Guilherme Amaral
Guilherme Amaral
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CAMPANHA - Fabiano Bacchieri - 19° Acampamento da canção nativa de Campo Bom/RS
CAMPANHA (MILONGA)
Letra: Evair Suarez Gomez
Música: Juliano Gomes
Fabiano Bacchieri - Intérprete
Evair Suarez Gomez - Recitado
Juliano Gomes - Baixo e vocal
Quinto Oliveira - Violão
Luciano Fagundes - Guitarron
Daniel Zanotelli - Flauta transversa
Ricardo Comasseto - Cordeona
Davi Batuka - Percussão
Ponchito verde estendido
Sonolento adormecia...
Até que um choro surgia
Pelo eixo enferrujado
Madrugada e mate amargo
Nasciam um para o outro
E o sol rebolcava o corpo
Sobre o sereno molhado.
Era tu e a estrela Dalva
As três Marias e o Cruzeiro
A lua era o candieiro
Pra noite não ser escura
E foi num quarto de lua
Quando minguava o pavio
Que a noite fria pariu
Uma branca geada graúda.
Nasceste campanha imensa
Pra miliqueros e errantes
Pra gaúchos e andantes
Contrabandista e matreiro
Pros ranchos nascidos a esmo
Baú de tantos segredos...
Donde chinas dobrarem os joelhos
Na prece antiga do terço.
Campanha do velho umbu
Que emprestava seus braços
Para aliviar os mormaços
Nesses dias de verão
Solito na imensidão
Quando assoviava o pampeiro
Servia de guitarreiro
Pra o vento cantar chuva e solidão.

Mas te levaram pra o povo
Te plantaram arranha céus
E na trampa do mundéu
Foram levando tua gente
O choro lindo e estridente
Que tu ouvia da espora
Também levaram embora
Assim no más, de repente.

Neste floresta de pedra
Não hay corunilhas plantadas
Nem pitangas, nem aguadas,
Nem gado berrando solto
Tampouco pialos de potros
Que se planchavam em teu ventre
E nem estrelas cadentes
Que te adornavam o rosto.

Campanha, sei que de a pouco
Te atulharam de cimento
E que tu é um fragmento
De tudo aquilo que eras
Os ranchos viraram taperas
Os bolichos não existem
Talvez algum ainda insiste
Pra servir trago pra um coera.

E nesse metro e pouco de pasto
Que batizaram canteiro
Na embocadura do freio
De um pingo oveiro picaço
Vi uma nesga de pasto
Que me fez voltar no tempo
Campanha, por um momento,
Te vi cortando meu rastro.

Te vi como se nunca
Tivesse vindo pra o povo
Enxerguei o umbu de novo
De braço crucificado
Olhei o pingo encilhado
Pastando junto ao canteiro
E enxerguei meu pago inteiro
No coração do povoado.
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