ficará gravado ?
Ei David, sim! Ele ficará gravado para acesso ao longo do mês de fevereiro. Além disso, todo o conteúdo será disponibilizado em uma apostila. Se tiver outras dúvidas, fique à vontade para perguntar. Tem link com mais informações na descrição do vídeo.
Flávio, acho que há distorções no que é PBE de acordo com a APA nos discursos de quem segue a prática no Brasil. Primeiro a APA considera enormemente as ciências humanas. O relatório destaca que a prática é uma integração. Levar em conta pesquisa científica, e isso inclui vários modelos e desenhos, não só ensaios clínicos, é só uma parte dela. Adaptar as intervenções e o próprio setting aos fatores do pacientes e ter uma ética autorreflexiva em busca de melhores habilidades também é papel do terapeuta na PBE. E isso inclui, portanto, considerar teorias que não necessariamente partem de contextos laboratoriais ou de ciências naturais. Muitos tratamentos humanistas e psicodinâmicos funcionam em ensaio clínicos. Não temos a menor dúvida disso. E grande parte do que faz a terapia funcionar é a Aliança Terapêutica, cuja sistematização vem das ciências humanas, assim como demais construtos e conceitos que influenciam (questões linguísticas e sociais, por exemplo). A própria PBE considera que todas as abordagens bona-fide são efetivas. E isso até mesmo com resultados de pesquisas. É o q chamamos de veredito do pássaro Dodo. Algo que já foi exaustivamente replicado.
Segundo, o que também fiquei confuso é com a questão da PBE ser associada com as ciências naturais. A resposta da APA veio em um contexto onde a pressão dos planos de saúde requisitavam justificativas para suas práticas para acatar reembolsos. Porém, a psicoterapia está bem longe de um modelo médico. Há quem defenda isso, mas grande parte da Divisão 29 é até uma boa parte da Divisão 12 não concordam com esse modelo. A PBE é uma proposta mais acessível e inclusiva aos profissionais que sofriam com o paradigma de tratamentos empiricamente sustentados, que gerou uma comparação entre terapias de forma incoerente e infundada.
Um outro ponto que me fez pensar, é que se terapeutas estão olhando para listas de tratamentos como opções para dar “match” aos transtornos mentais, estão indo na contramão da PBE. A prática não enxerga o profissional como um cientista. Na verdade, estamos falando de um modelo que visa a personalização acima da padronização. O problema é que pouca gente de fato faz isso. A maioria leva em consideração que “melhores evidências” se resumem a tratamentos, e esquecem que a integração envolve uma consideração enorme dos fatores dos clientes e um treino contínuo de competências.
Entretanto, há limitações realmente na PBE. O que Henrik Berg escreve, por exemplo, faz bastante sentido em relação à ética da psicoterapia.
Olá! Como você se chama?
Achei bem pertinentes suas colocações, elas dialogam com uma parte do material que encontrei no tcc na pós-graduação. Concordo com tudo o que disse. A título de referência, menciono o documento "Recognition of Psychotherapy Effectiveness", de 2012 da APA endossando a importância da psicoterapia, a questão da eficácia das diferentes práticas e o efeito Dodô, assim como do campo da psicoterapia ter sua própria forma de se apresentar ao público, diferentemente da psiquiatria e da prática medicamentosa.
Por outro lado, o debate científico tem girado em torno do conflito entre métodos nomotéticos e idiográficos, do excesso de listras de tratamentos empiricamente sustentados (TES), da dificuldade do profissional agir como um cientista clínico local devido à diferença entre as práticas científica e clínica - o Henrik Berg é um exemplo, como você disse -, e também da posição ambígua dos profissionais quanto à PBE, dos problemas de alto custos de formação, de dificuldade de compreensão e acesso aos materiais, das diferenças entre o trabalho prescrito e o real na prática no sentido de situar os tratamentos diante da complexidade da clínica. Isso toca na reflexão que você colocou se os profissionais estão tentando dar match - sim, eles estão, e isso tem gerado confusões sobre a importância do diagnóstico no tratamento, a relação entre técnica e clínica, entre teoria e técnica etc.
Além disso, embora a PBE seja uma resposta ao problema das listas de TES, no fim, a presença das TES com base no método dos ensaios clínicos randomizados, sem considerar tanto outras metodologias, continua sendo um fator de conflito, ao menos no debate acadêmico. Mas esse conflito está situado sobre problemas epistemológicos entre as ciências. Então, enquanto de um lado a APA tem mostrado abertura a outras propostas em seus documentos, o debate científico, ao menos o que acessei na literatura, tem tomado a configuração de conflitos entre pressupostos filosóficos, teorias e métodos das ciências naturais e humanas. Por exemplo, muitos artigos trazem a problemática de autores de premissas das ciências naturais atribuírem críticas de pseudociências aos autores de outras premissas, que é o que temos visto acontecer aqui no Brasil.
Te agradeço pela contribuição, pois ajuda muito a pensar nesse contexto. Se você tiver materiais a indicar, eu aceito de bom grado para juntar aos que estou estudando. Quanto ao tcc, eu ainda não enviei para uma revista pois foi bem recente, de novembro, mas em breve enviarei. De todo modo, posso enviar o material por e-mail se você quiser. É só me enviar um e-mail para flaviomsmendes@gmail.com que te passo. E também trabalharei algumas dessas temáticas aqui nas redes e no curso Psicoterapias dia 25/01.
Aguardo seu retorno. Até breve!
@@flaviomendespsi Bom dia, Flavio. Obrigado por responder. Me chamo Lucas.
Eu concordo com todo o seu texto. A forma como a PBE tem sido difundida aqui, lembra muito mais uma briga por fatores específicos, que são úteis, mas não explicam completamente os efeitos da psicoterapia. E por isso, a maioria é munida de técnicas, mas quase nada em estratégias, competências interpessoais, habilidades para personalizar tratamentos, focados em princípios etc. As leituras que fiz nos últimos anos, me guiaram para uma prática muito mais pluralista e compreensível, do que essa corrida pelo "padrão ouro", algo que é extremamente questionável, visto que nenhum modelo de tratamento bona-fide é melhor que outro.
Pensei em deixar as indicações que você pediu por aqui, para caso tenha alguém lendo e queira ler também, mas vou enviar um e-mail, pois com certeza gostaria muito de ler seu material. E também farei um esforço para estar no seu curso dia 25.
Livros:
1. The Great Psychotherapy Debate - Wampold, Imel, 2015.
2. APA Handbook of Psychotherapy, 2023: esse livro é um tipo de "up to date" da psicoterapia, e mostra como diferentes métodos, teorias e formas de fazer psicoterapia podem funcionar para diferentes indivíduos, culturas e contextos.
Nele eu recomendo fortemente a leitura do capítulo: EVIDENCE-BASED PSYCHOTHERAPY: ON WHAT CAN WE AGREE?, Averi N. Gaines and Marvin R. Goldfried
3. Bergin and Garfield's Handbook of Psychotherapy and Behavior Change, 2021 - livro com várias metanálises e revisões, quantitativas e qualitativas, sobre a psicoterapia.
4. A Critical Reconstruction of Evidence-based Practice in Psychology; Evidence and Ethics, 2025 - Henrik Berg: uma crítica incrível, ao meu ver, que inaugura uma reconstrução da prática focada na ética e em virtudes, eu gostaria muito de ver se tornando realidade.
Artigos:
1. Client-identified outcomes of individual psychotherapy: a qualitative meta-analysis, 2025 DOI:10.1016/S2215-0366(24)00356-0 (que fala sobre como estamos medindo desfechos que não são necessariamente úteis para os clientes. Tratamentos empiricamente sustentados focam em sintomas, e clientes buscam auto-compreensão, auto-agência, engajamento social)
2. Broadening the Evidentiary Basis for Clinical Practice Guidelines: Recommendations From Qualitative Psychotherapy Researchers, 2024; DOI: 10.1037/amp0001363 (eu acho que esse é um dos textos mais importantes desse último ano. Inclusive fala sobre o que conversamos aqui, sobre a necessidade de estudos com suporte nas ciências humanas para a compreensão da psicoterapia, principalmente ao falarmos sobre dinâmicas na díade terapêutica, contextos culturais, experiências internas individuais, relações interpessoais e de poder entre terapeuta e cliente, estudos fenomenológicos, hermenêuticos, descritivos, focados em processos)
3. Inside the consulting room of a highly effective therapist: An analysis of first sessions: um exemplo de como ciências humanas devem ser utilizadas para a investigação da psicoterapia e dos seus efeitos e dificuldades. Existem vários outros artigos como estes, inclusive brasileiros, principalmente da PUCRS. Ah, e a maioria destes estudos replicam o resultado: terapeutas bons são ótimos ouvintes, falantes e facilitadores. O estabelecimento de aliança, a presença de expertise interpessoal, de adaptar sua fala e ser responsivo, é o que está associado a melhores resultados. E não o uso de tecnicas.
4. Therapist and relationship factors influencing dropout from individual psychotherapy: A literature review DOI:10.1080/10503307.2013.775528 ; (outro exemplo de estudos de processos que trazem dados importantíssimos sobre a prática natural)
5. A Principle-Based Approach to Psychotherapy Integration, DOI: 10.1093/med-psych/9780190690465.003.0004 (capítulo onde há uma proposta de integração de psicoterapias, e que mostra como princípios além da abordagem estão associados à mudança)
Belo comentario...também vejo muito distorção sobre o que a APA propõe em relação a o que esse movimento aqui no brasil traz.
Olá, tudo bem?
Por gentileza, eu quero saber se existe cura do cid.f60 o psicólogo disse que era borderline e com isso fez a psiquiatra retirar a medicação ritalina 10mg do paciente?
Após solicitar o laudo da avaliação psicológica o psicólogo mudou o diagnóstico para cid. F90 e cid. F41.1 e cid.f90..
Oi, tudo bem! Imagino que as coisas não estejam bem por aí por conta da insegurança que esse tanto de diagnósticos, trocados tão rapidamente, está te dando. Sua mensagem me passa a sensação de que você tem sentido insegurança com o que está acontecendo e, por isso, está procurando informações para entender por que essas trocas de diagnósticos, por que o psiquiatra tirou a ritalina etc.
De fato, cada um dos diagnósticos é diferente, como o CID F60 para transtornos de personalidade, o F90 para TDAH e o F41.1 para ansiedade generalizada. Mas alguns dos sintomas desses transtornos são comuns uns aos outros, então talvez possa ser esse o motivo para essas mudanças.
Quando você pergunta sobre "cura", o que cabe dizer no momento é que uma boa integração entre tratamento psicoterápico e farmacológico te dará uma qualidade de vida bem satisfatória. Mas, no momento, seria importante você sentir que está tendo segurança no seu acompanhamento psicológico e psiquiátrico, e isso não parece que está acontecendo. Estou certo?
Se for isso, vale a pena se perguntar se você gostaria de conversar com os profissionais sobre a insegurança e tentar achar um novo caminho com eles, ou se gostaria de procurar outros profissionais para se cuidar. O que acha?
Desejo uma boa caminhada!
Entendo que essa posição do CFP é a mais adequada e mais intelectualmente honesta. Só me preocupa se ela conseguirá se sustentar diante de tanto lobby que as abordagens alinhadas às ciências naturais têm promovido junto ao grande público através de um terrorismo marketeiro.
Ei Leo, obrigado pelo retorno! Pois é, está aí uma questão a ser considerada. Por outro lado, eu entendo que esse contexto do lobby é uma parte do processo dialético e pode ter outros desdobramentos futuramente. Como o conteúdo que trazem é algo novo para os debates brasileiros, e vem com o peso do marketing das redes, a promessa de algo definitivamente resolutivo etc, o sentimento de novidade faz muitas pessoas buscarem. Eu aposto em que cada vez mais outros profissionais passem a se posicionar diante desse contexto, e que o próprio CFP futuramente tenha posicionamentos para situar a categoria.