Hegel (parte 1): Causa e Razão.

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  • Опубліковано 10 кві 2024
  • Neste vídeo abordamos o livro de Francisco Pereira Nóbrega: Compreender Hegel. A partir de uma leitura estrutural podemos abordar dois conceitos chaves da filosofia hegeliana, causa e razão, dois conceitos que irão nos acompanhar no processo de compreensão de origem do universo.
    A geografia faz alusão à Marx, mas raramente procura as origens de seu pensamento. Neste sentido, é fundamental, para o(a) geografo(a), compreender o pensamento de Hegel, basta de fugir das discussões necessárias, se a geografia quer participar dos debates importantes que a cerca, deve se arriscar para além do seu próprio departamento. Ainda mais, se quer se chamar de crítica, não pode deixar de fora pensadores como Kant e Hegel.
    Com base neste princípio, esta série de vídeos irá buscar estabelecer as bases fundamentais do pensamento de Hegel, a partir de uma leitura estrutural.
    Críticas, comentários, discussões, deixem seus comentários.

КОМЕНТАРІ • 8

  • @marcelomatias1923
    @marcelomatias1923 3 місяці тому +1

    Oi Prof. Léo, eu tenho uma questão. Após o século XIX houve um movimento filosófico contrário ao trabalho de Hegel, que eventualmente levou ao positivismo lógico. Para eles o idealismo de Hegel era obscuro e dogmático. Eles citam vários exemplos de passagens de Hegel que são (ou parecem) incompreensíveis. Não digo que o positivismo não tenha suas falhas, mas de fato ele retomou a discussão empiricismo x idealismo (ou racionalismo).
    A minha pergunta é: como seria possível numa discussão científica usar argumentos idealistas sem raízes empíricas?

    • @Geografando1103
      @Geografando1103  3 місяці тому +1

      Ótima pergunta, muito obrigado.
      Terei dificuldade de respondê-la, provavelmente por conta de minha própria incompetência. Mas trata-se de um debate muito amplo.
      Acredito que seria necessário pensar sua pergunta em algumas partes, certamente essa questão abre espaço para um livro inteiro. Vamos lá então.
      Acredito que primeiro devemos começar pela questão da ciência. O sistema hegeliano não foi construído com o pressuposto de ser científico, mas sim filosófico. Neste ponto se faz necessária a diferenciação entre as duas coisas. De maneira resumida e abrindo espaço para muitas discussões, podemos considerar que a filosofia tende a totalidade e a ciência a fragmentação do conhecimento. Hegel em seu sistema não faz diferenciação metodológica entre ideia, natureza ou espírito. Daí que o conjunto de todas as ciências são explicadas por princípios comuns, algo que é impossível na ciência que, apesar de qualquer interdisciplinaridade, não é capaz de reunir os métodos das ciências humanas, exatas e biológicas numa estrutura coerente. Cada área da ciência e, ainda mais, cada disciplina científica, tratará de objetos específicos, num processo de fragmentar a realidade e não necessariamente reconstituir o todo. Neste caminho, se perde o conceito de totalidade, muito importante em Hegel.
      Daí acho que do primeiro ponto devemos pensar que transformar o hegelinismo, na totalidade de suas ideias, num sistema científico se torna uma impossibilidade.
      A segunda parte da questão é que o hegelianismo não trabalha com conceitos empíricos, mas com a ideia, que é abstrata ou concreta, assim como com a lógica. Mesmo o concreto aqui não pode ser confundido com o espírito, para facilitar seria interessante compreender o concreto como as ideias desdobradas da ideia fundamental, como as ideias que ganham corpo na alienação da ideia fundamental, portanto, na alienação da ideia que podemos categorizar como natureza, talvez o termo “objetivo” em contraposição ao “subjetivo” seria mais interessante. Em Hegel, a natureza é a alienação da ideia, traduzida num primeiro momento como espaço, se torna exterioridade, daí, a partir da noção de natureza, as ideias no movimento dialético começam a ganhar concreticidade, mas não materialidade, não são empíricas, porque para Hegel não existem, apesar de serem reais. Para exemplificar, são como o conceito de equidistância, as curvas paralelas (num mapa topográfico) possuem equidistância, mas a equidistância apesar de ser real (sendo uma ideia por trás da distância constante entre as curvas), não existem. Tem realidade, mas não existência.
      Daí desdobramos que não usaríamos de qualquer forma argumentos empíricos numa discussão idealista. Sendo os filósofos e cientistas empíricos, geralmente críticos das correntes hegelianas e principalmente das correntes idealistas.
      Então eu diria que seria difícil pensar Hegel numa condição científica. Enquanto que do ponto de vista empírico os idealistas se contrapõem a questão da experiência.
      Como comentei no vídeo, os realistas e empiristas pensam conforme a causa, enquanto os idealistas segundo a razão, aí está um ponto de conflito entre o pensamento empírico e idealista.
      Talvez não tenha te respondido da maneira adequada, pois o tema é complicado. Mas espero que gere uma boa discussão.

    • @Geografando1103
      @Geografando1103  3 місяці тому

      Um outro ponto é que a ciência não é necessariamente empírica. As matemáticas, por exemplo, são dedutivas, espiritualistas e idealistas, daí terem influenciado tanto o pensamento hegeliano e cartesiano. Então, não ser empirista não seria um problema.
      O verdadeiro problema do hegelianismo não é, portanto, o fato de se contrapor ao empirismo, mas o fato de que possui uma teleologia, ou seja, uma finalidade, diferente da ciência. A tendência hegeliana de totalidade impede esse desdobramento na ciência. O que ainda não nos impede de pensar algumas questões lógicas interessantes para a física, como a discussão sobre o argumento de causa e de razão. O difícil será convencer um físico de que no princípio era o ser, o nada e o devir hahaha. Mesmo Hegel não pretendia entender esse sistema do ponto de vista do fenômeno. De modo que ao colocar que no princípio era o ser e o nada, não necessariamente Hegel pensa o conjunto dessas categorias como perambulando soltas no universo. O argumento hegeliano é mais lógico que cronológico nesse sentido. Por outro lado, muito do pensamento hegeliano se rende também há uma espécie de espiritismo, o conceito de ideia absoluta em Hegel, por exemplo, se aproxima muito do nosso conceito geral de Deus e nesse ponto o hegelianismo talvez possa até se aproximar mais de uma discussão teológica do que de uma discussão científica. Este ponto é interessante para pensar que o hegelianismo, talvez seja algo até mesmo contraposto à ciência.
      Agora, alguns conceitos hegelianos são muito importantes para a ciência. Por exemplo, aparência e essência. Daí Marx dizer: se a aparência fosse igual a essência, a ciência seria desnecessária.
      Enfim, a partir de Hegel podemos tomar muitos caminhos diferentes.
      Sobre a discussão de que algumas passagens de Hegel são impossíveis de se compreender, é interessante notar que essa mesma denotação surgiu em Lacan. Lacan se defendia desse ponto sobre o pretexto de que assuntos complexos demandam uma linguagem complexa.
      Mas é isto, daí podemos produzir um bom debate.

    • @marcelomatias1923
      @marcelomatias1923 3 місяці тому +1

      Oi Prof. Léo, muito obrigado pela resposta. Para mim ficou claro a diferença entre ciência e filosofia como movimentos opostos de fragmentação e totalidade. E também o conflito entre o pensamento empírico e idealista com base na diferença entre causa e razão.
      A minha pergunta que segue (como num bom debate!) seria em relação à questão da fragmentação e totalidade na ciência e filosofia. Por um lado a ciência e a filosofia são movimentos opostos; por outro lado a ciência, enquanto se fragmenta, também mantém um movimento de retorno à totalidade, como você muito bem comentou com a questão da interdisciplinaridade, apesar de que certamente não perfeito com a filosofia pelo simples motivo de que a realidade empírica nunca pode ser completamente totalizante, já que não podemos experimentar todos os elementos da realidade.
      Esse debate está presente por exemplo na obra do Prof. Milton Santos que faz exatamente a crítica da ciência sem o movimento de retorno à totalidade. O que eu acho interessante é que no sistema de conceitos do Prof. Milton a categoria 'totalidade' se torna uma base da Geografia porque o espaço em si é uma totalidade, então o objeto da Geografia é uma totalidade (nesse caso uma totalidade menor). Não seria então a ciência (ou deveria ser) um movimento contínuo entre a fragmentação e a totalidade? E aí nesse caso haveria um breve encontro entre a ciência e a filosofia de Hegel.
      Vou explicar por que coloco essa pergunta. Vindo das engenharias, eu vejo a importância da totalidade, por isso estou acompanhando geografia e outras áreas do conhecimento, mas ainda não encontrei uma forma ou sistema de conectar essas diferentes disciplinas. Para mim elas ainda estão nas suas caixinhas. Talvez como você bem mencionou, existe uma limitação inerente à interdisciplinaridade. Por outro, eu me pergunto se o real problema está na falta do movimento de retorno à totalidade? Eu vejo isso claramente na minha experiência na universidade e no trabalho muitas vezes 'miópico' das engenharias.

    • @Geografando1103
      @Geografando1103  3 місяці тому

      @@marcelomatias1923 excelente colocação. Justamente poderia ocorrer esse retorno para totalidade, talvez a questão mais correta seja uma questão de teleologia, de fundamentos e direção do pensamento. A ciência, no geral, não está preocupada com esse retorno, ela é muito mais utilitarista, daí que pra ela, geralmente basta fragmentar, desde que isso torne o objeto operacional.
      A engenharia mesmo é um caso. Nas ciências exatas aplicadas a noção de totalidade é uma das últimas necessidades. O que não descarta o fato de que engenheiros brasileiros, como Roberto Simonsen, possuíssem um pensamento tão generalista que viam a importância da sua contribuição de engenheiros para diversas áreas. Não por acaso foi o engenheiro, citado acima, que criou o curso de história econômica da USP, que até hoje compõe as disciplinas de graduação e compartilha uma grande área no mestrado ao lado de história da cultura.
      Mas aí entra a questão que você colocou, as ciências empíricas, mesmo quando pretendem, não conseguem fazer esse retorno, porque elas são incapazes de uma generalização plena. O professor Milton Santos muito bem colocou que apenas no século XX a geografia foi capaz de uma verdadeira totalidade do espaço geográfico, porque neste século o espaço do mundo se tornou uma totalidade empírica: todos os lugares sofrem a influência direta ou indireta do homem. Daí o professor Milton até discutir que, sendo o espaço uma totalidade, talvez a geografia só tenha feito pleno sentido, nessa perspectiva, no século XX. Essa discussão está no livro “Metamorfoses do Espaço Habitado”, um livro de forte conteúdo hegeliano.
      Eu vejo na ciência uma grande possibilidade de totalidade, mas apenas no interior das ciências exatas. É justamente na matemática, e aí na engenharia você deve tirar bom proveito disso, que se tem a possibilidade da criação de sistemas lógico-racionais, sem abrir espaço para brechas. Nas ciências humanas, por outro lado, é muito difícil conduzir à um sistema completo, porque nós não trabalhamos com o método matemático-dedutivo, não há regras reais e plenas.
      Por outro lado, para pensarmos aqui a dificuldade desse debate, o próprio Hegel considera o fator homem e história em seu pensamento, mas o faz pela filosofia e não pela ciência. Talvez essa noção que você busca surja numa outra vertente filosófica, a fenomenologia. Edmund Hurssel buscou realizar uma investigação das ciências humanas e propôs uma visão de conhecimento puro para ela. Apesar de a preocupação de Hegel não ser exatamente o conhecimento, em sua discussão sobre o movimento dialético ascendente e descendente, talvez Hurssel possa lhe oferecer algumas perspectivas.
      Hurssel entendia que o grande problema era não ter encontrado as essências da ciência do homem, e as essências garantiriam não só o encontro entre todas as ciências do homem, mas também a integração das diversas ciências.
      Hurssel é matemático de formação, e você pode encontrar uma boa discussão sobre o tema no livro: Europa, crise e renovação, acredito que o primeiro e segundo artigo do livro sejam interessantes para esse seu pensamento. Mas aí estamos pensamento a fenomenologia, que apesar de manter uma aparente aproximação com o pensamento hegeliano, por conta da fenomenologia do espírito (e certos paralelos são até possíveis), se trata de uma outra escola filosófica, onde vamos ter pensadores como Edmund Hurssel, Sartre e Heidegger.
      A dificuldade de usar Hegel para falar de ciência é que temos justamente que adaptar seu pensamento filosófico para o pensamento científico. Para Hegel, a ciência era apenas um momento de seu sistema filosófico. Em Hurssel essa aproximação fica mais clara pois de fato a aproximação entre as ciências a partir de categorias puras foi uma realidade.
      E claro que você ainda consegue encontrar essas aproximações do conhecimento em outros filósofos como Kant em sua crítica da razão pura, por exemplo.
      O livro de Hurssel que eu te mencionei você consegue encontrar facilmente em PDF na internet.

    • @Geografando1103
      @Geografando1103  3 місяці тому

      @@marcelomatias1923 essa crítica do professor Milton Santos que você colocou é muito interessante também. Esse retorno para totalidade é a necessidade de melhor trabalhar uma geografia geral, hoje o que vemos é quase uma ausência desse geografia geral, basta olharmos os trabalhos recentes na universidade. Há uma forte tendência de especialização, não por acaso comentarei sobre isso no próximo vídeo do canal, pois penso que a geografia está em crise, sendo um dos principais sintomas dessa crise a hiper especialização e o cientificismo (ou ideologia da ciência).
      Daí, talvez fosse melhor assumir que a geografia é filosofia e não ciência, mas isso impacta uma série de interesses, inclusive no mercado de trabalho.
      De qualquer forma, concordo com as coisas que você disse e achei muito interessante sua iniciativa de buscar uma aproximação entre as ciências, acredito que isso possa resultar em bons frutos e a depender do desenvolvimento de suas ideias, você pode pensar em publicação um artigo, ou num mestrado/doutorado, e mesmo, num livro, o que seria muito interessante, pois o tema é vasto e necessário.