Gostei muito! Concordo com suas colocações.👏🏼 A amiga que tinha medo da morte se presta a ajudar a amiga com uma “morte leve”. Adorei a fala do personagem do John Turturro, onde Almodóvar manda sua mensagem de preocupação com a destruição ambiental e preocupação com a ascensão da extrema-direita.
Realmente, o meu maior alívio e fascínio com O Quarto ao Lado é ver que o Almodóvar não deixou de ser Almodóvar só porque resolveu falar em inglês nos seus filmes.
Fiquei fascinada pelo filme devido ao tema que aborda de forma tão serena. Penso que os flashbacks ficaram um tanto descosidos da trama principal, mas, em todos os casos, procurei vê-los como apresentação de personagens e sua relação com a morte: os religiosos que ficam numa aldeia cujo povo será massacrado (e eles também, provavelmente); e o ex-namorado e pai da filha de Martha que deve ter matado muitos na guerra do Vietnã e passou a ser atormentado por essas memórias brutais, mas cujo ímpeto de salvar e salvar-se se revela na cena do incêndio. Mesmo Damian está meio solto, embora sua amizade solidária seja importante: de amante desejável e desejoso do passado das duas, se torna, mais velho, um homem taciturno e sem tesão, ou seja, morreu de certa forma. O personal trainer de Ingrid se vê impedido de abraçá-la e dar-lhe conforto por normas da academia que teme acusações de comportamento impróprio. Ou seja, vivemos sob normas que nos impedem de sermos genuinamente humanos e afetuosos principalmente com estranhos, seres humanos como nós. Uma forma de não viver, penso eu. A filha de Martha teve de viver sua vida com mãe e pai ausentes, inexistentes, "mortos". Mas ela é resgatada para a vida pela própria mãe, através de Ingrid. Já no final do filme, tem a investigação policial envolvendo o suicídio de Martha, cena mais difícil de aceitar e encaixar pra mim, embora esse problema viesse sendo anunciado anteriormente. É broxante, um absoluto anticlímax, poderia ser resolvido de outra forma. Mas, num esforço imenso, acho que Almodóvar quis pontuar, no momento errado!, que existe ainda a perspectiva legal e religiosa da obrigatoriedade de viver e de manter viva uma pessoa, por mais que seu corpo esteja se deteriorando e lhe imponha um sofrimento físico e emocional degradante. Por fim, há as duas personagens principais que se opõem às outras por serem uma celebração à vida que escolheram viver com entrega e intensidade, sem arrependimentos ou lamentação. (Embora Martha carregue alguma culpa pelo abandono da filha). Escolher quando e como morrer é uma reafirmação da própria vida. Como bônus, Ingrid perde o desconforto de lidar com o tema morte. É a interação e desenvolvimento dessas duas personagens que fizeram com que me apaixonasse pelo filme. Temos aqui um Almodóvar sereno, sem personagens de emoções exacerbadas, mas vigoroso nos seus 75 anos.
Gostei muito! Concordo com suas colocações.👏🏼
A amiga que tinha medo da morte se presta a ajudar a amiga com uma “morte leve”.
Adorei a fala do personagem do John Turturro, onde Almodóvar manda sua mensagem de preocupação com a destruição ambiental e preocupação com a ascensão da extrema-direita.
Realmente, o meu maior alívio e fascínio com O Quarto ao Lado é ver que o Almodóvar não deixou de ser Almodóvar só porque resolveu falar em inglês nos seus filmes.
Fiquei fascinada pelo filme devido ao tema que aborda de forma tão serena. Penso que os flashbacks ficaram um tanto descosidos da trama principal, mas, em todos os casos, procurei vê-los como apresentação de personagens e sua relação com a morte: os religiosos que ficam numa aldeia cujo povo será massacrado (e eles também, provavelmente); e o ex-namorado e pai da filha de Martha que deve ter matado muitos na guerra do Vietnã e passou a ser atormentado por essas memórias brutais, mas cujo ímpeto de salvar e salvar-se se revela na cena do incêndio. Mesmo Damian está meio solto, embora sua amizade solidária seja importante: de amante desejável e desejoso do passado das duas, se torna, mais velho, um homem taciturno e sem tesão, ou seja, morreu de certa forma. O personal trainer de Ingrid se vê impedido de abraçá-la e dar-lhe conforto por normas da academia que teme acusações de comportamento impróprio. Ou seja, vivemos sob normas que nos impedem de sermos genuinamente humanos e afetuosos principalmente com estranhos, seres humanos como nós. Uma forma de não viver, penso eu. A filha de Martha teve de viver sua vida com mãe e pai ausentes, inexistentes, "mortos". Mas ela é resgatada para a vida pela própria mãe, através de Ingrid. Já no final do filme, tem a investigação policial envolvendo o suicídio de Martha, cena mais difícil de aceitar e encaixar pra mim, embora esse problema viesse sendo anunciado anteriormente. É broxante, um absoluto anticlímax, poderia ser resolvido de outra forma. Mas, num esforço imenso, acho que Almodóvar quis pontuar, no momento errado!, que existe ainda a perspectiva legal e religiosa da obrigatoriedade de viver e de manter viva uma pessoa, por mais que seu corpo esteja se deteriorando e lhe imponha um sofrimento físico e emocional degradante.
Por fim, há as duas personagens principais que se opõem às outras por serem uma celebração à vida que escolheram viver com entrega e intensidade, sem arrependimentos ou lamentação. (Embora Martha carregue alguma culpa pelo abandono da filha). Escolher quando e como morrer é uma reafirmação da própria vida. Como bônus, Ingrid perde o desconforto de lidar com o tema morte. É a interação e desenvolvimento dessas duas personagens que fizeram com que me apaixonasse pelo filme.
Temos aqui um Almodóvar sereno, sem personagens de emoções exacerbadas, mas vigoroso nos seus 75 anos.
Assinatura do Almodóvar todinha, ainda bem!
É Pedro falando de Pedro? Play instantânea
Parabéns!
Valeu, querido! ❤️
Várias verdades