Não seria adequado na Psicologia o equivalente na Medicina ao Clínico Geral, para direcionar às pessoas para uma abordagem mais sintonizada com seus problemas ???🤔
@@alexyogaluz Ei Alex! É uma situação complicada de acontecer, em especial pela diferença entre as duas profissões. A Medicina especializou ao extremo suas campo em função de suas bases nas ciências naturais que tratam o corpo qualquer outro objeto físico, podendo ser compartimentalizado ao extremo, ao ponto de termos especialidades médicas que tratam de partes muito específicas do corpo, por exemplo, o ortopedista especialista em pé. Só que na área Psi é mais complicada, pois não é possível compartimentalizar os aspectos psicológicos dessa mesma forma. No máximo, é possível categorizar os sofrimentos para tentar situar grupos específicos, como é o que a Psiquiatria faz com o DSM, a as TCC's utilizam como base nas pesquisas de eficácia. Essa situação, diferentemente do que acontece na medicina, gera um conjunto de técnicas que, embora se proponham a tratar de problemas específicos, acabam carregando muitos aspectos parecidos entre si. Então os profissionais não estão se especializando como na medicina, apenas decorando técnicas diferentes com aspectos parecidos. Então, muito difícil criar algo assim. No campo, os debates giram em torno de situar o que é comum entre as diferentes psicoterapias, o que é específico de cada terapia para certas condições e o que é inespecífico mas também influencia no tratamento. Esses debates ajudam a situar os profissionais diante da complexidade do trabalho. Consegui me fazer entender?
Enquanto discutimos isso, uma epidemia de auto intitulados " psicoterapeutas" sem a menor formação e , muitas vezes, sem sequer saber o sentido do vocábulo estão invadindo as redes numa esfera alarmante, oferecendo "tratamento" e atacando a psicologia dia e noite.
É, sempre houve. Esse debate das psicoterapias tem se fortalecido nesse momento com a posição do Conselho Federal de Psicologia de regulamentar a prática da profissão. Esse movimento já aconteceu fora do Brasil e está podendo ser tratado agora. Então, é questão de tempo para que esse passo seja dado. Não acho que a psicologia conseguirá limitar à prática à sua profissão, mas ao menos dará mais consistência a ela. Aproveitando, em Janeiro eu darei um curso pra desdobrar essa temática, chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas". Se você tiver interesse em conhecer a proposta, partilho o vídeo com mais informações: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n Bom fim de ano! Até mais e obrigado pelo comentário!
@@flaviomendespsi Não me referi exatamente ao tema da prática restrita aos psicólogos, mas aproveitado a ocasião, penso que tal competência deveria ser estendida também aos psiquiatras e psicopedagogos. Quanto á prática leiga, não sou exatamente contra, mas enfatizo a necessidade de definirmos o conceito, as atribuições e, enfim, os limites dessas psicoterapias, bem como a de seus praticantes. Estado e Conselhos estão se omitindo sobre esse tema de maneira grave e quem já começa a sofrer as consequências é a saúde pública desse País.
Sim, tem razão. Acho que a ideia da regulamentação é pertinente e necessária, e esse é um processo que acredito que o CFP mobilizará cada vez mais. Desde 2022 ele tem dado passos nessa direção, desde a resolução sobre a prática da psicoterapia, nº 13 de 2022, até a consulta pública se a psicoterapia deveria ser prática somente da psicologia, e assim por diante. Entendo que esse debate está se construindo.
Que bom, Ana! O curso Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas acontecerá no dia 25 de Janeiro em formato online, de 08h às 18h. O material será gravado e você terá acesso à uma apostila com todo o conteúdo. No vídeo a seguir eu falo de forma resumida sobre a proposta do curso, os valores e também os descontos que disponibilizei. Também fico disponível para tirar suas dúvidas, está bem? Conheça o curso aqui: ua-cam.com/video/p180mJLsn-U/v-deo.html
Olá Flávio. Eu quero saber mais sobre esse curso que você vai lecionar. Noto que as críticas feitas por esse grupo do lobby da psicologia baseada em evidência se baseiam essencialmente numa desonestidade intelectual e na provocação de pânico publicitário. Não vi até hoje um único debate em que eles tenham se saído bem quando enfrentam um psicanalista ou epistemólogo minimamente instrumentalizado para essa discussão.
Ei Leo! Entendo. Não tenho acompanhado tanto os debates deles diretamente pois fui percebendo esse ponto que você mencionou. Preferi estudar de forma acadêmica o que tem acontecido na PBE fora do circuito do que eles tem falado exatamente para não me deixar pesar tanto suas falas. E isso realmente me ajudou a ter tranquilidade para pensar e falar dessa temática. O curso que farei dia 25/01 tem a ver com esse estudo. Seu nome é "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas", e a proposta é contextualizar o campo da psicoterapia a partir dessas três temáticas para contribuir com bases sólidas para estudantes e profissionais interessados. Nas Histórias eu falarei sobre o desenvolvimento das psicoterapias ao longo do último século e meio para cá; nas Epistemes, os conflitos existentes entre profissionais cujas abordagens se situam nas matrizes das ciências naturais e humanas; e nas Clínicas, falarei sobre as posições institucionais e suas proposições sobre a psicoterapia. Eu fiz um resumo da proposta e deixei mais informações como valores, descontos, assim como o link de inscrição nesse outro vídeo: ua-cam.com/video/p180mJLsn-U/v-deo.htmlsi=EvWwGnS6k7ZhwbY3 Se tiver dúvidas, fique à vontade em perguntar que respondo em breve. Até mais!
Freud começou a sistematizar sim a psicanálise e tem várias contribuições importantes. Mas teve vários erros graves. Exemplo disso foi a falta de sua análise pessoal. Teve análise por carta com Flies, teve autoanálise. Acho insuficiente. Além do que se transmitiu com isso, "eu sei, mas mesmo assim. . ." Além das questões teóricas que isso produziu. Enfim, pela sua época etc foi importante, mas devemos ter um olhar bem crítico de suas limitações. Há estudos, textos que falam bem disso.
Ei Homologaja! Olha, talvez a maior diferença entre Freud e os demais profissionais é que, por muitos motivos pessoais e sociais de sua época, a figura de Freud furou a bolha da especificidade do campo psi e se tornou um personagem popular da cultura. Tirando esse aspecto, que eleva a figura de Freud a um herói amado e odiado, não tem tantas diferenças assim não. Na preparação do curso de Psicoterapias, que será em janeiro, eu estava lendo como Rogers, por exemplo, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por suas contribuições à psicologia e promover a paz. Isso não é pouca coisa. Enfim, cada autor tem contribuições muito importantes para a sociedade e as profissões, cabe a nós irmos além da aura idealizada que uns e outros tem a mais. Faz sentido pra você?
Penso que com o passar do tempo vai ficando mais claro as questões, os problemas. Primeiro acho importante fazer a distinção entre psicologia e psicanálise. A psicanálise por ter sido introduzida nas graduações de psicologia fez uma confusão sobre isto. Mas psicanálise, ao meu ver, é um outro campo. Quando ela é tida como uma especialidade da psicologia já provoca questões que vão a adulterando. A formação do analista é algo bem específico, que a universidade não dá conta de sua complexidade, e muitas das vezes pode é atrapalhar. Primeiro por a psicanálise ser tida como uma profissão, negócio. Além disso pela questão da análise pessoal, que é a principal fator, não único, dá formação do analista. Enfim são muitas questões, nem dá p falar tudo aqui.
Concordo contigo, Rodrigo. A confusão entre psicanálise e psicologia, a diferença da formação entre ambas as propostas, a problemática da profissionalização da psicanálise etc, tudo isso é bem pertinente. Por outro lado, há questões a serem consideradas nos meandros das proposições, e também tem a responsabilidade dos próprios psicanalistas, como Freud, Lacan e outros. Historicamente, Freud propunha sua Psicanálise como um projeto de Psicologia, mas outros autores também propuseram projetos de psicologia, como John Watson, Carl Rogers etc. Ou seja, Freud não foi o único a propor um projeto científico para a psicologia. A diferença é que ele fez isso dentro da Medicina e gradativamente fez um movimento de separação dos dois campos, ao passo que também se afastou da própria psicologia. Em um período em que a Psicologia ainda se formava enquanto ciência e profissão, Freud, na medicina, propunha sua própria psicologia e construía um campo próprio. Isso influenciou tanto a construção da formação em psicologia e psiquiatria, mas sua proposta foi no sentido de delimitar sua própria instituição. Essa relação entre Medicina/Psiquiatria - Psicanálise - Psicologia se organizou de formas muito distintas nos diferentes países de acordo com os posicionamentos políticos, ideológicos, teóricos e técnicos dos diferentes atores em questão. Assim, no Brasil, a psicanálise hoje é uma ocupação e não uma profissão, pois não foi regulamentada; tem sua formação acessada por leigos, com formação profissional não-médica, nas instituições de alguma forma ligadas à IPA; é uma abordagem teórica que compõe o campo da psicologia, tanto nas graduações quanto nas pós-graduações; é uma teoria tratada em programas de filosofia, pedagogia e outros. Isso mostra o quanto ela não tem uma delimitação própria, mas se tornou um campo de saber difuso em vários aspectos. Como você disse, são muitas questões, realmente. Obrigado por seu comentário! Em Janeiro eu farei um curso para desenvolver melhor essa temática, chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas". Será um curso inédito pois nele promoverei uma apresentação complexa do desenvolvimento das psicoterapias do último século para cá, e isso ajudará a entender em que pé estamos atualmente. Fica o convite para estar conosco, ok! Aqui eu falo mais sobre ele: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n Até mais!
Mikkel Borch-Jacobsen diz, na p. 9 de "Freud's patients", que, dos 38 casos de terapias aplicadas por Freud que Borch-Jacobsen analisa no livro, 3 foram bem sucedidas, mas os outros 35 foram inúteis, prejudiciais ou mesmo muito prejudiciais. O que se pode pensar sobre a teoria psicanalítica freudiana e sua eficácia depois de ler os comentários de Broch-Jacobsen nesse livro?
Como disse no comentário anterior, Freud teve vários equívocos, a não era um bom clínico, pois claro, faltou sua análise pessoal, que ele mesmo defendia que era a parte principal da formação do analista. Isso deixa até hoje consequências ruins para a prática daqueles que o lê sem fazer as devidas críticas.
@@rodrigobarbosa3235 Rodrigo, não sei qual é o "comentário anterior" a que te referes. Penso que o fato de Freud ter considerado dispensável sua análise (que julgava indispensável para os outros psicanalistas), tendo em vista que fizera autoanálise, deve ser levado em conta ao avaliar sua contribuição para a compreensão da mente humana e a psicoterapia, mas isso é muito pouco e contribui muito vagamente para a resposta a minha pergunta. Mikkel Borch-Jacobsen disse: “Com umas poucas exceções ambíguas, como os tratamentos de Ernest Lanzer, Bruno Walter e Albert Hirst, as terapias de Freud foram amplamente ineficazes, quando não totalmente destrutivas” ("Freud's patients", p. 9). Se essas palavras corresponderem rigorosamente à verdade, parece certo que a eficácia da terapia psicanalítica freudiana é muito pequena. O ex-psicanalista Jacques Van Rillaer disse: “Quando se faz o balanço da verificação metódica das teorias de Freud, se constata que quase todos os enunciados confirmados foram publicados antes dele, enquanto que as teses especificamente freudianas foram, em geral, refutadas” ("Les mécanismes de défense des freudiens", p.422, in "Le livre noir de la psychanalise", de Catherine Meyer (org.)). Se essa afirmativa for verdadeira, a teoria psicanalítica contribuiu muito pouco para a compreensão da mente humana e para a psicoterapia.
Edgar, acho que é importante situar um problema sobre eficácia que me pareceu que você está misturando. Primeiro, uma coisa é o teórico Freud, outra é o clínico Freud e outra, ainda, é a eficácia da psicanálise. Existem formas diferentes de avaliar cada um desses aspectos. O que Van Rillaer propõe nesse livro é discutir como foram os casos de Freud, mas isso não fala de sua eficácia pois são casos anedóticos. Isso fala mais sobre a qualidade da prática de Freud. Todos os clínicos tem casos problemáticos, problemas de efetividade etc. Pacientes evadem das terapias, não encontram melhoras em vários tratamentos. Quantos não são os pacientes que evadem de psiquiatras, que não dão conta de seguir o tratamento, ou mesmo de psicoterapias e outras propostas, e nem por isso estamos falando da eficácia desses tratamentos. A eficácia é avaliada com pesquisa, não na clínica. Então, sua conclusão de que "Se essas palavras corresponderem rigorosamente à verdade, parece certo que a eficácia da terapia psicanalítica freudiana é muito pequena." não tem fundamento. Ao ler Van Rillaer, no máximo, você poderá concluir que Freud tinha problemas em sua prática, não sobre a teoria ou a técnica psicanalítica como um todo, já que elas são maiores que Freud, desenvolvidas por muitos profissionais ao longo do século e parte de muitos debates, estudos etc. Espero ter contribuído. E se te interessar, eu darei um curso chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas" em janeiro, e falarei de algumas dessas questões nessa discussão. Se quiser conhecer a proposta, falo dela aqui: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n Até mais! Bom fim de ano!
O ex-psicanalista Jacques Van Rillaer faz, em "Les illusions de la psychanalyse", críticas muito contundentes às teorias psicanalíticas freudianas e lacanianas. Para mim, as críticas de Van Rillaer parecem bemfundamentadas. Gostaria de conhecer opiniões divergentes da minha. Devo admitir que conheço superficialmente os trabalhos desse ex-psicanalista.
Eu penso que a análise lacaniana, que também é de certa forma freudiana, pois o próprio Lacan dizia ser freudiano, tem várias limitações. Lacan avança em relação ao Freud, mas também comete vários erros, que os lacanianos não querem reconhecer, pois o idolatram. Acho que o principal erro do lacan foi ter ocupado o lugar do poder, como muito bem denuncia Safatle em MANEIRAS DE TRANSFORMAR MUNDOS . Ocupar o lugar do poder na psicanálise é hipnotizar as pessoas, devido a questão da transferência também nos locais de ensino e transmissão. Já fui membro de escola lacaniana e falo do que senti na pele. Enfim, a psicanálise é fabulosa, os psicanalistas é que não são legais, rs!
@@rodrigobarbosa3235 Rodrigo, gostaria de saber como interpretas o que Lacan disse nas duas citações abaixo, extraídas de bibliografia comentada sobre as críticas à psicanálise que escrevi: Lacan, Jacques. "Intervention à Bruxelles". Publiée dans "Quarto (Supplément belge à La lettre mensuelle de l’École de la cause freudienne", 1981, n.2). Lacan afirmou nesse texto: “Nossa prática [terapia psicanalítica] é uma fraude, pelo menos considerada a partir do momento em que partimos desse ponto de fuga”. No original: “Notre pratique est une escroquerie, du moins considérée à partir du moment où nous partons de ce point de fuite”. No "Séminaire de Bruxelles", 1977, Lacan afirmou: “Nossa prática [terapia psicanalítica] é uma fraude: blefar, fazer as pessoas piscarem, deslumbrá-las com palavras que são farsa”. No original: “Notre pratique est une escroquerie: bluffer, faire ciller les gens, les éblouir avec des mots qui sont du chiqué”. Não encontrei, para essas duas citações, disponíveis online, informações precisas sobre os contextos que permitam compreender com segurança o que Lacan quis dizer.
Ei Edgar, quanto tempo! Parece que você estava só esperando o momento para voltar com tudo, não é!? Eu voltei e você voltou também trazendo suas críticas ao Freud. Toda situação é uma boa oportunidade pra sentar uma pedrada em finado Freud, não é mesmo? Estava lendo seus comentários e vi que são inclusive alguns que já comentei em outros vídeos, as mesmas citações, mesmos comentários. Dessa vez deixarei em aberto esse debate, mas pretendo fazer um vídeo para discutir essa mitificação do Freud - e talvez do Lacan. Espero que esteja bem! Um abraço!
@@flaviomendespsi Flávio, tenho lido muito pouco sobre Freud. Estou procurando compreender o debate contemporâneo sobre a hipótese de Deus do ponto de vista da cosmologia física. Freud não tinha noção sobre isso, em parte porque quando ele morreu em 1939 estava só começando a discussão do modelo standard do big bang, mas também porque ele era ateu dogmático e proselitista. Minhas opiniões sobre a psicanálise são muito influenciadas por minha experiêcia catastrófica ao fazer análise durante 6,5 anos, não são friamente objetivas. Mas há críticos da psicanálise que têm conhecimento profundo e parece que não tiveram experiência muito negativa como pacientes, como Mikkel Borch-Jacobsen e Jacques Van Rillaer. Aguardo teus novos vídeos.
Ei Edgar! Obrigado pelas indicações. Já conheço o Borch-Jacobsen e o Van Rillaer, do mesmo material do livro negro da psicanálise. Eles tem lugar no contexto francês, no qual a psicanálise ganhou muito impacto e presença social. Então, isso já ajuda a situar um pouco da questão. Mas sim, acredito que futuramente, no projeto Cratera, eu tratarei de algumas de suas questões também. Quanto ao que passou nessa análise, que conversamos em outros momentos ao longo dos trabalhos do canal, eu realmente sinto muito. Quanto aos estudos, desejo uma boa caminhada por aí! Até mais!
Olá! Espero que gostem do conteúdo! E, se puder, deixe um comentário contando o que achou!
Não seria adequado na Psicologia o equivalente na Medicina ao Clínico Geral, para direcionar às pessoas para uma abordagem mais sintonizada com seus problemas ???🤔
@@alexyogaluz Ei Alex! É uma situação complicada de acontecer, em especial pela diferença entre as duas profissões. A Medicina especializou ao extremo suas campo em função de suas bases nas ciências naturais que tratam o corpo qualquer outro objeto físico, podendo ser compartimentalizado ao extremo, ao ponto de termos especialidades médicas que tratam de partes muito específicas do corpo, por exemplo, o ortopedista especialista em pé.
Só que na área Psi é mais complicada, pois não é possível compartimentalizar os aspectos psicológicos dessa mesma forma. No máximo, é possível categorizar os sofrimentos para tentar situar grupos específicos, como é o que a Psiquiatria faz com o DSM, a as TCC's utilizam como base nas pesquisas de eficácia. Essa situação, diferentemente do que acontece na medicina, gera um conjunto de técnicas que, embora se proponham a tratar de problemas específicos, acabam carregando muitos aspectos parecidos entre si. Então os profissionais não estão se especializando como na medicina, apenas decorando técnicas diferentes com aspectos parecidos.
Então, muito difícil criar algo assim. No campo, os debates giram em torno de situar o que é comum entre as diferentes psicoterapias, o que é específico de cada terapia para certas condições e o que é inespecífico mas também influencia no tratamento. Esses debates ajudam a situar os profissionais diante da complexidade do trabalho.
Consegui me fazer entender?
Enquanto discutimos isso, uma epidemia de auto intitulados " psicoterapeutas" sem a menor formação e , muitas vezes, sem sequer saber o sentido do vocábulo estão invadindo as redes numa esfera alarmante, oferecendo "tratamento" e atacando a psicologia dia e noite.
É, sempre houve. Esse debate das psicoterapias tem se fortalecido nesse momento com a posição do Conselho Federal de Psicologia de regulamentar a prática da profissão. Esse movimento já aconteceu fora do Brasil e está podendo ser tratado agora. Então, é questão de tempo para que esse passo seja dado. Não acho que a psicologia conseguirá limitar à prática à sua profissão, mas ao menos dará mais consistência a ela.
Aproveitando, em Janeiro eu darei um curso pra desdobrar essa temática, chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas". Se você tiver interesse em conhecer a proposta, partilho o vídeo com mais informações: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n
Bom fim de ano! Até mais e obrigado pelo comentário!
@@flaviomendespsi Não me referi exatamente ao tema da prática restrita aos psicólogos, mas aproveitado a ocasião, penso que tal competência deveria ser estendida também aos psiquiatras e psicopedagogos. Quanto á prática leiga, não sou exatamente contra, mas enfatizo a necessidade de definirmos o conceito, as atribuições e, enfim, os limites dessas psicoterapias, bem como a de seus praticantes. Estado e Conselhos estão se omitindo sobre esse tema de maneira grave e quem já começa a sofrer as consequências é a saúde pública desse País.
Sim, tem razão. Acho que a ideia da regulamentação é pertinente e necessária, e esse é um processo que acredito que o CFP mobilizará cada vez mais. Desde 2022 ele tem dado passos nessa direção, desde a resolução sobre a prática da psicoterapia, nº 13 de 2022, até a consulta pública se a psicoterapia deveria ser prática somente da psicologia, e assim por diante. Entendo que esse debate está se construindo.
Amei sua voz
Gratidão! É bom que não se incomodará assistindo os vídeos.
Eu quero!
Que bom, Ana!
O curso Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas acontecerá no dia 25 de Janeiro em formato online, de 08h às 18h. O material será gravado e você terá acesso à uma apostila com todo o conteúdo. No vídeo a seguir eu falo de forma resumida sobre a proposta do curso, os valores e também os descontos que disponibilizei. Também fico disponível para tirar suas dúvidas, está bem? Conheça o curso aqui: ua-cam.com/video/p180mJLsn-U/v-deo.html
Olá Flávio. Eu quero saber mais sobre esse curso que você vai lecionar.
Noto que as críticas feitas por esse grupo do lobby da psicologia baseada em evidência se baseiam essencialmente numa desonestidade intelectual e na provocação de pânico publicitário. Não vi até hoje um único debate em que eles tenham se saído bem quando enfrentam um psicanalista ou epistemólogo minimamente instrumentalizado para essa discussão.
Ei Leo! Entendo. Não tenho acompanhado tanto os debates deles diretamente pois fui percebendo esse ponto que você mencionou. Preferi estudar de forma acadêmica o que tem acontecido na PBE fora do circuito do que eles tem falado exatamente para não me deixar pesar tanto suas falas. E isso realmente me ajudou a ter tranquilidade para pensar e falar dessa temática.
O curso que farei dia 25/01 tem a ver com esse estudo. Seu nome é "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas", e a proposta é contextualizar o campo da psicoterapia a partir dessas três temáticas para contribuir com bases sólidas para estudantes e profissionais interessados. Nas Histórias eu falarei sobre o desenvolvimento das psicoterapias ao longo do último século e meio para cá; nas Epistemes, os conflitos existentes entre profissionais cujas abordagens se situam nas matrizes das ciências naturais e humanas; e nas Clínicas, falarei sobre as posições institucionais e suas proposições sobre a psicoterapia.
Eu fiz um resumo da proposta e deixei mais informações como valores, descontos, assim como o link de inscrição nesse outro vídeo: ua-cam.com/video/p180mJLsn-U/v-deo.htmlsi=EvWwGnS6k7ZhwbY3
Se tiver dúvidas, fique à vontade em perguntar que respondo em breve.
Até mais!
Quem são esses diante da grandeza de Freud?
Freud começou a sistematizar sim a psicanálise e tem várias contribuições importantes. Mas teve vários erros graves. Exemplo disso foi a falta de sua análise pessoal. Teve análise por carta com Flies, teve autoanálise. Acho insuficiente. Além do que se transmitiu com isso, "eu sei, mas mesmo assim. . ." Além das questões teóricas que isso produziu. Enfim, pela sua época etc foi importante, mas devemos ter um olhar bem crítico de suas limitações. Há estudos, textos que falam bem disso.
Ei Homologaja! Olha, talvez a maior diferença entre Freud e os demais profissionais é que, por muitos motivos pessoais e sociais de sua época, a figura de Freud furou a bolha da especificidade do campo psi e se tornou um personagem popular da cultura. Tirando esse aspecto, que eleva a figura de Freud a um herói amado e odiado, não tem tantas diferenças assim não.
Na preparação do curso de Psicoterapias, que será em janeiro, eu estava lendo como Rogers, por exemplo, foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz por suas contribuições à psicologia e promover a paz. Isso não é pouca coisa. Enfim, cada autor tem contribuições muito importantes para a sociedade e as profissões, cabe a nós irmos além da aura idealizada que uns e outros tem a mais.
Faz sentido pra você?
Penso que com o passar do tempo vai ficando mais claro as questões, os problemas. Primeiro acho importante fazer a distinção entre psicologia e psicanálise. A psicanálise por ter sido introduzida nas graduações de psicologia fez uma confusão sobre isto. Mas psicanálise, ao meu ver, é um outro campo. Quando ela é tida como uma especialidade da psicologia já provoca questões que vão a adulterando. A formação do analista é algo bem específico, que a universidade não dá conta de sua complexidade, e muitas das vezes pode é atrapalhar. Primeiro por a psicanálise ser tida como uma profissão, negócio. Além disso pela questão da análise pessoal, que é a principal fator, não único, dá formação do analista. Enfim são muitas questões, nem dá p falar tudo aqui.
Concordo contigo, Rodrigo. A confusão entre psicanálise e psicologia, a diferença da formação entre ambas as propostas, a problemática da profissionalização da psicanálise etc, tudo isso é bem pertinente. Por outro lado, há questões a serem consideradas nos meandros das proposições, e também tem a responsabilidade dos próprios psicanalistas, como Freud, Lacan e outros.
Historicamente, Freud propunha sua Psicanálise como um projeto de Psicologia, mas outros autores também propuseram projetos de psicologia, como John Watson, Carl Rogers etc. Ou seja, Freud não foi o único a propor um projeto científico para a psicologia. A diferença é que ele fez isso dentro da Medicina e gradativamente fez um movimento de separação dos dois campos, ao passo que também se afastou da própria psicologia.
Em um período em que a Psicologia ainda se formava enquanto ciência e profissão, Freud, na medicina, propunha sua própria psicologia e construía um campo próprio. Isso influenciou tanto a construção da formação em psicologia e psiquiatria, mas sua proposta foi no sentido de delimitar sua própria instituição. Essa relação entre Medicina/Psiquiatria - Psicanálise - Psicologia se organizou de formas muito distintas nos diferentes países de acordo com os posicionamentos políticos, ideológicos, teóricos e técnicos dos diferentes atores em questão.
Assim, no Brasil, a psicanálise hoje é uma ocupação e não uma profissão, pois não foi regulamentada; tem sua formação acessada por leigos, com formação profissional não-médica, nas instituições de alguma forma ligadas à IPA; é uma abordagem teórica que compõe o campo da psicologia, tanto nas graduações quanto nas pós-graduações; é uma teoria tratada em programas de filosofia, pedagogia e outros. Isso mostra o quanto ela não tem uma delimitação própria, mas se tornou um campo de saber difuso em vários aspectos.
Como você disse, são muitas questões, realmente.
Obrigado por seu comentário! Em Janeiro eu farei um curso para desenvolver melhor essa temática, chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas". Será um curso inédito pois nele promoverei uma apresentação complexa do desenvolvimento das psicoterapias do último século para cá, e isso ajudará a entender em que pé estamos atualmente. Fica o convite para estar conosco, ok! Aqui eu falo mais sobre ele: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n
Até mais!
Mikkel Borch-Jacobsen diz, na p. 9 de "Freud's patients", que, dos 38 casos de terapias aplicadas por Freud que Borch-Jacobsen analisa no livro, 3 foram bem sucedidas, mas os outros 35 foram inúteis, prejudiciais ou mesmo muito prejudiciais. O que se pode pensar sobre a teoria psicanalítica freudiana e sua eficácia depois de ler os comentários de Broch-Jacobsen nesse livro?
Como disse no comentário anterior, Freud teve vários equívocos, a não era um bom clínico, pois claro, faltou sua análise pessoal, que ele mesmo defendia que era a parte principal da formação do analista. Isso deixa até hoje consequências ruins para a prática daqueles que o lê sem fazer as devidas críticas.
@@rodrigobarbosa3235 Rodrigo, não sei qual é o "comentário anterior" a que te referes.
Penso que o fato de Freud ter considerado dispensável sua análise (que julgava indispensável para os outros psicanalistas), tendo em vista que fizera autoanálise, deve ser levado em conta ao avaliar sua contribuição para a compreensão da mente humana e a psicoterapia, mas isso é muito pouco e contribui muito vagamente para a resposta a minha pergunta.
Mikkel Borch-Jacobsen disse: “Com umas poucas exceções ambíguas, como os tratamentos de Ernest Lanzer, Bruno Walter e Albert Hirst, as terapias de Freud foram amplamente ineficazes, quando não totalmente destrutivas” ("Freud's patients", p. 9). Se essas palavras corresponderem rigorosamente à verdade, parece certo que a eficácia da terapia psicanalítica freudiana é muito pequena.
O ex-psicanalista Jacques Van Rillaer disse: “Quando se faz o balanço da verificação metódica das teorias de Freud, se constata que quase todos os enunciados confirmados foram publicados antes dele, enquanto que as teses especificamente freudianas foram, em geral, refutadas” ("Les mécanismes de défense des freudiens", p.422, in "Le livre noir de la psychanalise", de Catherine Meyer (org.)). Se essa afirmativa for verdadeira, a teoria psicanalítica contribuiu muito pouco para a compreensão da mente humana e para a psicoterapia.
Edgar, acho que é importante situar um problema sobre eficácia que me pareceu que você está misturando. Primeiro, uma coisa é o teórico Freud, outra é o clínico Freud e outra, ainda, é a eficácia da psicanálise. Existem formas diferentes de avaliar cada um desses aspectos. O que Van Rillaer propõe nesse livro é discutir como foram os casos de Freud, mas isso não fala de sua eficácia pois são casos anedóticos. Isso fala mais sobre a qualidade da prática de Freud.
Todos os clínicos tem casos problemáticos, problemas de efetividade etc. Pacientes evadem das terapias, não encontram melhoras em vários tratamentos. Quantos não são os pacientes que evadem de psiquiatras, que não dão conta de seguir o tratamento, ou mesmo de psicoterapias e outras propostas, e nem por isso estamos falando da eficácia desses tratamentos. A eficácia é avaliada com pesquisa, não na clínica.
Então, sua conclusão de que "Se essas palavras corresponderem rigorosamente à verdade, parece certo que a eficácia da terapia psicanalítica freudiana é muito pequena." não tem fundamento. Ao ler Van Rillaer, no máximo, você poderá concluir que Freud tinha problemas em sua prática, não sobre a teoria ou a técnica psicanalítica como um todo, já que elas são maiores que Freud, desenvolvidas por muitos profissionais ao longo do século e parte de muitos debates, estudos etc.
Espero ter contribuído. E se te interessar, eu darei um curso chamado "Psicoterapias: Histórias, Epistemes, Clínicas" em janeiro, e falarei de algumas dessas questões nessa discussão. Se quiser conhecer a proposta, falo dela aqui: ua-cam.com/video/iodkSaN5FJw/v-deo.htmlsi=LRUwNsVCtlARQ56n
Até mais! Bom fim de ano!
O ex-psicanalista Jacques Van Rillaer faz, em "Les illusions de la psychanalyse", críticas muito contundentes às teorias psicanalíticas freudianas e lacanianas. Para mim, as críticas de Van Rillaer parecem bemfundamentadas. Gostaria de conhecer opiniões divergentes da minha. Devo admitir que conheço superficialmente os trabalhos desse ex-psicanalista.
Eu penso que a análise lacaniana, que também é de certa forma freudiana, pois o próprio Lacan dizia ser freudiano, tem várias limitações. Lacan avança em relação ao Freud, mas também comete vários erros, que os lacanianos não querem reconhecer, pois o idolatram. Acho que o principal erro do lacan foi ter ocupado o lugar do poder, como muito bem denuncia Safatle em MANEIRAS DE TRANSFORMAR MUNDOS . Ocupar o lugar do poder na psicanálise é hipnotizar as pessoas, devido a questão da transferência também nos locais de ensino e transmissão. Já fui membro de escola lacaniana e falo do que senti na pele. Enfim, a psicanálise é fabulosa, os psicanalistas é que não são legais, rs!
@@rodrigobarbosa3235 Rodrigo, gostaria de saber como interpretas o que Lacan disse nas duas citações abaixo, extraídas de bibliografia comentada sobre as críticas à psicanálise que escrevi:
Lacan, Jacques. "Intervention à Bruxelles". Publiée dans "Quarto (Supplément belge à La lettre mensuelle de l’École de la cause freudienne", 1981, n.2).
Lacan afirmou nesse texto: “Nossa prática [terapia psicanalítica] é uma fraude, pelo menos considerada a partir do momento em que partimos desse ponto de fuga”. No original: “Notre pratique est une escroquerie, du moins considérée à partir du moment où nous partons de ce point de fuite”.
No "Séminaire de Bruxelles", 1977, Lacan afirmou: “Nossa prática [terapia psicanalítica] é uma fraude: blefar, fazer as pessoas piscarem, deslumbrá-las com palavras que são farsa”. No original: “Notre pratique est une escroquerie: bluffer, faire ciller les gens, les éblouir avec des mots qui sont du chiqué”.
Não encontrei, para essas duas citações, disponíveis online, informações precisas sobre os contextos que permitam compreender com segurança o que Lacan quis dizer.
Ei Edgar, quanto tempo! Parece que você estava só esperando o momento para voltar com tudo, não é!? Eu voltei e você voltou também trazendo suas críticas ao Freud. Toda situação é uma boa oportunidade pra sentar uma pedrada em finado Freud, não é mesmo? Estava lendo seus comentários e vi que são inclusive alguns que já comentei em outros vídeos, as mesmas citações, mesmos comentários. Dessa vez deixarei em aberto esse debate, mas pretendo fazer um vídeo para discutir essa mitificação do Freud - e talvez do Lacan. Espero que esteja bem! Um abraço!
@@flaviomendespsi Flávio, tenho lido muito pouco sobre Freud. Estou procurando compreender o debate contemporâneo sobre a hipótese de Deus do ponto de vista da cosmologia física. Freud não tinha noção sobre isso, em parte porque quando ele morreu em 1939 estava só começando a discussão do modelo standard do big bang, mas também porque ele era ateu dogmático e proselitista.
Minhas opiniões sobre a psicanálise são muito influenciadas por minha experiêcia catastrófica ao fazer análise durante 6,5 anos, não são friamente objetivas. Mas há críticos da psicanálise que têm conhecimento profundo e parece que não tiveram experiência muito negativa como pacientes, como Mikkel Borch-Jacobsen e Jacques Van Rillaer.
Aguardo teus novos vídeos.
Ei Edgar! Obrigado pelas indicações. Já conheço o Borch-Jacobsen e o Van Rillaer, do mesmo material do livro negro da psicanálise. Eles tem lugar no contexto francês, no qual a psicanálise ganhou muito impacto e presença social. Então, isso já ajuda a situar um pouco da questão. Mas sim, acredito que futuramente, no projeto Cratera, eu tratarei de algumas de suas questões também.
Quanto ao que passou nessa análise, que conversamos em outros momentos ao longo dos trabalhos do canal, eu realmente sinto muito. Quanto aos estudos, desejo uma boa caminhada por aí! Até mais!