Maria Toscano pp. 105-109 Lê 'falar-te longamente das brancas coisas do Sul' [2012, 2014]Julho2024
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- Опубліковано 9 вер 2024
- Maria Toscano Lê o seu poema de 2012 'falar-te longamente das brancas coisas do Sul' IN Terceiro Andamento "e tudo o mais que é o Alentejo a ser" de 'Canto I - Da Terra', pp. 105-109. Projecto e edição da autora: Poemas do Sul em Cinco Cantos, SulMoura edições/edição da autora, 2014.
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falar-te longa, longamente
das brancas coisas do Sul.
começar pelos marcos a dar nome
às vilas aos largos a ruas.
ou começar pela fachada lisa
caiada a preceito bordejada
de amarelos e mesmo de azuis
partilhando-se com o preto de ferros
puxadores varandas e janelas.
abrir a meia-porta e confirmar
a cal perseverando lá dentro.
deixar-te, então, passar à frente
amiudando os cobres e os estanhos
brunidos areados luzidios.
manter a distância prudente
para teu espanto ter espaço
onde esbracejar e arregalar
o corpo.
seguir-te, guiando-te embora
pela entoação de quem é da terra.
seguir-te ao longo do corredor
de piso empedrado irregular.
depois das lajes grossas da loja
mais modernas, recuperadas
sentir-te a pisar seixos roliços
ladeados por bancos tradicionais
pretos, de madeira, com preguetas
douradas como os tachos areados.
e falar-te, longamente, da arte de arear.
o pátio encandeia-nos e é só de Março
a claridade diurna que a cal espelha.
longamente, falar-te do que é a cal.
longamente, ensinar-te a amar a cal.
a escada o gradeamento forjado
e o corrimão negro redondo
levam-nos ao terraço a ver espanhas
pois os quintais de quem não conheças
contar-te-ão hábitos estrangeiros.
manter a prudente distância
para teres espaço para o espanto
e, intensamente, inpirares o longe
ou seja, o perto mais perto
do perto que é logo logo ali.
falar-te das coisas íntimas do ali.
bebermo-nos, intimamente: ali.
e falar-te - longamente loucamente -
sobre a exposição ao pleno beijo
como a exposição ao beijo / nos leva, por
[instantes, à luz.
reabertas as pálpebras
reposta a pulsação
já conseguirás apreciar o presépio
de casinhas e ruas limpas e claras
envoltas pelo olival, agora musgo
da tua infância nas noites do Natal.
falar-te, longamente, de Natal.
ser-te, longamente, o musgo e a estrela
o incenso o ouro e a mirra
deste encontro.
falar-te, longamente, do que é o encontro
das brancas seivas de sermos Sul.
debicar-te a longa asa, acinzentada
até que, distendida, alcance o céu.
dar-te a minha asa peregrina
ser-te a asa, sermos o bando friorento
das aves! das aves da Natália.
alçarmo-nos em voos circulares
no papagaio esvoaçante de andorinhas
pois quem ama sempre pertence ao voar.
falar-te, longamente, do voar branco
e que o partir que pode querer dizer voltar.
falar-te longa e longamente
de habitar o branco voo do instante
até que as palavras - as asas - seduzidas
apenas falem caladas
enleadas por nós no amor
longamente, no amor do branco Sul.
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Arronches, 12 Fevereiro / 2012. Hotel Rural S.to António
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Leitura também disponível em @aoutraacademia4984
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