A LÍRICA TÉTRICA Bailarina outrora humana, Presa agora na caixinha De uma fútil garotinha Que comprou o seu bailado Rodopia e dança ao som De uma triste melodia Triste qual sua existência, A passar sem que ela possa Apossar-se de seus passos. Movimentos sempre iguais, Dolorosos e banais Tantas vezes, me pergunto: Se pudesse ser a própria Mão que gira as engrenagens De seu fado, a bailarina Dançaria ainda assim? Ou será que aceitaria Ser tratada dessa forma?
Que segredos ela esconde? Seus amigos, seus amores?
Mas jamais irei saber! Pois perdeu o dom da fala! Mas de que é que importariam Gritos, súplicas ou sangue À menina a que tornou-se Deus que rege seu destino Pois não passa de um brinquedo! E, portanto, de uma escrava! Um senhor não se preocupa Com o que um escravo sente, Quer usá-lo, apenas isso! E tal qual qualquer escravo Caso um dia, se quebrarem Os seus braços, suas pernas Ou enfim, a adolescência Aflorar o lado torpe De quem paga por seus passos, O que restará por fim À graciosa bailarina? Ser talvez substituída Doação desimportante Ter vendida por um preço Irrisório, a sua história Sufocada nas paredes Da caixinha, que se fecham Mais e mais a cada instante Ou, quiçá, a maneira mais Degradante de ostracismo: Uma fétida lixeira Relegada à escuridão! Mera parte do passado, Cairá no esquecimento, E ao seu lírico espetáculo Nem ao menos um aplauso.
A LÍRICA TÉTRICA
Bailarina outrora humana,
Presa agora na caixinha
De uma fútil garotinha
Que comprou o seu bailado
Rodopia e dança ao som
De uma triste melodia
Triste qual sua existência,
A passar sem que ela possa
Apossar-se de seus passos.
Movimentos sempre iguais,
Dolorosos e banais
Tantas vezes, me pergunto:
Se pudesse ser a própria
Mão que gira as engrenagens
De seu fado, a bailarina
Dançaria ainda assim?
Ou será que aceitaria
Ser tratada dessa forma?
Que segredos ela esconde?
Seus amigos, seus amores?
Mas jamais irei saber!
Pois perdeu o dom da fala!
Mas de que é que importariam
Gritos, súplicas ou sangue
À menina a que tornou-se
Deus que rege seu destino
Pois não passa de um brinquedo!
E, portanto, de uma escrava!
Um senhor não se preocupa
Com o que um escravo sente,
Quer usá-lo, apenas isso!
E tal qual qualquer escravo
Caso um dia, se quebrarem
Os seus braços, suas pernas
Ou enfim, a adolescência
Aflorar o lado torpe
De quem paga por seus passos,
O que restará por fim
À graciosa bailarina?
Ser talvez substituída
Doação desimportante
Ter vendida por um preço
Irrisório, a sua história
Sufocada nas paredes
Da caixinha, que se fecham
Mais e mais a cada instante
Ou, quiçá, a maneira mais
Degradante de ostracismo:
Uma fétida lixeira
Relegada à escuridão!
Mera parte do passado,
Cairá no esquecimento,
E ao seu lírico espetáculo
Nem ao menos um aplauso.