"Éramos poucos, mas éramos da pá virada", diz Greenhalgh, advogado de presos políticos na ditadura
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- Опубліковано 18 бер 2024
- “Aldo chegou carregado, amparado por duas muletas humanas. Tinha o peito com feridas provocadas por queimaduras de cigarro. Por causa da tortura, não conseguia nem sentar direito.”
Assim Luiz Eduardo Greenhalgh conta ao TUTAMÉIA seu encontro com o dirigente do PCdoB Aldo Arantes, preso em dezembro de 1976 no episódio que ficou conhecido como Chacina da Lapa.
A defesa de Aldo foi um dos momentos marcantes de sua carreira como defensor de presos políticos --uma trajetória que começou quando ainda era estudante de direito e ficou sabendo que o também advogado e diretor de teatro Idibal Pivetta (1931-2023) havia sido preso pela ditadura.
Por causa da denúncia das torturas, teve um enfrentamento público com o então comandante do Segundo Exército, Dilermando Gomes Monteiro, que disse de Greenhalgh: “Mente o advogado. É mais subversivo do que seu cliente”.
Pois quem mentia era o general. Quando Arantes enfim foi levado à auditoria militar, o advogado pediu a ele, no final de seu depoimento, que abrisse a camisa. Apesar dos meses já passados, lá estavam as marcas da tortura.
Esse foi um dos casos lembrados na conversa com TUTAMÉIA pelo advogado, que tinha 15 anos quando houve o golpe militar. No dia exato, jogava bola num campinho perto de casa, no Tremembé, bairro da zona norte de São Paulo. Tudo normal, menos o fato de que, no meio da tarde, viu seu pai voltando para casa, ele que só costumava chegar ao final do dia.
“Ele chegou, ligou o rádio Transglobe e começou a procurar a BBC, buscando notícias. Depois, nos disse: ‘Isso é coisa dos americanos’.”
Vida que segue. Na faculdade de direito, anos depois, vota sempre com os grupos de esquerda e participa do movimento estudantil. Antes mesmo de se formar, atua como voluntário no escritório de Airton Soares, que estava na defesa de Pivetta.
“O contato com os presos políticos mudou a minha vida”, conta Greenhalgh ao TUTAMÉIA nesta entrevista realizada em 19 de março de 2024. Ele relata o dia em que se apresentou aos detentos do Pavilhão Cinco, na Casa de Detenção, como estagiário que iria acompanhar a defesa deles. “Não tinha o que falar. Pedi que eles contassem a história deles. Comecei a ficar impressionado. E fui me aprofundando nos casos, saber quais eram as torturas, quem eram os torturadores”.
Formado, seguiu a trilha. Numa madrugada, no início dos anos 1980, seu escritório foi metralhado em São Paulo por grupos de ultradireita -na época, fascistas incendiavam bancas de jornais e mandavam cartas-bomba para defensores da democracia; uma delas matou dona Lyda Monteiro, secretária da OAB do Rio.
Já a OAB de São Paulo, a quem Greenhalgh denunciou o ataque sofrido, deu como resposta: “Mas vocês defendem presos políticos....”
Defendia sim, assim como fazia um punhado de outros advogados, ativistas de direitos humanos, integrantes da Comissão Justiça e Paz, vários deles citados por Greenhalgh na entrevista ao TUTAMÉIA: “Éramos poucos, mas éramos da pá virada”, diz.
Atuando na defesa do então dirigente sindical Luiz Inácio Lula da Silva e outros líderes grevistas, descobriu que a sentença do julgamento que seria realizado em uma segunda-feira já estava pronta da sexta-feira anterior. A denúncia da tramoia envolveu uma espécie de “greve” dos acusados e advogados, que não compareceram ao julgamento arrumado. Houve a condenação, mas instâncias superiores acabaram dando razão aos advogados.
Um dos fundadores do PT, partido pelo qual foi quatro vezes eleito deputado federal, ele conta ao TUTAMÉIA sobre o trabalho de recolher informações sobre os desaparecidos no Araguaia e de responsabilizar o estado brasileiro por esses crimes da ditadura militar.
“A sentença transitou em julgado, mas até hoje o estado brasileiro não forneceu as informações, não disse onde os corpos forem enterrados”, aponta ele, que foi um dos fundadores do Comitê Brasileiro pela Anistia.
É uma questão que segue assombrando o país: “O governo Lula está, como diria Leonel Brizola, costeando o alambrado. Ele viu que, no dia 8 de janeiro, quase, quase... Se tivesse decretado a GLO, provavelmente ele estaria apeado do poder.”
E segue o advogado: “Costear o alambrado vai até certo ponto. A gente está costeando o alambrado desde 1988, na Constituinte. E costear o alambrado não tem sido bom. A gente viu o impeachment da Dilma, a prisão de Lua, a Lava Jato... Então vai chegar o momento em que a gente vai ter de deixar de costear o alambrado. Eu sugiro que sem ódio e sem medo, sem nenhum tipo de provocação, mas também sem recuo”.
O depoimento integra a série “O que eu vi no dia do golpe” --entrevistas com personagens como Almino Affonso, João Vicente Goulart, Anita Prestes, Frei Betto, Janio de Freitas, Guilherme Estrella e Sérgio Ferro.
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O Greenhalg é um dos maiores quadros políticos do Brasil. Parabéns pela tua trajetória.
Aplaudindo o trabalho de Greenhald!
Sensacional a atuação e as histórias do Greenhald! Essas entrevistas do Tutameia são aulas de história. Parabéns pelo resgate e por preservarem a memória
Muito respeito e admiração por Luiz Eduardo Greenhalgh
Elucidativa e maravilhosa entrevista, parabéns tutaméia.
O Luiz é simplesmente maravilhoso. Poderia escuta-lo por mais muitas horas. Agradeço.
Maravilhosa entrevista.
Greenhalgh foi, mais uma vez, como sempre, muito generoso.
Agradeço à Eleonora e ao Rodolfo, também, muito generosos, pelo trabalho que realizam em Tutaméia, às próprias expensas, há vários anos.
Serie muito importante, didatica e feita com os seus corações para os nossos. Agradecimentos e abraços! Viva a Democracia!
Parabéns. Excelente depoimento. Histórico!!
Triste, necessário, heróico
Dr. Luis Eduardo Greenhalgh honra os advogados lutadores dos direitos humanos no país.
Que histórias incríveis!
Assisti durante todo o tempo admirado pela riqueza de detalhes. Simplesmente EXCELENTE!
Muito bom ouvir Luiz Eduardo Greenhalgh - aula de história entrelaçada da ditadura e os últimos seis anos
Obrigado pela aula e pela sabedoria!
PARABÉNS ao Tutameia, entrevista chocante com o brilhante advogado que viveu essa página horrível de nossa história!
Aula espetacular!!!!!!!
Gigante... Dr. GREENHALGH!!!!
Parabéns ao Rodolfo. e Eleonora achei maravilhosa esta entrevista, trouxe para essa assembléia realidade e veracidade de nossa história , o golpe de 64, Eu nunca ouvi Greenhalgh tão a vontade e corajoso de fazer esta recordaçnaoão / aprendizado . Estou acompanhando todos os depoimentos e cada vez mais comprometida com a data de 1 de abril
É incrível como as histórias, os fatos e as pessoas se entrecruzam quando os depoimentos são verdadeiros, prestados por pessoas que vivenciaram o momento. José Genoíno, Greenhalgh, Frei Betto, Almino Afonso, a Grabbois e outros que foram entrevistados tem cada um a sua história, mas ela se intercala com diversas pessoas, muitas datas, locais, endereço e às vezes até horários são lembrados e fecham em diversos depoimentos. Já o Roberto Requião, sinceramente, não sei porque ele aceitou o convite ou se ofereceu para vir participar desse programa. Que vexame! O cara é um porqueira e nada mais do que isso. "Fui preso dezenas de vezes", essa é apenas uma das pérolas dele. Preso dezenas de vezes, não lembra de nenhuma, nem o porquê, nem quando, nem por quanto tempo, nem onde, nem se estava sozinho ou acompanhado, nem o que estava fazendo... É um mentiroso rastaquera.
Parabéns ao Tutaméia !
Excelente!👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽
Homens de Coragem !
Maravilha!
Parabéns!!! Simplesmente fantástico!!! Entrevistado e entrevistadores merecem todo o meu respeito!
Que maravilha de entrevista
É sempre formativo ouvir o LEG. Feliz escolha. Parabéns.
Aula de história- por tudo que foi exposto e pelo que não foi esse período da história não pode ser esquecido tem sim que fazer o memorial
Que espetáculo de aula! Muito obrigada TUTAMÉIA. Brilhante o trabalho de vocês!
Foi uma aula!
Que Aula...Obrigada Tutameia pela oportunidade🎉
Brilhante a entrevista com o Dr Luiz Eduardo. Ficaria horas ouvindo. De todos os entrevistados, o mais indignado com o que os militares fizeram com o país durante a ditadura. "Fizeram o que quiseram", literalmente. Inacreditável!!!
Parabéns, Tutameia por nos dar a oportunidade de conhecer os bastidores desse período horripilante, através de testemunhas vivas.
Muito obrigada!
Muito boa entrevista. Isso é história do Brasil. Parabéns.
Parabéns e obrigado, Tutaméia!
Depoimento emocionante. Parabéns pela coragem e brilhantismo!
Grande lutador,parabens pela entrevista
Uau... Sempre fui fã da Rita Lee, agora mais ainda.
Que homem exemplar!!
Espetacular!...
Que pessoa extraordinária!
"Conhecer aprender para que não volte acontecer "
🙏🏻🙏🏻❤️
PODIAM COLOCAR AS FOTOS DAS PESSOAS AO LONGO DO DEPOIMENTO, PARA PERSONALIZAR E HUMANIZAR AS FAMÍLIAS AFETADAS E SEQUELADAS POR ESTE TRISTE MOMENTO HISTÓRICO. UMA HUMILDE SUGESTÃO.
Tutaméia, no dialeto de Guimarães Rosa, derivada de “tuta e meia”, uma coisa sem importância.
Aqui, é clara a intenção dialética do casal Rodolfo e Eleonora: afirma, negando. O canal, assim como o nome, é precioso achado, assim como foi o jornal da resistência democrática à ditadura, chamado “MOVIMENTO” (existiu de 1975 a 1981) que, provavelmente, teve o nome inspirado pela dialética: tudo se move, tudo muda, nada será como é, “tudo que é sólido desmancha-se no ar”.
Que viva Tutaméia! Vida longa ao casal Rodolfo e Eleanora!
Ódio eterno à ditadura militar-imperialista que desgraçou a vida do povo brasileiro durante 21 anos (1964-1985). Que seja amaldiçoada pelos séculos dos séculos do éon humano!
Amém !
assim seja, Amem!
Maravilha de depoimento! Só ficou faltando comentar a fala de Lula sobre "não remoer o passado", (que vergonha!) será que essa entrevista foi antes disso? LEG faz muita falta no legislativo em Brasília.
Hoje ainda tem gente quê queria as forças armada no poder , meu Deus
❤
Viva a Defesa!!!
Que alívio ter uma cabal c9mo ese obrigada ❤
Que nojo desses militares
Tutameia, vcs podiam convidar o advogado Samuel Macdowell que tbm derrotou a ditadura dirante o regime no caso do Herzog
Ou seja os militares sempre estiveram a espreita incrível e visível esses entreleçamentos entre os envolvidos dos últimos seis anos
Como Lula, podemos deixar tudo isso no passado? Nem quando todos tiverem sido localizados ou esclarecido seu paradeiro.
Viva a Democracia , viva o lula viva o nordestino salvou o Brasil da ditadura....
caso Lubeca
As embaixadasce consulados estão com funcionários bolsonarustaa