@@andremachadolinguistica, na carta de Pero Vaz de Caminha isso é mais acentuado, até porque ela não era uma carta oficial da Coroa, mas a partir do Regimento do Governador-Geral de 1548 em diante já se percebe menos desse "chicobentismo" na escrita. Menos, só que ele continua séculos adentro e pode ser visto até o fim do século XVIII em todas as Ordenações do Reino, cartas, alvarás etc.
Há um povo difícil aqui nos comentários. Eu acho que a interpretação/produção textual é a matéria mais importante do ensino formal pois necessitamos disso para todas as outras matérias e saberes, e é justamente a que mais está precarizada.
Que deleite de canal, conheci agora e estou amando! Adorei demais a conversa e acho interessante pontuar que a imagem de Camões de que temos hoje não foi a mesma de seus contemporâneos ou mesmo de figuras posteriores. Apesar de hoje Camões nos servir como uma espécie de tesouro da língua portuguesa, para alguns de seus contemporâneos, como o poeta António Ferreira, por exemplo, o seu texto soava como extremamente vulgar por ignorar certas "correções" ao vernáculo já possibilitadas pela reconstituição do latim clássico em fins do século anterior, resultando em um texto costurado por formas do português "baixo", falado, e formas latinizadas ou "corrigidas". Dependendo do caso, até mesmo só de se escrever em vernáculo já seria motivo de acusação de certa "caipirice" ou "bronquice", a exemplo de Giovanni del Virgílio inconformado com Dante por ter resolvido dar pérolas aos porcos ao tratar de assunto tão ilustre, como o da sua Comédia, em vulgar e não em latim. Ou seja, Camões meio que pode ter soado como caipira por alguns de seus pares em seu tempo kkkkkkkk
Quem estudou espanhol, particularmente suas variantes latino-americanas, sabe que é difícil para eles distinguir os sons de Y, LL e J. Por exemplo, há países que pronunciam "yo" como "io", outros como "jo'. A mesma dualidade de pronuncia existe para LL - inclusive nos países do Prata, como Argentina e Uruguai, que usam o "xo" onde é "yo". Outra dupla intercalável é F por H. Fazer vira hacer, falar vira hablar, feito vira hecho. "Hija" resulta dessas duas tendências: F - H LH - LL - Y - J
Isso é muito interessante e, embora eu saiba muito menos que os mestres aí, já percebi tb esses padrões de mudança na grafia e pronúncia. As palavras mudam de maneira lógica e compreensível.
Cara, o que é belo é definido socialmente. Geralmente, reflexo da classe dominante do tempo. Se a classe dominante daquele tempo define que é bonito imitar o sotaque francês, isso vira a norma do belo.
BARALHO!!! Quando comecei a estudar francês, topei-me com a palavra employer (empregado), e me lembrei que no espanhol tem empleado, assim comecei a refletir comigo que duas em duas de três línguas do mesmo ramo utilizam o L, enquanto o português utiliza o R. Fiquei matutanto sobre isso e levantei hipóteses sobre como a elite portuguesa devia falar errado e por ser elite acabou se consolidando.
Cando (quando) a elite foi para o Brasil não existia a palavra empregado em Portugal (no latim sim), ou existia mas não se utilizava, a palavra que se utilizava era criado (a), depois da revolução industrial sim, topei tamém é um-ha palavra que cá entrou em desuso (caiu no esquecimento) e as escolas já não ensinam, encontrei, achei ou tamém se pode dizer dei de caras
E, ironicamente, "empregado" virou a forma padrão, enquanto "fror", "frauta" e "craro" viraram formas associadas a pessoas ignorantes. É uma viagem e tanto, né?!
@@andremachadolinguistica Ignorantes é uma palavra chique, labregos ou de fracas letras era o que se ouvia cá, nesta região a letra L os parcos de literacia são avessos a essa letra e se for o AL é muito difícil ouvir, Malga (maurga) Caldo (caurdo), Almofada (trabesseiro ou corcha), Algarve (aurgarbe) etc. Tem cá um local que se chama Palmeira mas na boca de labrego ou labradores é paurmeira mas só as pessoas idosas e de fraca literacia é que falam assim, agora os professores são instruídos e Lisboa e antigamente também eram mas os poucos que existiam eram para os filhos dos senhores
@@andremachadolinguistica É uma que ele fica com ciúmes da Rosinha falando com um português. Não sei qual é a edição, mas era da época de ouro da turma da Mônica.
Vamos lá: nao confundir fato com valor. A Matsunaga ter utilizado conhecimentos técnicos para fazer picadinho do marido não agrega valor ao ato. Uma pessoaa simples, que diga "craro", é, de certa forma, um interessante "fóssil linguístico", mas também é uma pessoa que não teve a chance de absorver a norma culta devido aos problemas sociais que o país possui. Não é "legal", é falta de instrução. A sociedade não precisa ser um parque de diversões para os linguistas se divertirem, assim como não é bom que as favelas subsistam só para sociólogo ter miséria sobre as quais escrever papers.
Gente, eu ri da sua comparação com a Matsunaga hahahaha sou uma pessoa ruim por isso? De todo modo, talvez tenha ficado a impressão que estamos defendendo algo contrário ao que você escreveu, Caio, mas (salvo algumas nuances), a gente não está! As pessoas devem, sim, ter todas as oportunidades de receber instrução e se apropriar da norma padrão. Ninguém em sã consciência (pelo menos até onde eu sei) defenderia que as pessoas continuassem falando "craro" em toda situação e não aprendesse que o padrão do português atual é falar "claro". Dito isso, o que a gente defende é que essas variações da pronúncia não sejam vistas como coisa de gente burra e preguiçosa (até porque falta de instrução não é a mesma coisa que burrice) e que melhor do que substituir a variedade linguística que alguém fala seria fazer com que a pessoa acrescentasse uma forma a mais de falar ao seu repertório (e usasse "claro" nos momentos adequados, mas não se sentisse uma pessoa menos competente na sua língua por falar "craro" ou "dois pastel" na sua intimidade, entre família e amigos). É plenamente possível que uma pessoa consiga alternar entre o português padrão e sua variedade regional/social, não precisamos discriminar uma forma de falar para que a pessoa se aproprie do padrão. Obrigado pelo comentário!
@@andremachadolinguistica eu conheço toda a retórica dos sociolinguistas, que prescrevem enquanto fingem que só descrevem. A sociedade tem seus parâmetros, e agradar aos sociolinguistas não costuma ser um deles. Por que, a norma culta sendo "claro", seria desejável que "craro" se preservasse? Por que sociolinguistas querem ter suas "reservas ambientais" também? E o "preconceito" não ocorre só de um lado. Tenho um amigo, do interior de MG, que mora hoje em Uberlândia, ganha bem e trabalha com publicidade e que, quando visita a família em uma cidade bem menor, não pode falar "você" porque a família tira sarro, dizendo que ele está metido, que deveria dizer "cê", como todo mundo lá. Agora convença-me da importância da preservação do "cê", porque a do mico-leão-dourado eu já estou convencido.
Não é (necessariamente) que seja desejável que "craro" se preservasse, mas que a variação linguística, e isso inclui as de pronúncia, é intrínseca à natureza de todas as línguas. A questão é como nós vamos lidar com com essa variação. De todo modo, acho que suas colocações são pertinentes e devem ecoar em muita gente. Você se importa se eu usar os seus comentários como base pra um vídeo mais longo, respondendo aos seus questionamentos? Prometo ser respeitoso e não levar nada po lado pessoal!
@@caiorossi4776por que os falares regionais te incomodam tanto? Ninguém no Brasil fala 100% de acordo com o português padrão, em nenhum lugar do mundo você encontra as pessoas falando puramente de acordo com o padrão. No Japão, um país super desenvolvido, há várias variações regionais. Na Alemanha a mesma coisa, na Inglaterra, nós estados unidos também.
@@andremachadolinguistica , a questão é que vocês não abordam o assunto de forma objetiva. Você disse no vídeo que as pessoas consideram quem diz "craro" ignorante, e dá a entender que está errado. Bem, aponte-me uma única pessoa culta que diga "craro" e eu vou concordar que isso é errado. Se a forma culta é "claro", e qualquer brasileiro mediano diz "claro", não "craro", e as pessoas que continuam dizendo "craro" são, veja só - sim, o Ibope soy yo, mas acho que vc vai concordar -, exatamente aquelas que não tiveram acesso à formação acadêimica, como negar que são os segmentos mais ignorantes da sociedade que preservaram formas mais arcaicas da língua? OK, dizer "craro" não se compara a dizer que 1+1=3. Não é algo atemporalmente errado. Mas também não é verdade que não resulta da falta de acesso a formação acadêmica, a livros, etc. Pode-se manter esse linguajar paralelamente ao português padrão? Em tese, sim, mas para que finalidade e até que ponto isso seria factível? A única finalidade que eu consigo imaginar é para que os sociolinguistas tenham material para trabalhar. E o exemplo do meu amigo - do você vs. cê - mostra que não é tão fácil ficar transitando de um para o outro, sobretudo em um mundo em que o conhecimento "não tradicional", e automaticamente a linguagem, vai tomando um papel crescente na sociedade. O agricultor que podia falar de acordo com o padrão regional há 2 gerações hoje é atendente de telemarketing e fala com o Brasil inteiro. E quer estudar para ter um emprego melhor. Falta reflexão nessa sua postura.
Camões, sim. Alguns trechos de "Os Lusíadas": “Era este Ingrês potente, e militara” (canto VI, verso 47) “Nas ilhas de Maldiva, nasce a pranta” (canto X, verso 136) "Ingrês", "pranta"... São só alguns exemplos. Não venha ser ignorante e preconceituoso por aqui não, meu caro!
Caipira usa R retroflexo, tipo americano. Esse 'cRaro' de vocês não tem nada a ver com o dialeto caipira, 'tá mais para uma pessoa da periferia do Rio de Janeiro em vez de um caipira. Tem que estudar e melhorar muito este acento para saber pronunciar igual nós caipiras pronunciamos. Pois a troca do L pelo R é algo que ocorre em outros dialetos (inclusive em dialetos italianos e espanhóis, além de lusófonos), n é correto associar ao povo caipira, ainda mais quando usa um R "estralado" em vez do retroflexo
De qual região você é? Porque na região em que eu estou, no interior de São Paulo, na fala do pessoal que a gente chamaria de caipira o R "americano" vai no final da sílaba (como em "vortar"), mas em ataque silábico complexo (como em "pranta") é possível ouvir o R que você chamou de "estalado", sim. Além do mais, também é comum, sim, ouvir o pessoal mais falar o O com som de U. Claro, não quer dizer que todos os caipiras vão falar igual, até porque a área que engloba os falares caipiras é extensa. Mas as pronúncias que eu mencionei são possíveis e comuns entre falares caipiras, pelo menos da região central do Estado de SP.
Acho q a troca do L pelo R é uma característica muito mais forte no português, que sempre diminuiu esse som em várias palavras desde o dark L em portugal q virou um U no Brasil até em palavras como dor, cor, céu, quente nos plurais como "animais"... No português mais antigo era mais parecido com o espanhol que veio das raízes latinas; "Dolor", "color", "celo" "calente" (que passou pra caente e depois pro quente) animales (que passou pro animaes e depois animais).
Historicamente, sim, mas a situação linguística da cidade de São Paulo em si mudou bastante com a chegada dos imigrantes europeus na virada do século XIX para o XX. Hoje em dia, devido às migrações, o sotaque dito "caipira" está ganhando mais espaço entre algumas camadas sociais da população paulistana, de modo que a divisão caipira x paulistano está aos poucos sendo uma distinção mais de classe do que geográfica!
Os dois falando em português gramatical o video inteiro, mas defendendo que os pobres continuem falando "craro" e "pranta", e ainda chamam os outros de "elitista". Desculpem, mas assa atitude é elitista, pois vocês dominam o português culto e podem passar numa prova de concurso público ou numa entrevista de emprego. Já a pessoa que fala "craro", que vocês acham ser "lindo", se for a uma entrevista de emprego e falar desse jeito, vai ser dispensada na hora. Todas as pessoas têm o DIREITO de ter acesso ao português padrão ATUAL, pois em todas as sociedades do mundo existem regras e exigencias. Você não pode falar "craro" numa entrevista de emprego, assim como não pode ir de bikini a festa de casamento. Existem códigos sociais que todos devem respeitar. Não devemos defender que a pessoa continue falando "craro" e achar isso lindo. Isso é agumento de políticos que, como não dão bom acesso à educação escolar aos brasileiros, agora defendem que qualquer um fala do jeito que quiser e que todos têm que achar lindo. Não! Todos têm DIREITO a ter acesso ao português formal, para entender uma peça judicial, uma obra de Machado de Assis ou passar num concurso público. Não vivemos numa anarquia onde cada um fala como quiser. O modo como falamos demonstra quem somos. Nao é preconceito, somos seres racionais e formamos conceitos a partir do que vemos. É super interessante saber que há 500 anos se falava "craro" e que isso era aceito socialmente, mas hoje não é mais! Aí vem o militante falar que devemos aplaudir quem fala "craro". Então vai lá, bonitão, numa entrevista de emprego e fala "craro", fala "pranta", é claro que você nao vai falar assim, pois sabe que nao seria contratado. Agora, o pobre infeliz, que precisa de emprego, ao invés de ser estimulado a aprender o português correto atual, agora é estimulado a falar "craro" e a ficar eternamento condenado a nunca conseguir passar num concurso público ou numa entrevista de emprego de uma grande empresa. Isso sim é elitismo!
Epa, epa, calma lá! Uma coisa é acabar com o estigma de que falar "craro" e "pranta" é coisa de gente burra e preguiçosa, outra coisa muito diferente é dizer que ninguém precisa aprender o português padrão e que todo mundo tem que ter o direito de sair escrevendo e pronunciando como bem entender, em qualquer contexto, em qualquer lugar. Pra usar o seu próprio exemplo, não se pode ir de bikini ou sunga a uma festa de casamento, mas ninguém vai dizer que quem usa bikini ou sunga na praia ou na piscina é burro, é preguiçoso, que está destruindo o bom gosto da moda. Com pronúncias estigmatizadas e desvios gramaticais é exatamente a mesma coisa. Se, em algum momento, você encontrou militantes que defendiam que pobre não tem que aprender o português padrão e que tá tudo bem escrever ofício e contrato sem prestar atenção na concordância e na regência, tenha a certeza que nem eu nem o Estevam nem a maioria dos linguistas concordaria com tal militante. Mas não ataque moinhos de vento nem nos acuse de defender algo que não defendemos!
Não é aceito socialmente justamente por causa de pessoas como vc. Vcs decoram umas regrinhas gramaticais e se acham inteligentes e quem não decorou deve limpar chão.
Rapaz, acho que você não entendeu bem o vídeo. Eu, assim como você, também acho que todos devem ter acesso a uma boa educação e aprender a norma culta da língua portuguesa, além de muitas outras áreas, como física, química, biologia, matemática, geografia, etc. Neste vídeo, de nenhuma maneira defendemos que a educação não seja necessária. Aqui, simplesmente falamos sobre as variedades da língua portuguesa, que não devem a sua existência a um desvio da variedade padrão da língua, mas que, na verdade, a variedade padrão surgiu como um recorte da língua e foi sendo lapidada para o uso literário e técnico, com maior precisão. O importante é saber o seguinte: · As variedades da língua são o natural, isso é o que ocorre em todos os idiomas; · No português, assim como em muitas línguas, foi desenvolvida uma norma culta; · Ter acesso a uma boa educação e aprender a norma culta é de grande utilidade para os falantes de português; · Não ter tido acesso a uma boa instrução na norma culta e, consequentemente, não dominá-la não quer dizer que a pessoa seja burra ou que o seu falar seja feio somente por isso. Este é um vídeo sobre variedades da língua portuguesa, não sobre a falta de necessidade de acesso à educação. Espero que tenha ficado claro agora. Abraço!
Dá uma lida na carta de Pero Vaz de Caminha e você vai ter a sensação de que foi escrita pelo Chico Bento kk
Melhor comentário!
@@andremachadolinguistica, na carta de Pero Vaz de Caminha isso é mais acentuado, até porque ela não era uma carta oficial da Coroa, mas a partir do Regimento do Governador-Geral de 1548 em diante já se percebe menos desse "chicobentismo" na escrita. Menos, só que ele continua séculos adentro e pode ser visto até o fim do século XVIII em todas as Ordenações do Reino, cartas, alvarás etc.
Alguns parentes meus que moravam na roça, falavam Bassoura e não Vassoura. Só recentemente soube que no norte de Portugal e na Galiza falam Bassoura
Vassoura é pra limpar vasculante. Já bassoura é pra limpar basculante.
Outra mudança onipresente também, a troca do B por V. Árvore em latim é arbor. Em espanhol, árbol. Erva em latim é herba, e em espanhol, hierba.
E a alternância entre as duas consoantes faz todo o sentido, se pensarmos no local e no modo de articulação!
Quando a gente estuda tupi antigo, a gente vê uns dicionários do séculos XVI com "frôr" e "pranta" mesmo
Grande encontro! Que seja frequente. O conteúdo do canal de ambos é fantástico. Parabéns!
Há um povo difícil aqui nos comentários. Eu acho que a interpretação/produção textual é a matéria mais importante do ensino formal pois necessitamos disso para todas as outras matérias e saberes, e é justamente a que mais está precarizada.
Que deleite de canal, conheci agora e estou amando! Adorei demais a conversa e acho interessante pontuar que a imagem de Camões de que temos hoje não foi a mesma de seus contemporâneos ou mesmo de figuras posteriores. Apesar de hoje Camões nos servir como uma espécie de tesouro da língua portuguesa, para alguns de seus contemporâneos, como o poeta António Ferreira, por exemplo, o seu texto soava como extremamente vulgar por ignorar certas "correções" ao vernáculo já possibilitadas pela reconstituição do latim clássico em fins do século anterior, resultando em um texto costurado por formas do português "baixo", falado, e formas latinizadas ou "corrigidas". Dependendo do caso, até mesmo só de se escrever em vernáculo já seria motivo de acusação de certa "caipirice" ou "bronquice", a exemplo de Giovanni del Virgílio inconformado com Dante por ter resolvido dar pérolas aos porcos ao tratar de assunto tão ilustre, como o da sua Comédia, em vulgar e não em latim. Ou seja, Camões meio que pode ter soado como caipira por alguns de seus pares em seu tempo kkkkkkkk
Quem estudou espanhol, particularmente suas variantes latino-americanas, sabe que é difícil para eles distinguir os sons de Y, LL e J. Por exemplo, há países que pronunciam "yo" como "io", outros como "jo'. A mesma dualidade de pronuncia existe para LL - inclusive nos países do Prata, como Argentina e Uruguai, que usam o "xo" onde é "yo". Outra dupla intercalável é F por H. Fazer vira hacer, falar vira hablar, feito vira hecho.
"Hija" resulta dessas duas tendências:
F - H
LH - LL - Y - J
Isso é muito interessante e, embora eu saiba muito menos que os mestres aí, já percebi tb esses padrões de mudança na grafia e pronúncia. As palavras mudam de maneira lógica e compreensível.
Exatamente, Vinny! Ao contrário do que possa parecer aos leigos, a coisa não é caótica e aleatória!
Cara, o que é belo é definido socialmente. Geralmente, reflexo da classe dominante do tempo. Se a classe dominante daquele tempo define que é bonito imitar o sotaque francês, isso vira a norma do belo.
Exato!
A regra gramatical é uma só: rico fala certo, pobre fala errado.
Exatamente 🤡
Olá. Achei seu canal.
Já me inscrevi porque eu gosto muito desse assunto.
É muito bom culturalmente. Meu like.
Obrigado pela visita, pela inscrição e pelo comentário! Se tiver críticas e sugestões, não hesite em falar. Espero que goste do conteúdo!
Sempre teremos pessoas reclamando por tudo, faz parte da vida reclamar 😂😅
O hobby mais universal de todos!
Ótimo vídeo!😄
Muito bom.
BARALHO!!! Quando comecei a estudar francês, topei-me com a palavra employer (empregado), e me lembrei que no espanhol tem empleado, assim comecei a refletir comigo que duas em duas de três línguas do mesmo ramo utilizam o L, enquanto o português utiliza o R. Fiquei matutanto sobre isso e levantei hipóteses sobre como a elite portuguesa devia falar errado e por ser elite acabou se consolidando.
Cando (quando) a elite foi para o Brasil não existia a palavra empregado em Portugal (no latim sim), ou existia mas não se utilizava, a palavra que se utilizava era criado (a), depois da revolução industrial sim, topei tamém é um-ha palavra que cá entrou em desuso (caiu no esquecimento) e as escolas já não ensinam, encontrei, achei ou tamém se pode dizer dei de caras
E, ironicamente, "empregado" virou a forma padrão, enquanto "fror", "frauta" e "craro" viraram formas associadas a pessoas ignorantes. É uma viagem e tanto, né?!
@@andremachadolinguistica Ignorantes é uma palavra chique, labregos ou de fracas letras era o que se ouvia cá, nesta região a letra L os parcos de literacia são avessos a essa letra e se for o AL é muito difícil ouvir, Malga (maurga) Caldo (caurdo), Almofada (trabesseiro ou corcha), Algarve (aurgarbe) etc. Tem cá um local que se chama Palmeira mas na boca de labrego ou labradores é paurmeira mas só as pessoas idosas e de fraca literacia é que falam assim, agora os professores são instruídos e Lisboa e antigamente também eram mas os poucos que existiam eram para os filhos dos senhores
@@andremachadolinguistica é um barato.
@@DavidPereira-ot2xi de que lugar de Portugal você é?
"O que esse Camões fazia cas mões eu faço cos pé." Chico Bento em uma das histórias.
Gente, adorei! Queria ver o resto da história! hahahahaha
@@andremachadolinguistica É uma que ele fica com ciúmes da Rosinha falando com um português. Não sei qual é a edição, mas era da época de ouro da turma da Mônica.
Então foi o Camões, que aprendeu a falar ai, e depois é que veio para Portugal..
Er... não, porque essas variações começaram em Portugal e não no Brasil...?
Vamos lá: nao confundir fato com valor.
A Matsunaga ter utilizado conhecimentos técnicos para fazer picadinho do marido não agrega valor ao ato.
Uma pessoaa simples, que diga "craro", é, de certa forma, um interessante "fóssil linguístico", mas também é uma pessoa que não teve a chance de absorver a norma culta devido aos problemas sociais que o país possui. Não é "legal", é falta de instrução.
A sociedade não precisa ser um parque de diversões para os linguistas se divertirem, assim como não é bom que as favelas subsistam só para sociólogo ter miséria sobre as quais escrever papers.
Gente, eu ri da sua comparação com a Matsunaga hahahaha sou uma pessoa ruim por isso?
De todo modo, talvez tenha ficado a impressão que estamos defendendo algo contrário ao que você escreveu, Caio, mas (salvo algumas nuances), a gente não está! As pessoas devem, sim, ter todas as oportunidades de receber instrução e se apropriar da norma padrão. Ninguém em sã consciência (pelo menos até onde eu sei) defenderia que as pessoas continuassem falando "craro" em toda situação e não aprendesse que o padrão do português atual é falar "claro". Dito isso, o que a gente defende é que essas variações da pronúncia não sejam vistas como coisa de gente burra e preguiçosa (até porque falta de instrução não é a mesma coisa que burrice) e que melhor do que substituir a variedade linguística que alguém fala seria fazer com que a pessoa acrescentasse uma forma a mais de falar ao seu repertório (e usasse "claro" nos momentos adequados, mas não se sentisse uma pessoa menos competente na sua língua por falar "craro" ou "dois pastel" na sua intimidade, entre família e amigos). É plenamente possível que uma pessoa consiga alternar entre o português padrão e sua variedade regional/social, não precisamos discriminar uma forma de falar para que a pessoa se aproprie do padrão. Obrigado pelo comentário!
@@andremachadolinguistica eu conheço toda a retórica dos sociolinguistas, que prescrevem enquanto fingem que só descrevem.
A sociedade tem seus parâmetros, e agradar aos sociolinguistas não costuma ser um deles.
Por que, a norma culta sendo "claro", seria desejável que "craro" se preservasse? Por que sociolinguistas querem ter suas "reservas ambientais" também?
E o "preconceito" não ocorre só de um lado. Tenho um amigo, do interior de MG, que mora hoje em Uberlândia, ganha bem e trabalha com publicidade e que, quando visita a família em uma cidade bem menor, não pode falar "você" porque a família tira sarro, dizendo que ele está metido, que deveria dizer "cê", como todo mundo lá.
Agora convença-me da importância da preservação do "cê", porque a do mico-leão-dourado eu já estou convencido.
Não é (necessariamente) que seja desejável que "craro" se preservasse, mas que a variação linguística, e isso inclui as de pronúncia, é intrínseca à natureza de todas as línguas. A questão é como nós vamos lidar com com essa variação. De todo modo, acho que suas colocações são pertinentes e devem ecoar em muita gente. Você se importa se eu usar os seus comentários como base pra um vídeo mais longo, respondendo aos seus questionamentos? Prometo ser respeitoso e não levar nada po lado pessoal!
@@caiorossi4776por que os falares regionais te incomodam tanto? Ninguém no Brasil fala 100% de acordo com o português padrão, em nenhum lugar do mundo você encontra as pessoas falando puramente de acordo com o padrão. No Japão, um país super desenvolvido, há várias variações regionais. Na Alemanha a mesma coisa, na Inglaterra, nós estados unidos também.
@@andremachadolinguistica , a questão é que vocês não abordam o assunto de forma objetiva.
Você disse no vídeo que as pessoas consideram quem diz "craro" ignorante, e dá a entender que está errado.
Bem, aponte-me uma única pessoa culta que diga "craro" e eu vou concordar que isso é errado.
Se a forma culta é "claro", e qualquer brasileiro mediano diz "claro", não "craro", e as pessoas que continuam dizendo "craro" são, veja só - sim, o Ibope soy yo, mas acho que vc vai concordar -, exatamente aquelas que não tiveram acesso à formação acadêimica, como negar que são os segmentos mais ignorantes da sociedade que preservaram formas mais arcaicas da língua?
OK, dizer "craro" não se compara a dizer que 1+1=3. Não é algo atemporalmente errado. Mas também não é verdade que não resulta da falta de acesso a formação acadêmica, a livros, etc.
Pode-se manter esse linguajar paralelamente ao português padrão? Em tese, sim, mas para que finalidade e até que ponto isso seria factível?
A única finalidade que eu consigo imaginar é para que os sociolinguistas tenham material para trabalhar.
E o exemplo do meu amigo - do você vs. cê - mostra que não é tão fácil ficar transitando de um para o outro, sobretudo em um mundo em que o conhecimento "não tradicional", e automaticamente a linguagem, vai tomando um papel crescente na sociedade. O agricultor que podia falar de acordo com o padrão regional há 2 gerações hoje é atendente de telemarketing e fala com o Brasil inteiro. E quer estudar para ter um emprego melhor.
Falta reflexão nessa sua postura.
O jeito mesmo é virar monge hindu e decorar os Vedas.
Calma, não precisa chegar a tanto! rs
Hija virou filha porque as crianças sempre choravam quando os pais falavam: tu mi hijita 🙄
Saudade do Pasquale Cipro Neto! Aquilo sim era mestre que sabia botar o errado no seu lugar! 😅😅
Não fala isso perto de linguista não, Siqueira! hahahaha
Craro, Camões? Estão a falar do gênio português, ou do "çabiu do agreste, o prizidenti do Bostil." (Brasil)
Camões, sim. Alguns trechos de "Os Lusíadas":
“Era este Ingrês potente, e militara” (canto VI, verso 47)
“Nas ilhas de Maldiva, nasce a pranta” (canto X, verso 136)
"Ingrês", "pranta"... São só alguns exemplos. Não venha ser ignorante e preconceituoso por aqui não, meu caro!
@@andremachadolinguistica que bom, um "çabiu" agora sei o "serto" obrigado "prifesô" 🤣
Caipira usa R retroflexo, tipo americano. Esse 'cRaro' de vocês não tem nada a ver com o dialeto caipira, 'tá mais para uma pessoa da periferia do Rio de Janeiro em vez de um caipira. Tem que estudar e melhorar muito este acento para saber pronunciar igual nós caipiras pronunciamos.
Pois a troca do L pelo R é algo que ocorre em outros dialetos (inclusive em dialetos italianos e espanhóis, além de lusófonos), n é correto associar ao povo caipira, ainda mais quando usa um R "estralado" em vez do retroflexo
Sem contar com esse O com som de U. Caipira não fala "Craru," felemo com um O bem acentuado. Mas relevo isto.
De qual região você é? Porque na região em que eu estou, no interior de São Paulo, na fala do pessoal que a gente chamaria de caipira o R "americano" vai no final da sílaba (como em "vortar"), mas em ataque silábico complexo (como em "pranta") é possível ouvir o R que você chamou de "estalado", sim. Além do mais, também é comum, sim, ouvir o pessoal mais falar o O com som de U. Claro, não quer dizer que todos os caipiras vão falar igual, até porque a área que engloba os falares caipiras é extensa. Mas as pronúncias que eu mencionei são possíveis e comuns entre falares caipiras, pelo menos da região central do Estado de SP.
Acho q a troca do L pelo R é uma característica muito mais forte no português, que sempre diminuiu esse som em várias palavras desde o dark L em portugal q virou um U no Brasil até em palavras como dor, cor, céu, quente nos plurais como "animais"... No português mais antigo era mais parecido com o espanhol que veio das raízes latinas;
"Dolor", "color", "celo" "calente" (que passou pra caente e depois pro quente) animales (que passou pro animaes e depois animais).
@@andremachadolinguisticaPode me tirar uma duvida, o paulistano, seria também um caipira? Já que o R retroflexo é falado por boa parte da população
Historicamente, sim, mas a situação linguística da cidade de São Paulo em si mudou bastante com a chegada dos imigrantes europeus na virada do século XIX para o XX. Hoje em dia, devido às migrações, o sotaque dito "caipira" está ganhando mais espaço entre algumas camadas sociais da população paulistana, de modo que a divisão caipira x paulistano está aos poucos sendo uma distinção mais de classe do que geográfica!
Os dois falando em português gramatical o video inteiro, mas defendendo que os pobres continuem falando "craro" e "pranta", e ainda chamam os outros de "elitista". Desculpem, mas assa atitude é elitista, pois vocês dominam o português culto e podem passar numa prova de concurso público ou numa entrevista de emprego. Já a pessoa que fala "craro", que vocês acham ser "lindo", se for a uma entrevista de emprego e falar desse jeito, vai ser dispensada na hora.
Todas as pessoas têm o DIREITO de ter acesso ao português padrão ATUAL, pois em todas as sociedades do mundo existem regras e exigencias. Você não pode falar "craro" numa entrevista de emprego, assim como não pode ir de bikini a festa de casamento. Existem códigos sociais que todos devem respeitar.
Não devemos defender que a pessoa continue falando "craro" e achar isso lindo. Isso é agumento de políticos que, como não dão bom acesso à educação escolar aos brasileiros, agora defendem que qualquer um fala do jeito que quiser e que todos têm que achar lindo. Não! Todos têm DIREITO a ter acesso ao português formal, para entender uma peça judicial, uma obra de Machado de Assis ou passar num concurso público. Não vivemos numa anarquia onde cada um fala como quiser. O modo como falamos demonstra quem somos. Nao é preconceito, somos seres racionais e formamos conceitos a partir do que vemos.
É super interessante saber que há 500 anos se falava "craro" e que isso era aceito socialmente, mas hoje não é mais!
Aí vem o militante falar que devemos aplaudir quem fala "craro". Então vai lá, bonitão, numa entrevista de emprego e fala "craro", fala "pranta", é claro que você nao vai falar assim, pois sabe que nao seria contratado. Agora, o pobre infeliz, que precisa de emprego, ao invés de ser estimulado a aprender o português correto atual, agora é estimulado a falar "craro" e a ficar eternamento condenado a nunca conseguir passar num concurso público ou numa entrevista de emprego de uma grande empresa. Isso sim é elitismo!
Epa, epa, calma lá! Uma coisa é acabar com o estigma de que falar "craro" e "pranta" é coisa de gente burra e preguiçosa, outra coisa muito diferente é dizer que ninguém precisa aprender o português padrão e que todo mundo tem que ter o direito de sair escrevendo e pronunciando como bem entender, em qualquer contexto, em qualquer lugar.
Pra usar o seu próprio exemplo, não se pode ir de bikini ou sunga a uma festa de casamento, mas ninguém vai dizer que quem usa bikini ou sunga na praia ou na piscina é burro, é preguiçoso, que está destruindo o bom gosto da moda. Com pronúncias estigmatizadas e desvios gramaticais é exatamente a mesma coisa. Se, em algum momento, você encontrou militantes que defendiam que pobre não tem que aprender o português padrão e que tá tudo bem escrever ofício e contrato sem prestar atenção na concordância e na regência, tenha a certeza que nem eu nem o Estevam nem a maioria dos linguistas concordaria com tal militante. Mas não ataque moinhos de vento nem nos acuse de defender algo que não defendemos!
Não é aceito socialmente justamente por causa de pessoas como vc. Vcs decoram umas regrinhas gramaticais e se acham inteligentes e quem não decorou deve limpar chão.
@@andremachadolinguistica Faz um vídeo sobre interpretação de textos, digo, interpretação de vídeo. O colega aí está precisando.
O que foi? Lhe falta dinheiro e o que lhe resta é se achar superior por ter decorado certas regras?
Rapaz, acho que você não entendeu bem o vídeo. Eu, assim como você, também acho que todos devem ter acesso a uma boa educação e aprender a norma culta da língua portuguesa, além de muitas outras áreas, como física, química, biologia, matemática, geografia, etc.
Neste vídeo, de nenhuma maneira defendemos que a educação não seja necessária. Aqui, simplesmente falamos sobre as variedades da língua portuguesa, que não devem a sua existência a um desvio da variedade padrão da língua, mas que, na verdade, a variedade padrão surgiu como um recorte da língua e foi sendo lapidada para o uso literário e técnico, com maior precisão.
O importante é saber o seguinte:
· As variedades da língua são o natural, isso é o que ocorre em todos os idiomas;
· No português, assim como em muitas línguas, foi desenvolvida uma norma culta;
· Ter acesso a uma boa educação e aprender a norma culta é de grande utilidade para os falantes de português;
· Não ter tido acesso a uma boa instrução na norma culta e, consequentemente, não dominá-la não quer dizer que a pessoa seja burra ou que o seu falar seja feio somente por isso.
Este é um vídeo sobre variedades da língua portuguesa, não sobre a falta de necessidade de acesso à educação.
Espero que tenha ficado claro agora.
Abraço!