É muito delicado falar sobre autoproteção porque isso é popularmente interpretado como: ou eu prejudico os outros para me proteger ou eu me prejudico para proteger os outros. É necessário que partamos da ideia de que não há diferença de importância entre mim e o outro. Por isso, se eu devo exercer proteção, eu devo proteger a mim E ao outro. Eu devo encontrar um meio de favorecer a ambos. É preciso haver essa compreensão de que não é preciso estarmos sempre armados contra o mundo. Infelizmente há pessoas por quem não vale a pena ter consideração. Esses são casos isolados. Mas o que me preocupa é que haja tantas pessoas passando a diante o mal que lhes foi feito. A arrogancia com que elas foram tratadas é a arrogância com que elas tratam o próximo, apenas porque estão tentando se proteger.
Continuando o comentário anterior... Esse senso de auto proteção é na verdade um impulso contraproducente e perigoso. Como no próprio caso do narcisista, eu crio uma imagem de mim mesmo e tento protegê-la. Isso todos fazem. Eu assumo essa identidade e não admito que ela seja ofendida. Se eu me considero um grande pintor, eu entrarei em colapso quando alguém ousar criticar minha obra. Para proteger essa identidade forjada (e não a mim mesmo) eu me tornarei agressivo ou depressivo. Nós nos sentimos feridos por dentro por não sabermos lidar com a verdade sobre nós. Nós queremos ser o que não somos. Essa falsa identidade que todos carregamos nos deprime, nos leva à preguiça, ao tédio e ao desejo de morte. Por isso, não se trata de autoproteção. Nós só nos protegemos de verdade quando deixamos de lado o medo de nos ferirmos.
Se a liberdade é absoluta, por que escolher o sofrimento diante das atitudes de um narcisista? O narcisista, em tese, só teria poder sobre uma pessoa, se esta ficasse ofendida com as opiniões dele, mas isso seria uma escolha, pois o que o narcisista pensa é problema dele. Evidentemente, a minha opinião está relacionada ao existencialismo de Sartre. A escolha, em última análise, é sempre da pessoa, logo o comportamento do outro não deveria atingir o suposto ofendido. Seria algo parecido com a filosofia de Epiteto, o filósofo estoico. Ele dizia que não temos poder sobre o comportamento alheio, mas apenas da nossa forma de pensar e agir. Contudo, não é fácil termos a responsabilidade de pensar e agir dessa forma, afinal, fomos condicionados a pensar que sempre somos comandados de fora, É preciso muita reflexão e prática para sairmos do papel de vítimas das situações para que possamos nos comportar com autonomia e responsabilidade.
Oi AD! Estou tão atrasada nos comentários, quanto nas séries rs Mas, sim. Assisti e ainda tô digerindo... Dá pra falar muita coisa a partir dele, você tem razão.
Muito boas suas considerações! As palavras narcisista e narcisismo, do mesmo modo como aconteceu com outros conceitos da psicanálise e da psiquiatria, entraram para o senso comum e logo viraram rótulos e diagnósticos "selvagens" aplcados para as mais variadas situações e pessoas. A visão negativa do termo em sua especificidade me lembra muito a definição de egotismo para a gestalt-terapia. Particularmente, acho que deveríamos como sociedade parar de usar termos assim.
Oi Leo! Obrigada! Pois é, Foucault explica bem essa relação do discurso médico psicanalítico com a questão do discurso tido como verdadeiro pelo conhecimento popular. De qualquer forma, penso, como eu disse no vídeo, que a gente precisa falar sobre a forma como esses modos de subjetivação tem se instalado na nossa sociedade e como isso tem afetado o dasein. E, concordo com vc: se pudéssemos escolher as palavras e os discursos que são ditos, imagina, que lindo seria! Abraço! E muito obrigada pelo seu comentário!
Gostei muito Gisele ! Obrigada ! Me ajudou muito a refletir mais sobre esse tema do narcisismo considerando que de fato no contexto fenomenologico existencial nao encontramos muito material pensado e escrito. Mas fico muito preocupada com a banalidade da forma como se aborda o tema do narcissismo no hoje . Creio que enquanto transtorno pensado e elaborado na concepcao psicopatologica nao poderia ser tratado num processo tao taxativo e banal como percebo ser tratado nesses tempos atuais. Penso que como terapeuta humanista acredito que mesmo que ha um sofrimento naquelas seres que vivenciam qualquer tipo de transtorno e que nao posso engessar minhas impressoes do outro. Acredito como vc onde fica a condicao desse ser dito narcissista num mundo que vive muito mais o individual que coletivo. Nao sei ate que ponto nossos filosofos existencialistas de fato nao abordaram de essa tematica . Creio que a perspectiva do estar ai no mundo de (Dasein) Heideger nos remete a pensar esse ser narcisico nao so inautentico mas um ser desprovido de busca de sentido na relacao com o outro na medida que nao consegue se colocar no mundo sem enxergar um pouco de si mesmo no outro. Vivemos um mundo hoje cheio de pessoas rotuladas e diagnosticadas . Nao se enxerga o ser humano plenamente . Hoje as pessoas estao sendo descritas pelos seus sintomas . Isso eh muito triste para a humanidade .
Muito bom 👏👏👏
Excelente, Gisele! Parabéns pelo vídeo!!
É muito delicado falar sobre autoproteção porque isso é popularmente interpretado como: ou eu prejudico os outros para me proteger ou eu me prejudico para proteger os outros.
É necessário que partamos da ideia de que não há diferença de importância entre mim e o outro. Por isso, se eu devo exercer proteção, eu devo proteger a mim E ao outro. Eu devo encontrar um meio de favorecer a ambos.
É preciso haver essa compreensão de que não é preciso estarmos sempre armados contra o mundo.
Infelizmente há pessoas por quem não vale a pena ter consideração. Esses são casos isolados.
Mas o que me preocupa é que haja tantas pessoas passando a diante o mal que lhes foi feito. A arrogancia com que elas foram tratadas é a arrogância com que elas tratam o próximo, apenas porque estão tentando se proteger.
Maravilhosaaaaaaa...
Obrigadaaaaaa....❤❤❤
Que vídeo necessário, nossa senhora!! Obrigaaaaada! 🙌🏽🧡
Ahhhh que querida! Sou eu quem agradeço seu comentário: bom demais ter esse retorno!😘
Continuando o comentário anterior... Esse senso de auto proteção é na verdade um impulso contraproducente e perigoso. Como no próprio caso do narcisista, eu crio uma imagem de mim mesmo e tento protegê-la. Isso todos fazem. Eu assumo essa identidade e não admito que ela seja ofendida. Se eu me considero um grande pintor, eu entrarei em colapso quando alguém ousar criticar minha obra.
Para proteger essa identidade forjada (e não a mim mesmo) eu me tornarei agressivo ou depressivo.
Nós nos sentimos feridos por dentro por não sabermos lidar com a verdade sobre nós. Nós queremos ser o que não somos. Essa falsa identidade que todos carregamos nos deprime, nos leva à preguiça, ao tédio e ao desejo de morte. Por isso, não se trata de autoproteção. Nós só nos protegemos de verdade quando deixamos de lado o medo de nos ferirmos.
É isso aí! 🙌
Se a liberdade é absoluta, por que escolher o sofrimento diante das atitudes de um narcisista? O narcisista, em tese, só teria poder sobre uma pessoa, se esta ficasse ofendida com as opiniões dele, mas isso seria uma escolha, pois o que o narcisista pensa é problema dele. Evidentemente, a minha opinião está relacionada ao existencialismo de Sartre. A escolha, em última análise, é sempre da pessoa, logo o comportamento do outro não deveria atingir o suposto ofendido. Seria algo parecido com a filosofia de Epiteto, o filósofo estoico. Ele dizia que não temos poder sobre o comportamento alheio, mas apenas da nossa forma de pensar e agir. Contudo, não é fácil termos a responsabilidade de pensar e agir dessa forma, afinal, fomos condicionados a pensar que sempre somos comandados de fora, É preciso muita reflexão e prática para sairmos do papel de vítimas das situações para que possamos nos comportar com autonomia e responsabilidade.
Olá, Dra. Você já assistiu a série da Netflix "Bebê Rena". Ela é uma série que precisa de um vídeo explicativo sob a visão da psicologia.
Oi AD! Estou tão atrasada nos comentários, quanto nas séries rs Mas, sim. Assisti e ainda tô digerindo... Dá pra falar muita coisa a partir dele, você tem razão.
Gostaria que vc abordasse sobre atendimento para mulheres trans.
Oi Mariangela!
Gostei da sugestão.
Pus na lista.
Obrigada!
Muito boas suas considerações! As palavras narcisista e narcisismo, do mesmo modo como aconteceu com outros conceitos da psicanálise e da psiquiatria, entraram para o senso comum e logo viraram rótulos e diagnósticos "selvagens" aplcados para as mais variadas situações e pessoas. A visão negativa do termo em sua especificidade me lembra muito a definição de egotismo para a gestalt-terapia. Particularmente, acho que deveríamos como sociedade parar de usar termos assim.
Oi Leo! Obrigada! Pois é, Foucault explica bem essa relação do discurso médico psicanalítico com a questão do discurso tido como verdadeiro pelo conhecimento popular.
De qualquer forma, penso, como eu disse no vídeo, que a gente precisa falar sobre a forma como esses modos de subjetivação tem se instalado na nossa sociedade e como isso tem afetado o dasein.
E, concordo com vc: se pudéssemos escolher as palavras e os discursos que são ditos, imagina, que lindo seria!
Abraço!
E muito obrigada pelo seu comentário!
@@GiseleZig Totalmente de acordo. :)
Gostei muito Gisele ! Obrigada ! Me ajudou muito a refletir mais sobre esse tema do narcisismo considerando que de fato no contexto fenomenologico existencial nao encontramos muito material pensado e escrito. Mas fico muito preocupada com a banalidade da forma como se aborda o tema do narcissismo no hoje . Creio que enquanto transtorno pensado e elaborado na concepcao psicopatologica nao poderia ser tratado num processo tao taxativo e banal como percebo ser tratado nesses tempos atuais. Penso que como terapeuta humanista acredito que mesmo que ha um sofrimento naquelas seres que vivenciam qualquer tipo de transtorno e que nao posso engessar minhas impressoes do outro. Acredito como vc onde fica a condicao desse ser dito narcissista num mundo que vive muito mais o individual que coletivo. Nao sei ate que ponto nossos filosofos existencialistas de fato nao abordaram de essa tematica . Creio que a perspectiva do estar ai no mundo de (Dasein) Heideger nos remete a pensar esse ser narcisico nao so inautentico mas um ser desprovido de busca de sentido na relacao com o outro na medida que nao consegue se colocar no mundo sem enxergar um pouco de si mesmo no outro. Vivemos um mundo hoje cheio de pessoas rotuladas e diagnosticadas . Nao se enxerga o ser humano plenamente . Hoje as pessoas estao sendo descritas pelos seus sintomas . Isso eh muito triste para a humanidade .