Caramba Que demais! Hoje foi tremendo pra mim Tenho 61 iniciei psicanalise há 3anos estou concluindo essa formação agora em setembro, e estava desanimada por conta da idade. Mas cheia de desejo em né aperfeiçoar
Faço cursos sempre com H.M e de fato revisitar a psicanálise me emociona , me dá um enorme prazer. Por favor Maria Homem continue com esses cursos. São indispensáveis!!!
Que aula - de uma densidade tão profunda que é impossível assistir somente uma vez. São informações, palavras, conceitos que "bugam" a minha mente, contudo - Totalmente Necessário!!! Vou ter que destrinchar todas essas camadas. Obs: A cor vermelha combina contigo!!! ❤️
@@nadjacristnabaptistaleite2901 Exatamente e ainda está "bugando". São muitos conceitos que fazem parte do cotidiano, contudo, vivido de forma aleatória sem reflexão.
Acompanho a Maria Homem já algum tempo...na pandemia dei de presente para minha irmã o seu livro lupa da alma...eu não li o livro...mas estudo psicanálise através de um grupo...ela tem a capacidade de revelar nossa alma o nosso íntimo psíquico ou melhor revelar o conteúdo que a gente escondeu ou fingi que escondeu...é uma linguagem que desnuda nossa dor e desamparo para mim algumas vezes ainda não consigo digerir...dói muito...🇧🇷🤔
'Um cinturão' do livro Infância - Graciliano Ramos As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural. Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos. Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal - e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a. Meu pai dormia na rede armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras. Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé-de-turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, Sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo. Ninguém veio, meu pai me descobriu do e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação. Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos. Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam. O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira. Onde estava o cinturão ? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro. Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo. A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos. Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal. Minha mãe, José Baía, Amaro, Sinha Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos - e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormi muito, atrás dos caixões, livre do martírio. Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo. Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas. Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa. Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero. O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível. Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, cocar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado. Pareceu-me que a figura imponente minguava - e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou. Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra. Foi esse o primeiro contacto que tive com a justiça.
Uauu que aula, assiste na reprise e aprendi que a psicanálise é uma prática viva e pulsante. Ela se manifesta na forma como é possível dedicar atenção e cuidado desde os primeiros anos vida até a velhice. Mais do que um olhar individual, a psicanálise também se abre para escutar as vozes do coletivo, revelando a riqueza das experiências humanas em suas diversas fases e contextos.
Excelente aula: "o grande outro" não é e nunca será o responsável pelo "sucesso" na jornada! A figura paterna existiu/ existe. Deus/o universo/ cosmos existe, mas cada um é o único responsável pelo próprio "sucesso".
Estive na primeira live embora não tenha mandado recado. Essa segunda estou vendo na quinta, ontem não deu. Sexta espero estar na live mesmo achando que o 'mundo novo ' que aí está obedece a padrão muito além da comunicação possível. Obrigado!
Quando vc se sente mais inteligente e acha que aprendeu sobre real, simbólico e imaginário, significante. " Lacan, um francês Narcísico exacerbado, daí o estádio do espelho, ( plin plin)!? " Vamos ficar aqui nessa fogueira, nessa roda de conversa, nesse espaço de conversação, nessa roda poética, nesse banquete. Vamos circular palavras, filosofar, constituir os fios que nos condus? V A M O S ! ! ❤
Brilhante, Maria. Excelente -e apropriadissima- a tua colocao final sobre o debate histórico Kamala x Trump. Os manejos, as novas formas de transferência, etc. Gratíssimo.😊
Oi,para nossos colegas,fica a dica,da Gratidão e Educação, Dr dar Like.Para começar a trabalhar com O OUTRO,Índico,Educação e Gratidão. Foi uma aula de quase 3 mil assistindo, querendo que fique gravada..........E os Likes???????????
Que delícia ouvir você, estou afastada da clínica há alguns anos e, agora sinto que posso sim retomar.. a mente abrindo aqui, com muito vigor. GRATIDÃO 😊
A sua fala sobre o Mundo desglobalizado, mas conectado me veio: está cada vez mais esquecendo o SENTIR. Aí a relação com a saúde mental. Obrigada pelo conteúdo ❤
Sim, a formação em Psicanálise se dá de maneira independente da psicologia. Normalmente é feita através de escolas de Psicanálise, não vinculadas à academia, respeitando-se o tripé: análise pessoal, teoria e supervisão. Quem faz Psicologia, ainda que tenha especialização ou mesmo doutorado em Psicanálise, não pode se autorizar psicanalista. É necessário fazer a formação específica em Psicanálise, respeitando-se o tripé, como foi dito.
Sou psicóloga e 13 anos de psicanálise. Respondendo sua questão… quem faz especialização em psicanálise pode atender sim. Ex.: um médico q faz especialização em psicanálise pode atender, INFELIZMENTE. Digo infelizmente pq, na minha visão, uma pessoa q não fez o percurso da graduação de psicologia, fica como uma pessoa q pegou um desvio… eu penso q é algo, no mínimo, equivocado… já tive a experiência de me consultar com um… foi horrível!
@@ainsurgente.3688 acredito que a pergunta dela tenha sido outra. Mas sim, psicólogo com especialização em psicanálise, pode atender como psicólogo. Não como psicanalista. Eu sou psicóloga com especialização em psicanálise, mas isso não me autoriza ser psicanalista. Para ser psicanalista, eu preciso de formação específica, que envolve o tripé: teoria, análise pessoal e supervisão. E para essa formação, eu não preciso ser psicóloga. Psicologia é Psicanálise são coisas distintas.
@@ainsurgente.3688 O que é isso? Uma Psicanalista de verdade, com uma boa formação, muitas vezes passa a perna em muita gente com formação em psicologia., pois uma formação séria em psicanálise exige a sua análise particular, e o curso de psicologia, nem exige terapia. O tal formado em psicologia, sendo ele psicólogo ou bacharel, é que decidirá sobre essa experiência. E ter consciência não é pra qualquer um.
Bom dia Maria. Sai da comunidade guando fui apagando algumas mensagens, não estou conseguindo entrar novamente. Gostaria muito de me inscrever no curso, quero me atualizar. Obrigada
Olha só que revelador e psicanalítico...ou pode ser falta de atenção ou os meus transtornos mentais não fez eu me aperceber do óbvio teve que ter um outro para direcionar...a Maria falando da tosse e do tempo seco...eu ultimamente estou com uma tosse e pigarro chato...como sou hipocondríaco e somos todos exagerados...pensei isso aqui está muito esquisito...eu nunca fumei e nem bebo mais...por isso que a psicanálise é fundamental...🇧🇷🤔
📌 Inscreva-se na Formação em Psicanálise e Clínica Contemporânea: bit.ly/3MPo1I1
Caramba
Que demais!
Hoje foi tremendo pra mim
Tenho 61 iniciei psicanalise há 3anos estou concluindo essa formação agora em setembro, e estava desanimada por conta da idade.
Mas cheia de desejo em né aperfeiçoar
@@margareterodrigues2949 ola. Onde vc está fazendo psicanálise? Sou psicóloga, e gostaria de fazer psicanálise. Obrigada
Estou na comunidade! Mas estou assistindo direto
A Maria Homem fala da Psicanálise de um jeito tão especial que é impossível ouvir a aula uma vez apenas
Faço cursos sempre com H.M e de fato revisitar a psicanálise me emociona , me dá um enorme prazer. Por favor Maria Homem continue com esses cursos. São indispensáveis!!!
Que aula - de uma densidade tão profunda que é impossível assistir somente uma vez. São informações, palavras, conceitos que "bugam" a minha mente, contudo - Totalmente Necessário!!! Vou ter que destrinchar todas essas camadas.
Obs: A cor vermelha combina contigo!!! ❤️
ja ouvi 3x!
@@nadjacristnabaptistaleite2901 Exatamente e ainda está "bugando". São muitos conceitos que fazem parte do cotidiano, contudo, vivido de forma aleatória sem reflexão.
Voltando a assistir.. Aula que nos leva a refletir sobre o contexto do mundo atual
Acompanho a Maria Homem já algum tempo...na pandemia dei de presente para minha irmã o seu livro lupa da alma...eu não li o livro...mas estudo psicanálise através de um grupo...ela tem a capacidade de revelar nossa alma o nosso íntimo psíquico ou melhor revelar o conteúdo que a gente escondeu ou fingi que escondeu...é uma linguagem que desnuda nossa dor e desamparo para mim algumas vezes ainda não consigo digerir...dói muito...🇧🇷🤔
Vendo a gravação, eu preciso assistir novamente, são muitas informações, obrigada MH ❤
'Um cinturão' do livro Infância
- Graciliano Ramos
As minhas primeiras relações com a justiça foram dolorosas e deixaram-me funda impressão. Eu devia ter quatro ou cinco anos, por aí, e figurei na qualidade de réu. Certamente já me haviam feito representar esse papel, mas ninguém me dera a entender que se tratava de julgamento. Batiam-me porque podiam bater-me, e isto era natural.
Os golpes que recebi antes do caso do cinturão, puramente físicos, desapareciam quando findava a dor. Certa vez minha mãe surrou-me com uma corda nodosa que me pintou as costas de manchas sangrentas. Moído, virando a cabeça com dificuldade, eu distinguia nas costelas grandes lanhos vermelhos.
Deitaram-me, enrolaram-me em panos molhados com água de sal - e houve uma discussão na família. Minha avó, que nos visitava, condenou o procedimento da filha e esta afligiu-se. Irritada, ferira-me à toa, sem querer. Não guardei ódio a minha mãe: o culpado era o nó. Se não fosse ele, a flagelação me haveria causado menor estrago. E estaria esquecida. A história do cinturão, que veio pouco depois, avivou-a.
Meu pai dormia na rede armada na sala enorme. Tudo é nebuloso. Paredes extraordinariamente afastadas, rede infinita, os armadores longe, e meu pai acordando, levantando-se de mau humor, batendo com os chinelos no chão, a cara enferrujada. Naturalmente não me lembro da ferrugem, das rugas, da voz áspera, do tempo que ele consumiu rosnando uma exigência. Sei que estava bastante zangado, e isto me trouxe a covardia habitual. Desejei vê-lo dirigir-se a minha mãe e a José Baía, pessoas grandes, que não levavam pancada. Tentei ansiosamente fixar-me nessa esperança frágil. A força de meu pai encontraria resistência e gastar-se-ia em palavras.
Débil e ignorante, incapaz de conversa ou defesa, fui encolher-me num canto, para lá dos caixões verdes. Se o pavor não me segurasse, tentaria escapulir-me: pela porta da frente chegaria ao açude, pela do corredor acharia o pé-de-turco. Devo ter pensado nisso, imóvel, atrás dos caixões. Só queria que minha mãe, Sinhá Leopoldina, Amaro e José Baía surgissem de repente, me livrassem daquele perigo.
Ninguém veio, meu pai me descobriu do e sem fôlego, colado ao muro, e arrancou-me dali violentamente, reclamando um cinturão. Onde estava o cinturão? Eu não sabia, mas era difícil explicar-me: atrapalhava-me, gaguejava, embrutecido, sem atinar com o motivo da raiva. Os modos brutais, coléricos, atavam-me; os sons duros morriam, desprovidos de significação.
Não consigo reproduzir toda a cena. Juntando vagas lembranças dela a fatos que se deram depois, imagino os berros de meu pai, a zanga terrível, a minha tremura infeliz. Provavelmente fui sacudido. O assombro gelava-me o sangue, escancarava-me os olhos.
Onde estava o cinturão? Impossível responder. Ainda que tivesse escondido o infame objeto, emudeceria, tão apavorado me achava. Situações deste gênero constituíram as maiores torturas da minha infância, e as conseqüências delas me acompanharam.
O homem não me perguntava se eu tinha guardado a miserável correia: ordenava que a entregasse imediatamente. Os seus gritos me entravam na cabeça, nunca ninguém se esgoelou de semelhante maneira.
Onde estava o cinturão ? Hoje não posso ouvir uma pessoa falar alto. O
coração bate-me forte, desanima, como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma cólera doida agita coisas adormecidas cá dentro. A horrível sensação de que me furam os tímpanos com pontas de ferro.
Onde estava o cinturão? A pergunta repisada ficou-me na lembrança: parece que foi pregada a martelo.
A fúria louca ia aumentar, causar-me sério desgosto. Conservar-me-ia ali desmaiado, encolhido, movendo os dedos frios, os beiços trêmulos e silenciosos.
Se o moleque José ou um cachorro entrasse na sala, talvez as pancadas se transferissem. O moleque e os cachorros eram inocentes, mas não se tratava disto. Responsabilizando qualquer deles, meu pai me esqueceria, deixar-me-ia fugir, esconder-me na beira do açude ou no quintal.
Minha mãe, José Baía, Amaro, Sinha Leopoldina, o moleque e os cachorros da fazenda abandonaram-me. Aperto na garganta, a casa a girar, o meu corpo a cair lento, voando, abelhas de todos os cortiços enchendo-me os ouvidos - e, nesse zunzum, a pergunta medonha. Náusea, sono. Onde estava o cinturão? Dormi muito, atrás dos caixões, livre do martírio.
Havia uma neblina, e não percebi direito os movimentos de meu pai. Não o vi aproximar-se do torno e pegar o chicote. A mão cabeluda prendeu-me, arrastou-me para o meio da sala, a folha de couro fustigou-me as costas. Uivos, alarido inútil, estertor. Já então eu devia saber que rogos e adulações exasperavam o algoz. Nenhum socorro. José Baía, meu amigo, era um pobre-diabo.
Achava-me num deserto. A casa escura, triste; as pessoas tristes. Penso com horror nesse ermo, recordo-me de cemitérios e de ruínas mal-assombradas.
Cerravam-se as portas e as janelas, do teto negro pendiam teias de aranha. Nos quartos lúgubres minha irmãzinha engatinhava, começava a aprendizagem dolorosa.
Junto de mim, um homem furioso, segurando-me um braço, açoitando-me. Talvez as vergastadas não fossem muito fortes: comparadas ao que senti depois, quando me ensinaram a carta de A B C, valiam pouco. Certamente o meu choro, os saltos, as tentativas para rodopiar na sala como carrapeta, eram menos um sinal de dor que a explosão do medo reprimido. Estivera sem bulir, quase sem respirar. Agora esvaziava os pulmões, movia-me, num desespero.
O suplício durou bastante, mas, por muito prolongado que tenha sido, não igualava a mortificação da fase preparatória: o olho duro a magnetizar-me, os gestos ameaçadores, a voz rouca a mastigar uma interrogação incompreensível.
Solto, fui enroscar-me perto dos caixões, cocar as pisaduras, engolir soluços, gemer baixinho e embalar-me com os gemidos. Antes de adormecer, cansado, vi meu pai dirigir-se à rede, afastar as varandas, sentar-se e logo se levantar, agarrando uma tira de sola, o maldito cinturão, a que desprendera a fivela quando se deitara. Resmungou e entrou a passear agitado. Tive a impressão de que ia falar-me: baixou a cabeça, a cara enrugada serenou, os olhos esmoreceram, procuraram o refúgio onde me abatia, aniquilado.
Pareceu-me que a figura imponente minguava - e a minha desgraça diminuiu. Se meu pai se tivesse chegado a mim, eu o teria recebido sem o arrepio que a presença dele sempre me deu. Não se aproximou: conservou-se longe, rondando, inquieto. Depois se afastou.
Sozinho, vi-o de novo cruel e forte, soprando, espumando. E ali permaneci, miúdo, insignificante, tão insignificante e miúdo como as aranhas que trabalhavam na telha negra.
Foi esse o primeiro contacto que tive com a justiça.
Só consigo assistira aula gravada e eh sempre uma grata surpresa...Quanto conhecimento MH!!! Muito grata pela partilha!
Sim, Maria Homem. Tomarmos as rédeas do planeta e das nossas vidas. Essas queimadas preocupam. São sintomas, assim como a tosse.
A didática dela é impecável!
Poisé. E sonoridade e o modo de falar deixa tudo mais interessante.
Aula maravilhosa! Gratidão MH
Uauu que aula, assiste na reprise e aprendi que a psicanálise é uma prática viva e pulsante. Ela se manifesta na forma como é possível dedicar atenção e cuidado desde os primeiros anos vida até a velhice. Mais do que um olhar individual, a psicanálise também se abre para escutar as vozes do coletivo, revelando a riqueza das experiências humanas em suas diversas fases e contextos.
Excelente aula: "o grande outro" não é e nunca será o responsável pelo "sucesso" na jornada! A figura paterna existiu/ existe. Deus/o universo/ cosmos existe, mas cada um é o único responsável pelo próprio "sucesso".
Somente agora, consegui assistir essa aula maravilhosa.
Estive na primeira live embora não tenha mandado recado. Essa segunda estou vendo na quinta, ontem não deu.
Sexta espero estar na live mesmo achando que o 'mundo novo ' que aí está obedece a padrão muito além da comunicação possível.
Obrigado!
12/9q bom poder ouvir em outro horário.
Me inscrevi sabendo q ao vivo não conseguiria
Sempre muito interessante
Gratíssima. ❤
Assistindo a segunda aula hoje.
Quando vc se sente mais inteligente e acha que aprendeu sobre real, simbólico e imaginário, significante. " Lacan, um francês Narcísico exacerbado, daí o estádio do espelho, ( plin plin)!?
" Vamos ficar aqui nessa fogueira, nessa roda de conversa, nesse espaço de conversação, nessa roda poética, nesse banquete. Vamos circular palavras, filosofar, constituir os fios que nos condus? V A M O S ! ! ❤
Gratidão
Sou sua fã, gostaria muito de ganhar seu livro com sua dedicatória🥰
Carta ao Pai. Kafka. Maravilhosa a analogia.
❤AMEI AS AULAS❤
❤PULSANDO CONHECIMETO ❤
❤ADMIRO SEU TRABALHO❤
❤GRATIDAO❤
Ótima aula
Brilhante, Maria. Excelente -e apropriadissima- a tua colocao final sobre o debate histórico Kamala x Trump. Os manejos, as novas formas de transferência, etc. Gratíssimo.😊
Oi,para nossos colegas,fica a dica,da Gratidão e Educação, Dr dar Like.Para começar a trabalhar com O OUTRO,Índico,Educação e Gratidão. Foi uma aula de quase 3 mil assistindo, querendo que fique gravada..........E os Likes???????????
Que delícia ouvir você, estou afastada da clínica há alguns anos e, agora sinto que posso sim retomar.. a mente abrindo aqui, com muito vigor. GRATIDÃO 😊
O fim da análise é sempre um estilo
Amo. MH utilizando exemplos bem atuais.
Excelente!
👏👏👏👏Gratidão!
Eu acho tão lindo o ser humano,a perfeição imperfeita ,o bom é vivendo e procurando nos conhecer e conhecer a vida tudo é muito complexo
Ontem tinha compromisso e não vi a aula ao vivo, mas estou vendo hoje. Bora lá...
Aula maravilhosa
Aula maravilhosa! Sinto uma leveza nas explicações! Adorando!
Grazie Maria Homen ❤generosa e perfeita .
Uau! Que aula!
Seria maravilhoso poder ter fixado aqui algumas das referências dadas sobre livros e textos
Obrigada pela aula !
Muito obrigado pela aula 🙇
Sentido de pertencer!! A busca de sentido!!
Rememorando as aulas iniciais de Zeferino Rocha! Maravilha!!
Muito bom ouvir vc! Gostava tb de assistir Contardo Calligares!!!❤
Ele faleceu
Maravilhoso
Estou vendo a aula na quinta
Maravilhosa ❤
Linda ❤ Inspiradora
Bom dia! Vendo hoje a live/ aula .
A sua fala sobre o Mundo desglobalizado, mas conectado me veio: está cada vez mais esquecendo o SENTIR. Aí a relação com a saúde mental. Obrigada pelo conteúdo ❤
Aqui só conhecimento 👏👏👏👏👏👏
Excelente ! Grato pela atenção e disponibilidade.
Continuo o aprendizado
Qualquer demanda é sempre demanda de amor. Lacan
Top professora , que explanação 👋🏻👋🏻
Brilhante!!!
Chou de aula !
Gratidão❤
MANEJO
Que aula gostosa e tão repleta de descobertas do tipo: “hã? Oh! Ok!Preciso elaborar”…
Só consegui chegar agora.Mas, que bom estar disponível offline. Obrigada
🤩
Sem palavras…ainda lendo relendo…pode parecer medíocre mais é significante.
Que provocador!!!
HM linda! Obrigado
Cheguei tarde hj, mas assisti , aqui no meu interior de sp tb sem água da chuca seca , fumaça e o povo sem noção pondo fogo no mato ...
Chuva, moça? 😅
❤Gratidao ❤
MANEJO 😊
Topando!
Aula maravilhosa.
Boa tarde!
Poderia comentar o trabalho da Psicanálise no serviço público: PSF e principalmente CAPS?
Obrigada!
Estou no gravado
Hoje quinta-feira cotiuo o aprendizado
BOA NOITE!
Bom noite 🌙 🌙
❤🙏
Professora, doutora, quero fazer um curso com vc.
Muito bom trazer sua ideia sobre o debate de ontem!!!
Estou vendo
Qual texto Lacan fala da tática, estratégia e uma grande meta(uma política) ?
Tem alguma escola de formação de psicanálise online que vocês poderiam indicar ? Gratidão pelas informações compartilhadas ❤
Manejo
Falhou aqui
Como pode? Tudo reunido numa unica mulher. Inteligência, sensual uma musa muito especial pra mim.
Desejo muito receber o formulário e não encontro o link.
❤🎉😮😮😮😮😮😮😮😮😮
Mesmo não tendo formação em psicologia, quem faz psicanalise, pode ser chamado de psicanalista? E fazer atendimentos?
Sim, a formação em Psicanálise se dá de maneira independente da psicologia. Normalmente é feita através de escolas de Psicanálise, não vinculadas à academia, respeitando-se o tripé: análise pessoal, teoria e supervisão. Quem faz Psicologia, ainda que tenha especialização ou mesmo doutorado em Psicanálise, não pode se autorizar psicanalista. É necessário fazer a formação específica em Psicanálise, respeitando-se o tripé, como foi dito.
Claro que sim!
Sou psicóloga e 13 anos de psicanálise. Respondendo sua questão… quem faz especialização em psicanálise pode atender sim. Ex.: um médico q faz especialização em psicanálise pode atender, INFELIZMENTE. Digo infelizmente pq, na minha visão, uma pessoa q não fez o percurso da graduação de psicologia, fica como uma pessoa q pegou um desvio… eu penso q é algo, no mínimo, equivocado… já tive a experiência de me consultar com um… foi horrível!
@@ainsurgente.3688 acredito que a pergunta dela tenha sido outra. Mas sim, psicólogo com especialização em psicanálise, pode atender como psicólogo. Não como psicanalista. Eu sou psicóloga com especialização em psicanálise, mas isso não me autoriza ser psicanalista. Para ser psicanalista, eu preciso de formação específica, que envolve o tripé: teoria, análise pessoal e supervisão. E para essa formação, eu não preciso ser psicóloga. Psicologia é Psicanálise são coisas distintas.
@@ainsurgente.3688 O que é isso? Uma Psicanalista de verdade, com uma boa formação, muitas vezes passa a perna em muita gente com formação em psicologia., pois uma formação séria em psicanálise exige a sua análise particular, e o curso de psicologia, nem exige terapia. O tal formado em psicologia, sendo ele psicólogo ou bacharel, é que decidirá sobre essa experiência.
E ter consciência não é pra qualquer um.
318 mil pessoas assistindo e menos de 900 likes.😮
Se fosse uma bunda pra fora seriam milhares!
que que tem a ver uma coisa com a outra
Acho que 318 mil são os membros inscritos no canal.
Palavra chave ?
Manejo
Bom dia Maria. Sai da comunidade guando fui apagando algumas mensagens, não estou conseguindo entrar novamente. Gostaria muito de me inscrever no curso, quero me atualizar. Obrigada
Poxa! Que poeta?
Silvia da Silva Nunes, psicanalista (RGS)
Os casos são complexos!!!
O outro não barrado… O grande outro…!
Eu sou a farsa, produto vosso
Segundo a Pasternack somente a psicologia seria ciência. A psicanálise ela classifica como pseudoscience. Seria bom explanar essa crítica.
Olha só que revelador e psicanalítico...ou pode ser falta de atenção ou os meus transtornos mentais não fez eu me aperceber do óbvio teve que ter um outro para direcionar...a Maria falando da tosse e do tempo seco...eu ultimamente estou com uma tosse e pigarro chato...como sou hipocondríaco e somos todos exagerados...pensei isso aqui está muito esquisito...eu nunca fumei e nem bebo mais...por isso que a psicanálise é fundamental...🇧🇷🤔
Sou leigo
Mais a mulher de Deus?
É pai dos gêneros ?
A mãe fica melhor..?
Que pena que vc misturou política na aula. Desnecessário.
Maravilhosa ❤