Professora Anna, quero, publicamente, agradecer a sua disposição de, durante todos estes anos,, superando diversos obstáculos, nos apresentar suas análises e compartilhar seus conhecimentos e opiniões. Tenha a certeza que seu trabalho nas redes sociais está contribuindo para a construção de um mundo menos injusto e mais próspero para todos. Obrigado e parabéns!
Boa noite, professora. Tenho uma curiosidade sobre a crítica de Thompson a Althusser. Ela teria algo a ver com aquela que afirma que a teoria althusseriana trata o sujeito como mero autômato? Acho intrigante essa crítica, porque ela parece ignorar o flerte de Althusser com a psicanálise. Não consigo pensar em nada mais radicalmente avesso ao autômato do que o sujeito de desejo da psicanálise. Ainda que a psicanálise francesa também tenha críticado o humanismo, não é de autômatos que ela trataria... mas de sujeitos cindidos.
Veja, a minha percepção é que Thompson está muito mais centrado em criticar a leitura que Althusser faz de Marx, uma vez que "Para ler o Capital" e "A favor de Marx" são livros introdutórios a quem vai ler o Capital e acabam enviesando essa leitura. Existe em mais de um autor do estruturalismo esse flerte com a psicanálise, principalmente na vertente francesa, que os distancia demais do método materialista. É um pouco disso que eu quero expressar quando me refiro a teorias construídas em cima de "abstratos". Isso está presente em Foucault também e eu nem me atrevo a entrar nessa querela sobre se ele é estruturalista ou pós-estruturalista. Meu receio é que quanto mais essas discussões se aprofundam, mais distantes elas se tornam do método marxista propriamente dito, no que se refere à História. Filosoficamente talvez façam mais sentido, mas essa não é a minha área. Minha leitura e minha crítica são estritamente do ponto de vista do historiador.
@@AnnaGicelle obrigado pela resposta. Explica muito do ruído que percebo entre o campo da história e da psicologia. Enquanto clínico é curioso pensar que, visto de fora, trabalharíamos com algo abstrato no nosso ofício. Também é curiosa a defesa do humanismo para nós. É verdade que a psicologia humanista, de base norte-americana, fazia boas críticas à psicanálise, mas era a da tradição deles, a chamada psicologia do ego, de cunho adaptacionista. Só que, segundo percebemos , a abordagem da psicologia humanista tende a ser majoritariamente conciliatória e bem despolitizadora atualmente. Já a psicanálise lacaniana e a esquizo-análise são as que mais têm trazido questões sociais e políticas para clínica.
Boa noite, professora Ana. Tudo joia? Primeiramente, quero parabenizar por um mais excelente vídeo e é sempre um privilégio ouvir seus ensinamentos e aprender com eles, sobretudo para mim, que tenho idade para ser seu filho. Assim como a senhora, também me considero marxista, e, infelizmente, quanto a Thompson, somos opostos: foi um grande historiador, mas que tirou conclusões inversas ao materialismo histórico e dialético, sobretudo na consciência de classe e na base social-econômica do marxismo. Thompson não poderia ter dito que primeiro vem a consciência e dela se forma a classe, pois é isto uma grande negação do primado da matéria defendido no materialismo marxista (a vida determina a consciência e não o contrário), bem como coloca uma série de elementos culturais a formar a experiência geradora da consciência de classe, renegando a maior contribuição de Marx ao estudo histórico, qual seja a categoria do "trabalho", depois ampliada por György Lukács (filosófo este que deu seus 20 centavos sobre a consciência de classe e valeria uma comparação entre ele e Thompson), categoria a partir da qual nós humanos nos humanizamos e nos socializamos, gerando modos de produção com formações sociais específicas a eles. Assim, Thompson colocou muita ênfase na cultura e esqueceu-se que esta é gerada pelas relações concretas a partir do trabalho (que geram e são influenciadas pela superestrutra, é claro), e sem contar na influência da etnografia em Thompson mostrando que ele faria o mesmo percurso da Nova História Cultural na França com a 3ª geração dos Annales (à qual o marxismo nada deve, pois muito do que os "annalesianos" diziam já fora dito por Marx e Engels no século XIX, e os Annales desprezavam a dialética, a transformação, o devir e não tinham uma base concreta como tem o marxismo), e arrisco a dizer que Thompson deixou o marxismo nos anos 1950 até se afastar dele totalmente em sua última obra "Costumes em comum". Enfim, não quero aqui fazer com que não leiamos Thompson ou insunar que ele era um péssimo historiador, apenas mostrar os problemas e limitações do seu pensamento a fim de pensarmos até onde estamos ou não próximos do materialismo histórico e dialético e respeitando tal ferramenta analítica (sua teoria, seus métodos, suas categorias e ideias básicas). Fique bem e espero que o canal cresça ainda mais nos próximos anos 😊😊😊
Professora Anna, quero, publicamente, agradecer a sua disposição de, durante todos estes anos,, superando diversos obstáculos, nos apresentar suas análises e compartilhar seus conhecimentos e opiniões. Tenha a certeza que seu trabalho nas redes sociais está contribuindo para a construção de um mundo menos injusto e mais próspero para todos. Obrigado e parabéns!
Agradeço muito a gentileza do seu comentário. Você nem imagina o que significa para mim. Um abraço!
Muito bom, Anna.
Gostei dos primeiros vídeos seus... apresentou muito bem...
Muito bom 👏🏻👏🏻👏🏻👏🏻adorei a sua sinceridade sobre esses autores e sobre a atual militância
É uma pessoa super carismática, forma de falar...
Grato.
Sapere aude!
Excelente trabalho
Falta ética pra esse povo... Abraço, Anna!
Boa noite, professora. Tenho uma curiosidade sobre a crítica de Thompson a Althusser. Ela teria algo a ver com aquela que afirma que a teoria althusseriana trata o sujeito como mero autômato? Acho intrigante essa crítica, porque ela parece ignorar o flerte de Althusser com a psicanálise. Não consigo pensar em nada mais radicalmente avesso ao autômato do que o sujeito de desejo da psicanálise. Ainda que a psicanálise francesa também tenha críticado o humanismo, não é de autômatos que ela trataria... mas de sujeitos cindidos.
Veja, a minha percepção é que Thompson está muito mais centrado em criticar a leitura que Althusser faz de Marx, uma vez que "Para ler o Capital" e "A favor de Marx" são livros introdutórios a quem vai ler o Capital e acabam enviesando essa leitura. Existe em mais de um autor do estruturalismo esse flerte com a psicanálise, principalmente na vertente francesa, que os distancia demais do método materialista. É um pouco disso que eu quero expressar quando me refiro a teorias construídas em cima de "abstratos". Isso está presente em Foucault também e eu nem me atrevo a entrar nessa querela sobre se ele é estruturalista ou pós-estruturalista. Meu receio é que quanto mais essas discussões se aprofundam, mais distantes elas se tornam do método marxista propriamente dito, no que se refere à História. Filosoficamente talvez façam mais sentido, mas essa não é a minha área. Minha leitura e minha crítica são estritamente do ponto de vista do historiador.
@@AnnaGicelle obrigado pela resposta. Explica muito do ruído que percebo entre o campo da história e da psicologia. Enquanto clínico é curioso pensar que, visto de fora, trabalharíamos com algo abstrato no nosso ofício. Também é curiosa a defesa do humanismo para nós. É verdade que a psicologia humanista, de base norte-americana, fazia boas críticas à psicanálise, mas era a da tradição deles, a chamada psicologia do ego, de cunho adaptacionista. Só que, segundo percebemos , a abordagem da psicologia humanista tende a ser majoritariamente conciliatória e bem despolitizadora atualmente. Já a psicanálise lacaniana e a esquizo-análise são as que mais têm trazido questões sociais e políticas para clínica.
Boa noite, professora Ana. Tudo joia? Primeiramente, quero parabenizar por um mais excelente vídeo e é sempre um privilégio ouvir seus ensinamentos e aprender com eles, sobretudo para mim, que tenho idade para ser seu filho.
Assim como a senhora, também me considero marxista, e, infelizmente, quanto a Thompson, somos opostos: foi um grande historiador, mas que tirou conclusões inversas ao materialismo histórico e dialético, sobretudo na consciência de classe e na base social-econômica do marxismo. Thompson não poderia ter dito que primeiro vem a consciência e dela se forma a classe, pois é isto uma grande negação do primado da matéria defendido no materialismo marxista (a vida determina a consciência e não o contrário), bem como coloca uma série de elementos culturais a formar a experiência geradora da consciência de classe, renegando a maior contribuição de Marx ao estudo histórico, qual seja a categoria do "trabalho", depois ampliada por György Lukács (filosófo este que deu seus 20 centavos sobre a consciência de classe e valeria uma comparação entre ele e Thompson), categoria a partir da qual nós humanos nos humanizamos e nos socializamos, gerando modos de produção com formações sociais específicas a eles. Assim, Thompson colocou muita ênfase na cultura e esqueceu-se que esta é gerada pelas relações concretas a partir do trabalho (que geram e são influenciadas pela superestrutra, é claro), e sem contar na influência da etnografia em Thompson mostrando que ele faria o mesmo percurso da Nova História Cultural na França com a 3ª geração dos Annales (à qual o marxismo nada deve, pois muito do que os "annalesianos" diziam já fora dito por Marx e Engels no século XIX, e os Annales desprezavam a dialética, a transformação, o devir e não tinham uma base concreta como tem o marxismo), e arrisco a dizer que Thompson deixou o marxismo nos anos 1950 até se afastar dele totalmente em sua última obra "Costumes em comum". Enfim, não quero aqui fazer com que não leiamos Thompson ou insunar que ele era um péssimo historiador, apenas mostrar os problemas e limitações do seu pensamento a fim de pensarmos até onde estamos ou não próximos do materialismo histórico e dialético e respeitando tal ferramenta analítica (sua teoria, seus métodos, suas categorias e ideias básicas). Fique bem e espero que o canal cresça ainda mais nos próximos anos 😊😊😊