“Cursar jornalismo me abriu uma visão crítica: aprendi o que era ser negro.”

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  • Опубліковано 14 жов 2024
  • Por Sérgio Tulio Caldas (*)
    60% dos jovens de periferia
    sem antecedentes criminais já sofreram violência policial
    A cada quatro pessoas mortas pela polícia, três são negras
    Nas universidades brasileiras, apenas 2% dos alunos são negros
    A cada quatro horas, um jovem negro morre violentamente em São Paulo
    Aqui quem fala é Primo Preto, mais um sobrevivente
    (Abertura da música “Capítulo 4, Versículo 3”, Racionais MC’s)
    Por volta dos seus poucos 10 anos de idade, o garoto Luis Fernando Filho, que tinha nas ruas empoeiradas do humilde bairro João de Barro, periferia de São Gabriel (RS), seus únicos locais para jogar bola e brincar, ouviu pela primeira vez a mensagem do hip-hop nacional. Mais do que a batida sincopada do rap, que como magia fazia o corpo balançar, foram as rimas faladas e enérgicas dos Racionais que tocaram a alma do guri. “Foi quando me despertei. Era uma época em que a gente não se autoafirmava como preto. Entendi que muitas coisas faziam sentido: a discriminação por causa da cor da pele, por causa do lugar onde eu morava”.
    As letras dos grupos de rap que o menino aprendeu a gostar não narravam apenas as tragédias das periferias que o Brasil virava as costas. Especialmente exaltavam a afirmação e o orgulho negro.
    Ainda pequeno, Luis Fernando, estava naquele momento a construir o perfil do jovem jornalista que é hoje: um profissional, um cidadão acima de tudo, como gosta de enfatizar, que confronta o racismo e as violências sociais na vida diária. Que abraça atitudes antirracistas porque são elas o caminho para as mudanças necessárias no Brasil, como ele defende.
    Como a vida de muitos jovens que crescem nas periferias carentes do País, a de Luis Fernando igualmente se desenrolou com dificuldades. Teve que fazer os primeiros anos da escola longe de casa, ficar na casa das tias enquanto a mãe e o pai corriam atrás do ganha pão. Depois, precisou se afastar da família e mudar de cidade para ingressar na Universidade Federal de Santa Maria. E então, viver ainda mais na dureza, dormir em moradias estudantis. Tanto esforço porque tinha um sonho: cursar jornalismo, aprender a se comunicar para beneficiar outras pessoas.
    Na universidade, começou a se defrontar com questões que não estava acostumado a refletir com profundidade. “Aprendi o que era ser negro no Brasil, o que era ser negro no mundo. O curso de jornalismo me abriu uma visão crítica, me ajudou a me formar como pessoa, com referencias culturais e dos movimentos negros e suas lutas”.
    Em 2018, ano em que se formaria, surgiu a oportunidade de entrar em um concurso de textos para ser repórter do Torcedores.com, site dedicado aos esportes. Surpresa: um dia, o celular tocou e do outro lado da chamada de vídeo estava o Mauro Beting, um dos mais respeitados jornalistas de esportes do País, informando que ele tinha passado no teste.
    A vida de Luis Fernando deu um giro. Da produção de um podcast sobre futebol africano, uma novidade e tanto na área esportiva no Brasil, ele embarcou em uma longa viagem de ônibus e se mandou para o Rio de Janeiro. Na cidade, no início nem tão maravilhosa, passou perrengues durante a pandemia, fez bico de garçom, pensou em largar tudo e voltar para o Sul. Seu sonho, porém, não podia ser abandonado. É sobre sonhos, combate ao racismo e entendimentos da vida e da profissão o depoimento de Luis Fernando Filho. A bola está em jogo. Um jogo bom de se ver, exemplar, que segue embalado pelos Racionais. E pelo olhar idealista desse jovem jornalista.
    É necessário sempre acreditar que o sonho é possível
    Que o céu é o limite e você, truta, é imbatível
    Corrida hoje / Vitória amanhã
    Nunca esqueça disso, irmão
    Acreditar e sonhar
    (A vida é um desafio / Racionais MC’s)
    O relato do jornalista Luis Fernando Filho é o oitavo programa do Acervo Jornalista Gustavo de Lacerda que vai ao ar, na terça-feira, 9/7, às 11h, no canal ABI TV no UA-cam, um programa da diretoria de Igualdade Étnico-Racial da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) em parceria com o Departamento de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), representado pelos professores Mauro Silveira e Carlos Alves. A série objetiva preencher uma lacuna crucial na preservação da memória e da história da imprensa negra no Brasil e, ao mesmo tempo destacar a importância da diversidade étnico-racial no jornalismo.
    Conheça outros programas do Acervo Jornalista Gustavo de Lacerda no link abaixo: • ACERVO JORNALISTA GUST...
    (*) Sergio Tulio Caldas, jornalista e integrante da diretoria de Igualdade Étnico-Racial da ABI.

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