Um período romântico, é verdade. Mas também de muito preconceito, privações, povo subjugado por políticos inescrupulosos, jornalistas de caráter duvidoso. Lindo! Mas eu prefiro hoje em dia, apesar dos políticos chulos e dos jornalistas com sua moral tacanha terem dado cria e os filhotes estão aí, em pleno 2020. Este filme é um rico material histórico, sem dúvida!
A Grande Feira!!! Que belo filme do baiano Roberto Pires (1934-2001). E ainda tem as musas Helena Ignez e Luiza Maranhão!!!! Gostei tanto que até fiz este comentário: “A Grande Feira”, a Feira Água dos Meninos, encanta tanto pela boa história (Rex Schindler/argumento; Roberto Pires/argumento e roteiro) quanto pela direção do cineasta baiano Roberto Pires, elenco e fotografia de Hélio Silva. Considerado um dos melhores filmes do chamado “Ciclo Baiano de Cinema” (1958-1963), teve muitas cenas filmadas nas ruas de Salvador e arredores, revelando os contrastes sociais e a beleza da região, onde feirantes são ameaçados de despejo por uma empresa imobiliária e lutam para não perder o terreno. Entre os personagens destaca-se a guerreira e heroica Maria da Feira (Luíza Maranhão). Glauber Rocha (1939-1981) assina como produtor executivo. Uma cena marcante, que deveria ficar guardada na memória do cinema brasileiro, ocorre quando Maria da Feira reencontra Ronny, o sueco (Geraldo Del Rey), ferido por ela com uma navalha. O homem que se diz marinheiro chega ao Cabaré do Zazá (Roberto Ferreira) e grita pelo nome dela. Maria desce as escadas. Tenta enfrentá-lo com uma navalha, mas é imobilizada. O rapaz pega o objeto e corta o vestido de Maria deixando-a quase nua. A mulher segura as partes da roupa cortada e chora. Todos acham graça, menos Ronny. O marinheiro pega uma das toalhas de mesa do cabaré, enrola sobre Maria, a pega no colo e a leva para o quarto. A história começa a fazer sentido aos poucos, a medida que os personagens são apresentados, até porque nem sempre a montagem das cenas, costuradas por Roberto Pires e Glauber Rocha, obedece a uma ordem lógica. No livro “Glauber Rocha, esse vulcão”, João Carlos Teixeira Gomes (1936), explica que essa técnica, adotada no cinema brasileiro, teve influência de Jean-Luc Godard. “A descontinuidade, recurso usual na poesia moderna conduz à fragmentação do texto”. (Pág. 390, 1997). “No cinema, trata-se de um processo técnico que resulta na interrupção da ordem lógica das sequências, criando blocos autônomos de imagens.” Algo que também considero inovador para a época foi a presença do cordelista Cuíca de Santo Amaro (1907-1964). Esse artista popular, na época, abre o filme antes dos letreiros com as seguintes frases aparentemente desconexas: “A Grande Feira d’água de meninos vai se acabar. Vai acabar a grande feira! Leiam com detalhes. A grande Feira de Água de Meninos, senhores, vai se acabar, engolida por tubarões. Leiam com detalhes a extinção da feira de água de meninos. Cinco cruzeiros, meus amigos. A grande feira vai se acabar, devorada pelos tubarões. Os tubarões vão acabar com a feira. Milhares de famílias condenadas ao relento (....).” Algumas pessoas ouvem atentas, enquanto um homenzinho gordo chamado Ricardo (Milton Gaúcho) passa pelo local, sobe numa embarcação e cruza em frente ao Elevador Lacerda. O local, lotado de barcos, é parecido com o do filme “Bahia de todos os Santos” (1960), outro clássico baiano. Na sequência seguinte, o Ronny aparece ferido no meio da multidão e é levado por uma ambulância. Ricardo entra num bar, onde o amigo Filósofo (David Singer) joga dominó. Ele traz a notícia de que irão acabar com a feira. Filósofo alega que é o progresso, que virá, mesmo desgraçando quatro mil feirantes, mas Ricardo recusa a ideia de se mudar do local. Filósofo revela ao público quem é Ricardo: um malandrão, usa a feira como esconderijo, já que é contrabandista de mercadorias compradas na mão de Chico Diabo (Antonio Sampaio, ator que no futuro mudaria o nome para Antonio Pitanga). Pondera que querem aterrar a enseada para aumentar o porto. Mas é Maria da Feira quem domina filme. Mulher bonita, forte corajosa, ela é quase onipresente na história. Para sustentar a filha, tira dinheiro de mendigos, trabalha no cabaré, enfrenta cantadas machistas e até o perigoso Chico Diabo. Sua rival no coração de Ronny é Ely (Helena Ignez), chamada pelo marinheiro de princesa infeliz e romântica sem moral. Porém, assim como Maria, também, levanta bandeiras em defesa do sexo feminino. Cita Albert Camus (1913-1960), lê Franz Kafka (1883-1924) e frequenta o Cabaré do Zazá com duas amigas. Alheio a isso, Chico Diabo tem um código de conduta próprio. Ele é o mais inquieto diante da tentativa de mudança da feira para outro local. Para ele, não há negociação. Acha que a solução e explodir os depósitos de combustíveis e transformar a feira em cinzas. O desfecho é trágico. Nas palavras de Cuíca de Santo Amaro, Maria da Feira deu seu próprio sangue para salvar a Feira Água dos Meninos (...). Segundo o artista, os tubarões continuam engolindo a feira. “Vida de pobre não tem solução!”
Procurei no UA-cam e achei este vídeo. Achei ele o mais interessante sobre a Feira de Água de Meninos. Morei 9 meses em Salvador (1994 a 1995). e Fui lá várias vezes a turismo, e nunca percorri esta feira. (Apesar de ter passado por lá e tê-la visto à distância).
Um período romântico, é verdade. Mas também de muito preconceito, privações, povo subjugado por políticos inescrupulosos, jornalistas de caráter duvidoso. Lindo! Mas eu prefiro hoje em dia, apesar dos políticos chulos e dos jornalistas com sua moral tacanha terem dado cria e os filhotes estão aí, em pleno 2020. Este filme é um rico material histórico, sem dúvida!
Memória viva!!!!
Que lindo registro!
Meu padrinho de Casamento Saudoso João Prazeres, pai de Tuca , Márcia, Joelma , Igor , Joilma , prazer vê lo na reportagem.
Provavelmente década de 40
A Igreja da santíssima Trindade ainda estava conservada. Agora é quase ruína.triste Bahia.
Gostei de ver isso
A Grande Feira!!! Que belo filme do baiano Roberto Pires (1934-2001). E ainda tem as musas Helena Ignez e Luiza Maranhão!!!! Gostei tanto que até fiz este comentário: “A Grande Feira”, a Feira Água dos Meninos, encanta tanto pela boa história (Rex Schindler/argumento; Roberto Pires/argumento e roteiro) quanto pela direção do cineasta baiano Roberto Pires, elenco e fotografia de Hélio Silva. Considerado um dos melhores filmes do chamado “Ciclo Baiano de Cinema” (1958-1963), teve muitas cenas filmadas nas ruas de Salvador e arredores, revelando os contrastes sociais e a beleza da região, onde feirantes são ameaçados de despejo por uma empresa imobiliária e lutam para não perder o terreno. Entre os personagens destaca-se a guerreira e heroica Maria da Feira (Luíza Maranhão). Glauber Rocha (1939-1981) assina como produtor executivo.
Uma cena marcante, que deveria ficar guardada na memória do cinema brasileiro, ocorre quando Maria da Feira reencontra Ronny, o sueco (Geraldo Del Rey), ferido por ela com uma navalha. O homem que se diz marinheiro chega ao Cabaré do Zazá (Roberto Ferreira) e grita pelo nome dela. Maria desce as escadas. Tenta enfrentá-lo com uma navalha, mas é imobilizada. O rapaz pega o objeto e corta o vestido de Maria deixando-a quase nua. A mulher segura as partes da roupa cortada e chora. Todos acham graça, menos Ronny. O marinheiro pega uma das toalhas de mesa do cabaré, enrola sobre Maria, a pega no colo e a leva para o quarto.
A história começa a fazer sentido aos poucos, a medida que os personagens são apresentados, até porque nem sempre a montagem das cenas, costuradas por Roberto Pires e Glauber Rocha, obedece a uma ordem lógica. No livro “Glauber Rocha, esse vulcão”, João Carlos Teixeira Gomes (1936), explica que essa técnica, adotada no cinema brasileiro, teve influência de Jean-Luc Godard. “A descontinuidade, recurso usual na poesia moderna conduz à fragmentação do texto”. (Pág. 390, 1997). “No cinema, trata-se de um processo técnico que resulta na interrupção da ordem lógica das sequências, criando blocos autônomos de imagens.”
Algo que também considero inovador para a época foi a presença do cordelista Cuíca de Santo Amaro (1907-1964). Esse artista popular, na época, abre o filme antes dos letreiros com as seguintes frases aparentemente desconexas: “A Grande Feira d’água de meninos vai se acabar. Vai acabar a grande feira! Leiam com detalhes. A grande Feira de Água de Meninos, senhores, vai se acabar, engolida por tubarões. Leiam com detalhes a extinção da feira de água de meninos. Cinco cruzeiros, meus amigos. A grande feira vai se acabar, devorada pelos tubarões. Os tubarões vão acabar com a feira. Milhares de famílias condenadas ao relento (....).”
Algumas pessoas ouvem atentas, enquanto um homenzinho gordo chamado Ricardo (Milton Gaúcho) passa pelo local, sobe numa embarcação e cruza em frente ao Elevador Lacerda. O local, lotado de barcos, é parecido com o do filme “Bahia de todos os Santos” (1960), outro clássico baiano.
Na sequência seguinte, o Ronny aparece ferido no meio da multidão e é levado por uma ambulância. Ricardo entra num bar, onde o amigo Filósofo (David Singer) joga dominó. Ele traz a notícia de que irão acabar com a feira. Filósofo alega que é o progresso, que virá, mesmo desgraçando quatro mil feirantes, mas Ricardo recusa a ideia de se mudar do local. Filósofo revela ao público quem é Ricardo: um malandrão, usa a feira como esconderijo, já que é contrabandista de mercadorias compradas na mão de Chico Diabo (Antonio Sampaio, ator que no futuro mudaria o nome para Antonio Pitanga). Pondera que querem aterrar a enseada para aumentar o porto.
Mas é Maria da Feira quem domina filme. Mulher bonita, forte corajosa, ela é quase onipresente na história. Para sustentar a filha, tira dinheiro de mendigos, trabalha no cabaré, enfrenta cantadas machistas e até o perigoso Chico Diabo. Sua rival no coração de Ronny é Ely (Helena Ignez), chamada pelo marinheiro de princesa infeliz e romântica sem moral. Porém, assim como Maria, também, levanta bandeiras em defesa do sexo feminino. Cita Albert Camus (1913-1960), lê Franz Kafka (1883-1924) e frequenta o Cabaré do Zazá com duas amigas.
Alheio a isso, Chico Diabo tem um código de conduta próprio. Ele é o mais inquieto diante da tentativa de mudança da feira para outro local. Para ele, não há negociação. Acha que a solução e explodir os depósitos de combustíveis e transformar a feira em cinzas.
O desfecho é trágico. Nas palavras de Cuíca de Santo Amaro, Maria da Feira deu seu próprio sangue para salvar a Feira Água dos Meninos (...). Segundo o artista, os tubarões continuam engolindo a feira. “Vida de pobre não tem solução!”
Massa!
Procurei no UA-cam e achei este vídeo. Achei ele o mais interessante sobre a Feira de Água de Meninos. Morei 9 meses em Salvador (1994 a 1995). e Fui lá várias vezes a turismo, e nunca percorri esta feira. (Apesar de ter passado por lá e tê-la visto à distância).