AS MINHAS NOTAS, Marinho Pina & Mick Mengucci, Catarina Santos, João Meirinhos (Boom Festival 2018)

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  • Опубліковано 21 гру 2024
  • AS MINHAS NOTAS
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    Quando me olho em retrospetiva, a minha vida é exibida como uma música! Mesmas notas, pautas rotas, rotas tortas, mesmas escalas; escaladas nestas escadas em vagas e sagas variadas de sons e de tons de ditongos oblongos e longos com sintonia e música de melodia única, com distonia lúdica… e não consigo nem sonhar, nem somar, vê-se o mar acalmado, e, enciumado, a cismar, eu só cá a sornar num DÓ, RÉ, MI, FÁ, SOL, LÁ… SI.
    DÓ… tenho dó de ser, dó de não ser, dó de dor, dó de pavor, dor de amor, doido, dormente, doente, dor na mente que me entorta e mente e tortamente adorna a mente, com adornos que dor nos cornos me deixa em fornos, e como nos pornos a pôr nós em pontos de encontros já soltos… e me perco na maré.
    E então vem o RÉ… e vejo a vida a ir em ré, em retaguarda, reta calma, e sem guarda, sempre parda, retardada em reta dada e regra dada… dada por quem? dada a quem? É um requiem o meu ré!, ninguém crê, mas revolta, remonta, e reconta, sem prós, nem contra, nem pós, nem pré, e em prol do remo eu remo, mas sem fé. Ré, ré, mar. Que estou a fazer aqui?
    E o MI… O MI cai em mim, um mi todo egoísta, eu e mim, me eu eu, mimimi, me quebrei, me lasquei, me fodi, me…. Ahn… tantos mes. E em mijos e merdas, me vejo a mexer. Tanto mis que eu miro, que agora eu minto como o FMI. E neste tanto frenesi eu só quero é o meu sofá.
    E aqui entra o FÁ... Tá-dam! E o FÁ vem falando e rufando com falas tão falsas, fazendo-me arfar entre falhas e farsas, por factos fajutos, fardados de fantasia, que me abafa de afasia neste fado falhado que me estafa com fadiga. Sem faísca e no escuro eu sinto-me só.
    E o SOL… Oh, sol!, solícito a todos, mas o sol só luze, solfejando para uns poucos. Sou lesto, sou lesma, sou livre… sol quente… solene, soluço em solilóquio solitário… sou leve, sou urso, sou um louco, sou otário… só sonho que sou um sol que soalheira tanto aqui, como aí, como lá e acolá.
    E vejo o LÁ, ladeado de larápios, e ponho o lá nos lábios, mas o lá passa-me ao lado, lá ao largo, e eu cá, a claudicar. E sempre que eu chego lá, o lá já não está lá, e o lá já se largou e às vezes até está cá. E o lá eu lamento, com lágrimas e lamúrias, e lavo-me em injúrias e juras e conjuras de que vou largar de procurar o lá, mas acabo em perjuras e abjuras a ralar-me atrás do lá. Pois quero um lá no meu lar!
    SI, SI, finalmente um SI… um si para mim, um si para ti, um si… um si para si. Um si assim-assim, “come ci come ça”, como sabem, começado de silêncio sincero, simples ou severo, assimilado e dissimulado em situações sintonizadas em sinas singelas e bonitas às coisas belas da vida, e que enchem goelas famintas e tigelas de comida, como um SI de um dia-sim, como um SI simples e sincero de um “merci”.
    Pois… Pois é… quando me olho em retrospetiva…

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