THALASSA

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  • Опубліковано 19 лют 2023
  • Thalassa é, no mito grego, uma das primeiras personificações femininas do mar Mediterrâneo e, por extensão, de todo o oceano. Ela foi a mãe de todos os peixes e seres do mar. Nesta série fotográfica, o mar é o elemento central, entidade permanente dentro de nós, transbordante de infinitas marés de memórias e fantasias.
    Sândor Firenczi, psicanalista, publicou em 1924 um ensaio sobre a genitalidade entítulado Thalassa. Este ensaio surpreende pela riqueza ideativa e transgressiva, característica do pensamento do homem atravessado pelas forças da natureza, retirando o humano de uma superioridade que dominou e ainda domina a lógica colonizadora. Em Thalassa, Firenczi coloca em cena o homem e sua relação íntima com o cosmos na materialização do universo psíquico realizado através do corpo, do corpo como portador de uma linguagem arcaica. Questiona a racionalidade decorrente da ruptura realizada no pensamento ocidental revelando o outro que habita em nós, um avesso que se expressa na emanação rítmica com o universo. Herdeiro de Freud, levando adiante sua teoria da genitalidade, propôs em Thalassa à constituição do homem e seu confronto com as forças que o cercam e o cercaram desde tempos inaugurais resgatando a teoria do símbolo, associado ao prazer em que o organismo e o psiquismo são realidade total do ser vivo. Nos fala de um bio desejante pois é no corpo onde se atualizam todos os processos evolutivos, do protozoário ao homem.
    Didi_Huberman, historiador e crítico de arte, vem através de suas obras contribuindo para pensar sobre processos de vida. Em seu livro "A imagem sobrevivente" aponta duas concepções sobre a formação dos signos: a primeira evoca o filósofo Ernst Cassier (1874- 1945) que estabelece o campo simbólico contemplado pelos entrelaçamentos de significante e significado. Segundo Cassier, todo o conhecimento humano depende do poder de formar experiências mediante algum tipo de simbolismo. A segunda concepção se refere ao historiador da arte Aby Warburg, que propôs o caos como parte do campo simbólico. O que implica no contato com formas e forças, com os objetos que povoam o mundo e transita entre o mundo interior e o mundo exterior.
    Através desta concepção de Warburg, podemos entender como as experiências estéticas oferecem, por sua capacidade afetável, a chance de operar novos arranjos no campo simbólico.
    A partir destes conceitos e estudos o projeto autoral Thalassa tem o objetivo de expressar através da fotografia contemporânea a unicidade entre corpo e alma e despertar ressonâncias psíquicas e invisíveis entre nós. Concomitantemente busca mostrar através da poética a consciência da permanência em nós do eco da trajetória existencial da vida no planeta e o entendimento do processo de simbolização das marcas pelo corpo.
    Na iconografia, Thalassa é representada como um híbrido de espécimes e deidades: como uma mulher meio submersa no mar, vestida com faixas de algas marinhas e com chifres de garras de caranguejo. Em uma das mãos ela segura o remo de um navio e, na outra, um golfinho.
    Afirmando essa relação metamórfica, como defende Emanuele Coccia, somos todos - animais, vegetais, minerais - seres aparentemente distintos, mas infimamente conectados, somos partes integrantes, fundantes e evanescentes que formam, deformam e transmutam a existência da vida no planeta. Somos a parte que integra o todo telúrico, num ir e vir de acasos, confluências, extinção, criação e reaparecimento.
    A observação cotidiana à beira mar me permite a experiência sensível de pescar acasos e mergulhar em mutações. Assim como a formação e rebentação das ondas, o pensamento racional dá lugar ao devaneio, à ambiguidade, às correntes de incertezas e criações abissais.
    Desta forma compreendo a vida, como um processo de transição onde tudo se desintegra, se desalinha e se desequilibra para instantes depois e em movimentos expansivos, voltar a integrar-se metamorfoseada em outros devires.
    Nas fotografias enquadro as marés, os ventos, as ondas, os corpos, os contornos, as areias, as sombras, os vestígios, as respirações, meus afetos.
    Algumas vezes, o autorretrato fragmentado me corporifica, matéria frágil e forte da natureza. Sobreposições, saturações das sombras, luzes difusas, espelhamentos, catalogação de seres marinhos transmutados em seres outros, uma certa evidencia plástica que evoca o campo onírico surrealista e o cosmo.
    A partir destes conceitos busco criar diálogos entre o sentir corpóreo, o fazer poético, o pensar fotográfico e o materializar acasos. Em momento posterior à elaboração das fotografias e sua impressão no papel proponho a co-autoria criativa de Thalassa: mergulhos das fotografias nas ondas marítimas para serem inscritas suas mensagens.
    A reação química do sal, da água e da tinta sobre o papel, além dos vestígios de partículas de areia e outros organismos, colaboram na materialidade da fotografia e imprimem um gesto singular em cada fotografia.
    GISA ARAUJO

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