Eu queria ser uma tela

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  • Опубліковано 1 січ 2025

КОМЕНТАРІ • 1

  • @celiamoura4752
    @celiamoura4752 3 дні тому +1

    Eu queria ser uma tela!
    Uma tela nua de branco
    para sentir teu desespero, teu afecto
    essa calma gargalhando embriaguez de Baco.
    Adormecer em ti
    junto a Modigliani e Rivera
    prender-te os sentidos madrugada fora
    percorrer silêncios.
    Eu queria ser a Paz que te define
    o primeiro olhar de um recém-nascido
    as rosas brancas no cais.
    Eu queria ser um som e uma tela!
    Quem dera que fosse somente metáfora
    e esta angústia que se encerra
    calada no peito fosse gotícula de mel
    suavizando tua fronte.
    Eu queria ser a cama do sem-abrigo,
    a casa daquela a quem penhoraram a vida
    e a mãe de todos os órfãos.
    Eu queria ser a filha amada de todos os que são órfãos de filhos, os olhos dos cegos,
    os braços dos que não têm mãos,
    as pernas dos que não podem caminhar,
    a voz dos que não têm voz.
    Eu queria ser a música, a poesia
    ser a tela e ter um pacto com Deus.
    Saber-me nada para Ele mas ter a convicção que a Humanidade existia.
    Ah! Como eu queria que o fluxo da vida prevalecesse intacto tal como o espírito do rio que corre na berma da infância.
    Sento-me numa pedra.
    O som da água é tão sereno quanto um acorde do piano.
    Ouço todos os sons num instante.
    É isso que sou.
    Liberto-me.
    Descanso.
    Célia Moura, in "Terra de Lavra" - "Modocromia" Editora - Dez/2023