Carlos Drummond de Andrade - A máquina do mundo

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  • Опубліковано 19 жов 2024
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КОМЕНТАРІ • 9

  • @cruzmaltino-rj8175
    @cruzmaltino-rj8175 3 роки тому +3

    Obrigado Drummond, Mallet, e M. Auxiliadora. Demais, demais.
    Cruz-maltino RJ.

  • @joserequeijo2035
    @joserequeijo2035 3 роки тому +4

    Morreu um poeta, mas sua obra é eterna.Obrigado Drummond. Nosso mineiro.

  • @pastoreiro22
    @pastoreiro22 5 років тому +37

    E como eu palmilhasse vagamente
    uma estrada de Minas, pedregosa,
    e no fecho da tarde um sino rouco
    se misturasse ao som de meus sapatos
    que era pausado e seco; e aves pairassem
    no céu de chumbo, e suas formas pretas
    lentamente se fossem diluindo
    na escuridão maior, vinda dos montes
    e de meu próprio ser desenganado,
    a máquina do mundo se entreabriu
    para quem de a romper já se esquivava
    e só de o ter pensado se carpia.
    Abriu-se majestosa e circunspecta,
    sem emitir um som que fosse impuro
    nem um clarão maior que o tolerável
    pelas pupilas gastas na inspeção
    contínua e dolorosa do deserto,
    e pela mente exausta de mentar
    toda uma realidade que transcende
    a própria imagem sua debuxada
    no rosto do mistério, nos abismos.
    Abriu-se em calma pura, e convidando
    quantos sentidos e intuições restavam
    a quem de os ter usado os já perdera
    e nem desejaria recobrá-los,
    se em vão e para sempre repetimos
    os mesmos sem roteiro tristes périplos,
    convidando-os a todos, em coorte,
    a se aplicarem sobre o pasto inédito
    da natureza mítica das coisas,
    assim me disse, embora voz alguma
    ou sopro ou eco ou simples percussão
    atestasse que alguém, sobre a montanha,
    a outro alguém, noturno e miserável,
    em colóquio se estava dirigindo:
    "O que procuraste em ti ou fora de
    teu ser restrito e nunca se mostrou,
    mesmo afetando dar-se ou se rendendo,
    e a cada instante mais se retraindo,
    olha, repara, ausculta: essa riqueza
    sobrante a toda pérola, essa ciência
    sublime e formidável, mas hermética,
    essa total explicação da vida,
    esse nexo primeiro e singular,
    que nem concebes mais, pois tão esquivo
    se revelou ante a pesquisa ardente
    em que te consumiste... vê, contempla,
    abre teu peito para agasalhá-lo."
    As mais soberbas pontes e edifícios,
    o que nas oficinas se elabora,
    o que pensado foi e logo atinge
    distância superior ao pensamento,
    os recursos da terra dominados,
    e as paixões e os impulsos e os tormentos
    e tudo que define o ser terrestre
    ou se prolonga até nos animais
    e chega às plantas para se embeber
    no sono rancoroso dos minérios,
    dá volta ao mundo e torna a se engolfar
    na estranha ordem geométrica de tudo,
    e o absurdo original e seus enigmas,
    suas verdades altas mais que tantos
    monumentos erguidos à verdade;
    e a memória dos deuses, e o solene
    sentimento de morte, que floresce
    no caule da existência mais gloriosa,
    tudo se apresentou nesse relance
    e me chamou para seu reino augusto,
    afinal submetido à vista humana.
    Mas, como eu relutasse em responder
    a tal apelo assim maravilhoso,
    pois a fé se abrandara, e mesmo o anseio,
    a esperança mais mínima - esse anelo
    de ver desvanecida a treva espessa
    que entre os raios do sol inda se filtra;
    como defuntas crenças convocadas
    presto e fremente não se produzissem
    a de novo tingir a neutra face
    que vou pelos caminhos demonstrando,
    e como se outro ser, não mais aquele
    habitante de mim há tantos anos,
    passasse a comandar minha vontade
    que, já de si volúvel, se cerrava
    semelhante a essas flores reticentes
    em si mesmas abertas e fechadas;
    como se um dom tardio já não fora
    apetecível, antes despiciendo,
    baixei os olhos, incurioso, lasso,
    desdenhando colher a coisa oferta
    que se abria gratuita a meu engenho.
    A treva mais estrita já pousara
    sobre a estrada de Minas, pedregosa,
    e a máquina do mundo, repelida,
    se foi miudamente recompondo,
    enquanto eu, avaliando o que perdera,
    seguia vagaroso, de mãos pensas.

  • @rangelgomez9058
    @rangelgomez9058 2 роки тому +1

    Eu também já encontrei minha Máquina do Mundo...

  • @joaoviniciusbrito3355
    @joaoviniciusbrito3355 5 років тому +3

    Espetacular!

  • @daniela81157
    @daniela81157 6 років тому +3

    Obrigado!

  • @leilacarvalho5087
    @leilacarvalho5087 2 роки тому +1

    Professor, poderia disponibilizar o link da obra "A máquina do tempo repensada", de Haroldo de Campos?
    Obrigada