MEMORIAL DE QUATRO BRAÇOS - Poesia Gaúcha

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  • Опубліковано 10 бер 2015
  • Wilson Araújo interpreta Memorial de Quatro Braços, poema de José Estivaleti, acompanhado pelo violonista Zulmar Benites. Poema participante do 13º Bivaque da Poesia Gaúcha, com o qual Wilson Araújo foi premiado como melhor intérprete.
    MEMORIAL DE QUATRO BRAÇOS
    Autor:José Oliveira Estivalet
    Sol da tarde incandescente,
    Braça e pico pra se pôr...
    Um quero-quero abre o peito
    Num alarido estridente,
    Anunciando que tem gente
    Rondando o passo da várzea
    Única porta de entrada
    Daquele fundão de campo
    Da Fazenda Bela Vista,
    A invernadinha dos fundos
    Onde mora Dona Chica.
    Viúva do Bento, o posteiro,
    Que morreu numa rodada
    Dum mouro marca borrada,
    Refugado dos ginetes
    Que lhe deixaram aporreado
    E vivia solto por maula...
    Retocando pelos campos
    Como rei das pradarias,
    Narinas arregaçadas
    E a cola hasteada em bandeira.
    E o Bento, lhe cobiçava,
    Cada vez que o vislumbrava
    Sua mão acariciava
    A boleadeira charrua,
    Que tinha endereço certo
    Ao desprender-se do braço
    E nesse caso era o mouro,
    Nas munhecas do pavena,
    Para escutar o estampido
    No serrar das três marias...
    Num temporal de verão,
    Uma enxurrada medonha,
    Descendo as águas das sangas
    O arroio transbordou,
    Ficando ilhado o varzedo
    Naquele fundão de campo...
    Rancho, potreiro e manada,
    Todos do lado de cá...
    Tudo o que o Bento queria
    Pra fazer aquele mouro
    Conhecer marido brabo.
    Assim que a chuva passou
    E o sol voltou a brilhar,
    Bento montou um cabos-negros
    E, investiu contra a manada,
    Quando o maula se apartou
    Na volta de um caponete
    E as três marias certeiras
    Abraçaram-lhe as dianteiras
    Fazendo trocar de ponta,
    Qual um gigante de crinas
    Desabando entre as macegas
    Marcando aquele lugar...
    Num upa estava seguro;
    Buçal e cabresto forte
    Na cincha do cabos-negros,
    “Manoteando”, se golpeando,
    Bufando e dando “pataços”,
    Mas, sendo quase arrastado,
    Mais brabo e mais contrariado
    Que nem gato cabresteando,
    Que cincha tinha sobrando
    Aquele baio apoderado.
    Foram dez dias de lida
    Adelgaçando o ventena,
    Banhando, tirando as cócegas,
    Fazendo correr na volta
    Num maneador de seis braças
    A estalos de arreador...
    Depois o cabresto forte,
    Bem torcido, bem sovado,
    Com duas voltas passadas
    Num palanque de pau-ferro,
    Com as duas presilhas presas
    Naquela argola de aço
    De um buçal desnucador.
    O mouro não mais sentava,
    Deixava ser apalpado,
    Tava igual cavalo manso
    Mas, tinha um olhar raivoso,
    Parecendo uma cruzeira
    Prontita pra dar o bote...
    E o Bento senta-lhe as garras
    Com toda a calma e perícia,
    Conversando, assoviando,
    As vezes cantarolando
    E o mouro nem se mexia.
    Nisso chegaram dois peões
    Prontitos pra amadrinhar,
    Estava o mouro encilhado
    E o Bento, chapéu quebrado,
    Bombachita remangada,
    As nazarenas calçadas
    E a guaxa na mão direita,
    Como a medir traço a traço
    Daquele diabo encilhado
    E o mouro por sua vez
    Também media o ginete...
    Depois de bem orelhado,
    Ginete já enforquilhado,
    Corpo atirado pra traz,
    Mandou que soltassem o mouro
    E dessem um tapa no focinho...
    Deus do céu... Virgem Maria...
    Quebram o silêncio da várzea
    Com a fúria de um maremoto
    Parecendo ondas gigantes,
    Quando iam pras alturas
    E ao baixarem arrancavam
    Leivas de pasto do chão.
    De longe se ouvia os berros
    E a guaxa batendo forte,
    Logo um silencio de morte
    Bem onde fora boleado,
    Pois não é que o desgraçado
    Se da volta pelo ar...
    Se devolvendo prá terra
    Pra nunca mais levantar...
    Pois teve o pescoço quebrado
    E o Bento, morre apertado
    Nesta medonha rodada,
    Com as sete dentes cravadas
    Na pança deste aporreado.
    Primeiro enterraram o mouro
    Bem na marca da rodada,
    Um pouco acima da estrada
    E abaixo do caponete...
    Depois velaram o ginete
    Para então ser enterrado
    Em outra cova ao lado,
    Do mouro passarinheiro,
    Rude memorial campeiro
    Onde uma cruz de pau-ferro,
    Diferente, quatro braços,
    Marca o final de dois guapos
    Que talvez rondem a querência...

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