Hermes Rodrigues da Fonseca - Biografia

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  • Опубліковано 5 вер 2024
  • Pé-frio? Nada disso. Como se pode dizer azarado alguém que, limitado e trapalhão, não só foi eleito presidente da República como arrumou um casamento com uma mulher jovem, rica, bonita e talentosa? Azar de quem estivesse em seu caminho, como a monarquia portuguesa, que deixou de existir horas depois de o rei Manuel II receber o então presidente eleito brasileiro para jantar. Azar maior dos brasileiros, submetidos a um governo despótico por quatro anos que parecerem dez. Governo não propriamente dele. O mando era do senador gaúcho Pinheiro Machado, dono de nove entre dez lealdades de políticos regionais. Hermes da Fonseca, porém, parece ter decidido sozinho colocar filhos e primos em altas posições e decretar estado de sítio com o fim declarado de prender jornalistas e caricaturistas que o ridicularizavam.
    Filho do marechal Hermes Ernesto da Fonseca, a parte inteligente da família de seu avô, Manuel Mendes, Hermes filho saiu ao tio, o medíocre golpista Deodoro, “monarca de papelão”, na precisa definição que lhe deu Benjamin Constant, artífice da deposição e exílio de Pedro II. Nos tempos inaugurais da República, Hermes filho passou rapidamente de capitão a general, primeiro pela generosidade do tio, em seguida por aderir a seu algoz, Floriano, por ocasião da Revolta da Armada.
    Embora tendo como professor Benjamin Constant na Escola Militar, Hermes não leu ou não assimilou o catecismo de Comte, passando ao largo da filiação castiça ao positivismo. O fato de ter nascido no Rio Grande do Sul, em que o castilhismo foi versão pragmática da ideologia para justificar a devoção do grupo mandonista ao poder, combinado ao bom e velho conservadorismo de seu pai, terão influenciado em seu posterior legalismo, tendo ficado ao lado de Prudente de Morais e de Rodrigues Alves quando foi o caso de ter de escolher. Hermes da Fonseca reprimiu os jacobinos exaltados do Exército, no que conquistaria o melhor dos mundos: a confiança dos líderes civis sem a mágoa dos reprimidos, que diante da perspectiva de ter um militar no posto mais alto da República relevariam desacertos do passado.
    O deputado Mário Hermes, filho do mandatário, inaugurou a prática de cooptar trabalhadores ao sindicalismo do Papai-Estado contra os “malvados capitalistas”. Organizou um “Congresso Operário” no palácio Monroe, o governo cuidando de transporte e alimentação dos 187 delegados. Décadas depois, outro chimango gaúcho como Hermes e Pinheiro Machado, Getúlio Vargas, levaria tal discurso e tal prática à perfeição. Os operários de 1912 ficaram um tanto desconfiados do que chamaram “sindicalismo amarelo”. Já preferiam vermelho. A propósito, o Exército, até 1945 pelo menos, seria ou pareceria de esquerda, porque conviesse e pela filiação ideológica ao positivismo, anticonservador. Outra ideia de lavra própria do marechal foi inaugurar no Brasil o uso da “faixa presidencial”, adereço ridículo que faria os presidentes dali em diante parecerem torcedores do Vasco ou da Ponte Preta.
    Findo o governo, Hermes foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul. Desistiu de tomar posse quando se deu conta do tamanho de sua impopularidade. Foi curtir a vida com Nair na Suíça até 1920. Quando voltou ao Brasil, envolveu-se na campanha de Nilo Peçanha à sucessão de Epitácio Pessoa. Nilo manchava a biografia, meritória até ali, com o apoio do seabrismo baiano, do borgismo gaúcho e do golpismo fardado, que voltava a se assanhar. Derrotada a chamada “reação republicana”, Hermes se envolveu numa rebelião militar para destituir o presidente. Ficou preso por seis meses num navio fundeado na Guanabara. Depois disso, subiu a serra e até o fim da vida permaneceu hóspede da mansão do sogro em Petrópolis.
    Em 1975, Nair de Tefé se autobiografou. Quem a ler descobrirá que ela nunca foi feminista, como alguns passaram a advogar. No livro, ela garantiu que Hermes da Fonseca era “alma generosa, doce e suave”, além de “culto e inteligente”. Na primeira afirmação, dá para acreditar, se restrita, claro, à esposa, aos filhos e demais parentes.

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