A Cartomante (Audiolivro), de Machado de Assis

Поділитися
Вставка
  • Опубліковано 24 лис 2024

КОМЕНТАРІ • 70

  • @josemeireles6670
    @josemeireles6670 Рік тому +7

    Senhor abençoe os que lêem esta mensagem, familiares e entes queridos, com a tua infinita bondade, torne-as plenas de paz, de amor , saúde e harmonia, derrame tuas infinitas Graça, Luz; Sabedoria e Prosperidade, de tudo de melhor nas vidas deles...
    - Lord bless those who read this message, family and loved ones, with your infinite goodness, make them full of peace, love, health and harmony, pour out your infinite Grace, Light; Wisdom and Prosperity, all the best in their lives...
    - Señor, bendiga a los que leen este mensaje, familiares y seres queridos, con tu infinita bondad, hazlos llenos de paz, amor, salud y armonía, derrama tu infinita Gracia, Luz; Sabiduría y Prosperidad, todo lo mejor en sus vidas ...

  • @ruthmothe4276
    @ruthmothe4276 6 місяців тому +4

    Eu demorei tanto para descobrir que ler Machado é bom! Ele foi genial.

  • @Dom_Fabio
    @Dom_Fabio Рік тому +9

    Hoje é 15/08/2023. Foi num 15 de agosto de 1909 que Euclides da Cunha morreu quando confrontou o amante de sua esposa. Faço esse comentário porque o senhor Euclides foi amigo de Machado de Assis, tendo inclusive estado presente no dia final de Machado, que morreu em 1908.

  • @Aparecidacfs
    @Aparecidacfs 3 роки тому +21

    Ótima narração! Obrigada, ajudou minha filha acompanhar a leitura do livro... só lendo estava difícil de entender.

  • @josebittencourtsilva9742
    @josebittencourtsilva9742 Рік тому +7

    ... E os amantes foram felizes para sempre na eternidade.

  • @farofeira
    @farofeira 4 роки тому +25

    Nunca deixar de escutar o instinto.

  • @VivaemJesus
    @VivaemJesus 6 місяців тому +1

    Jesus te ama para todo o sempre!!Saiba que você é muito valioso (a) para Ele!!! :))💗

  • @mariadasoledadpenanaval8220
    @mariadasoledadpenanaval8220 5 днів тому

    Amo Machado de Assis

  • @oliviosoaresferreira607
    @oliviosoaresferreira607 Місяць тому

    Espetacular!

  • @josesilva8058
    @josesilva8058 3 роки тому +4

    O instinto e a morte , vida ou a solidão absoluta , a coisas que a filosofia nem sonho em explicar .

  • @silhdhc1419
    @silhdhc1419 Рік тому +2

    Excelente narrativa!

  • @skroktifufdesuzanawebberal485
    @skroktifufdesuzanawebberal485 2 роки тому +1

    Obrigado Leonardo pela sua leitura e viva o grande mestre Machado em

  • @kaykyrocon1395
    @kaykyrocon1395 3 роки тому +37

    Acho q a cartomante era capanga do Vilela.

    • @lucca2756
      @lucca2756 2 роки тому +3

      Ou, ela tinha um caso com o Vilela

    • @meuincrivelcanal
      @meuincrivelcanal Рік тому

      @@lucca2756 não faria sentido, se fizesse Vilela não teria motivo para ficar brabo com Rita e Camilo.

    • @MateusHanyery
      @MateusHanyery 6 місяців тому +1

      ​@@lucca2756puta sabedoria desbalançeada bixo, muito top tua especulação.

  • @giovannadanciuc8826
    @giovannadanciuc8826 Рік тому +1

    Parabéns pela ótima narração
    Ajudou muito !!

  • @marianabinda2023
    @marianabinda2023 2 роки тому +1

    Parabéns prla linda narrativa

  • @elainesouto4803
    @elainesouto4803 Рік тому +1

    PARABÉNS PELO TRABALHO

  • @licafontana1491
    @licafontana1491 4 роки тому +4

    Adorei. Obrigada

  • @luisarocha574
    @luisarocha574 5 місяців тому

    Me ajudou muito, sério!

  • @djowpeter3445
    @djowpeter3445 2 роки тому +2

    EXELENTE NARRAÇÃO

  • @Dom_Fabio
    @Dom_Fabio 4 роки тому +10

    Mas que hora o sujeito escolheu para voltar a crer em superstições. Se bem que é preciso mesmo crer em fantasias para correr o risco de aventura como esta do conto, e esperar que tudo termine bem.

  • @MakedaProf
    @MakedaProf Рік тому

    que legal! ótimo narrador!

  • @leehsouzinha6348
    @leehsouzinha6348 2 роки тому +2

    Você arrasou moço , me ajudou muiitoooi !

  • @marcelocaio9782
    @marcelocaio9782 3 роки тому +9

    Excelente narração!

  • @beatrizmendes5587
    @beatrizmendes5587 2 роки тому +7

    Leitura para quem precisar!!
    HAMLET observa a Horácio que há mais cousas no céu e na terra do que
    sonha a nossa filosofia. Era a mesma explicação que dava a bela Rita ao
    moço Camilo, numa sexta-feira de novembro de 1869, quando este ria dela,
    por ter ido na véspera consultar uma cartomante; a diferença é que o fazia
    por outras palavras.
    - Ria, ria. Os homens são assim; não acreditam em nada. Pois saiba que
    fui, e que ela adivinhou o motivo da consulta, antes mesmo que eu lhe
    dissesse o que era. Apenas começou a botar as cartas, disse-me: "A senhora
    gosta de uma pessoa..." Confessei que sim, e então ela continuou a botar as
    cartas, combinou-as, e no fim declarou-me que eu tinha medo de que você
    me esquecesse, mas que não era verdade...
    - Errou! interrompeu Camilo, rindo.
    - Não diga isso, Camilo. Se você soubesse como eu tenho andado, por sua
    causa. Você sabe; já lhe disse. Não ria de mim, não ria...
    Camilo pegou-lhe nas mãos, e olhou para ela sério e fixo. Jurou que lhe
    queria muito, que os seus sustos pareciam de criança; em todo o caso,
    quando tivesse algum receio, a melhor cartomante era ele mesmo. Depois,
    repreendeu-a; disse-lhe que era imprudente andar por essas casas. Vilela
    podia sabê-lo, e depois...

    • @beatrizmendes5587
      @beatrizmendes5587 2 роки тому +1

      - Qual saber! tive muita cautela, ao entrar na casa.
      - Onde é a casa?
      - Aqui perto, na Rua da Guarda Velha; não passava ninguém nessa
      ocasião. Descansa; eu não sou maluca.
      Camilo riu outra vez:
      - Tu crês deveras nessas cousas? perguntou-lhe.
      Foi então que ela, sem saber que traduzia Hamlet em vulgar, disse-lhe que
      havia muita cousa misteriosa e verdadeira neste mundo. Se ele não
      acreditava, paciência; mas o certo é que a cartomante adivinhara tudo. Que
      mais? A prova é que ela agora estava tranqüila e satisfeita.
      Cuido que ele ia falar, mas reprimiu-se. Não queria arrancar-lhe as
      ilusões. Também ele, em criança, e ainda depois, foi supersticioso, teve um
      arsenal inteiro de crendices, que a mãe lhe incutiu e que aos vinte anos
      desapareceram. No dia em que deixou cair toda essa vegetação parasita, e
      ficou só o tronco da religião, ele, como tivesse recebido da mãe ambos os
      ensinos, envolveu-os na mesma dúvida, e logo depois em uma só negação
      total. Camilo não acreditava em nada. Por quê? Não poderia dizê-lo, não
      possuía um só argumento: limitava-se a negar tudo. E digo mal, porque
      negar é ainda afirmar, e ele não formulava a incredulidade; diante do
      mistério, contentou-se em levantar os ombros, e foi andando.
      Separaram-se contentes, ele ainda mais que ela. Rita estava certa de ser
      amada; Camilo, não só o estava, mas via-a estremecer e arriscar-se por ele,
      correr às cartomantes, e, por mais que a repreendesse, não podia deixar de
      sentir-se lisonjeado. A casa do encontro era na antiga Rua dos Barbonos,
      onde morava uma comprovinciana de Rita. Esta desceu pela Rua das
      Mangueiras, na direção de Botafogo, onde residia; Camilo desceu pela da
      Guarda Velha, olhando de passagcm para a casa da cartomante.
      Vilela, Camilo e Rita, três nomes, uma aventura e nenhuma explicação
      das origens. Vamos a ela. Os dois primeiros eram amigos de infância. Vilela
      seguiu a carreira de magistrado. Camilo entrou no funcionalismo, contra a
      vontade do pai, que queria vê-lo médico; mas o pai morreu, e Camilo
      preferiu não ser nada, até que a mãe lhe arranjou um emprego público. No
      princípio de 1869, voltou Vilela da província, onde casara com uma dama
      formosa e tonta; abandonou a magistratura e veio abrir banca de advogado.
      Camilo arranjou-lhe casa para os lados de Botafogo, e foi a bordo recebê-lo.
      - É o senhor? exclamou Rita, estendendo-lhe a mão. Não imagina como
      meu marido é seu amigo, falava sempre do senhor.
      Camilo e Vilela olharam-se com ternura. Eram amigos deveras.
      Depois, Camilo confessou de si para si que a mulher do Vilela não
      desmentia as cartas do marido. Realmente, era graciosa e viva nos gestos,
      olhos cálidos, boca fina e interrogativa. Era um pouco mais velha que
      ambos: contava trinta anos, Vilela vinte e nove e Camilo vinte e seis.
      Entretanto, o porte grave de Vilela fazia-o parecer mais velho que a mulher,
      enquanto Camilo era um ingênuo na vida moral e prática. Faltava-lhe tanto a
      ação do tempo, como os óculos de cristal, que a natureza põe no berço de
      alguns para adiantar os anos. Nem experiência, nem intuição.
      Uniram-se os três. Convivência trouxe intimidade. Pouco depois morreu a

    • @beatrizmendes5587
      @beatrizmendes5587 2 роки тому +1

      mãe de Camilo, e nesse desastre, que o foi, os dois mostraram-se grandes
      amigos dele. Vilela cuidou do enterro, dos sufrágios e do inventário; Rita
      tratou especialmente do coração, e ninguém o faria melhor.
      Como daí chegaram ao amor, não o soube ele nunca. A verdade é que
      gostava de passar as horas ao lado dela, era a sua enfermeira moral, quase
      uma irmã, mas principalmente era mulher e bonita. Odor di femmina: eis o
      que ele aspirava nela, e em volta dela, para incorporá-lo em si próprio. Liam
      os mesmos livros, iam juntos a teatros e passeios. Camilo ensinou-lhe as
      damas e o xadrez e jogavam às noites; - ela mal, - ele, para lhe ser
      agradável, pouco menos mal. Até aí as cousas. Agora a ação da pessoa, os
      olhos teimosos de Rita, que procuravam muita vez os dele, que os
      consultavam antes de o fazer ao marido, as mãos frias, as atitudes insólitas.
      Um dia, fazendo ele anos, recebeu de Vilela uma rica bengala de presente e
      de Rita apenas um cartão com um vulgar cumprimento a lápis, e foi então
      que ele pôde ler no próprio coração, não conseguia arrancar os olhos do
      bilhetinho. Palavras vulgares; mas há vulgaridades sublimes, ou, pelo
      menos, deleitosas. A velha caleça de praça, em que pela primeira vez
      passeaste com a mulher amada, fechadinhos ambos, vale o carro de Apolo.
      Assim é o homem, assim são as cousas que o cercam.
      Camilo quis sinceramente fugir, mas já não pôde. Rita, como uma
      serpente, foi-se acercando dele, envolveu-o todo, fez-lhe estalar os ossos
      num espasmo, e pingou-lhe o veneno na boca. Ele ficou atordoado e
      subjugado. Vexame, sustos, remorsos, desejos, tudo sentiu de mistura, mas a
      batalha foi curta e a vitória delirante. Adeus, escrúpulos! Não tardou que o
      sapato se acomodasse ao pé, e aí foram ambos, estrada fora, braços dados,
      pisando folgadamente por cima de ervas e pedregulhos, sem padecer nada
      mais que algumas saudades, quando estavam ausentes um do outro. A
      confiança e estima de Vilela continuavam a ser as mesmas.
      Um dia, porém, recebeu Camilo uma carta anônima, que lhe chamava
      imoral e pérfido, e dizia que a aventura era sabida de todos. Camilo teve
      medo, e, para desviar as suspeitas, começou a rarear as visitas à casa de
      Vilela. Este notou-lhe as ausências. Camilo respondeu que o motivo era uma
      paixão frívola de rapaz. Candura gerou astúcia. As ausências prolongaram-
      se, e as visitas cessaram inteiramente. Pode ser que entrasse também nisso
      um pouco de amor-próprio, uma intenção de diminuir os obséquios do
      marido, para tornar menos dura a aleivosia do ato.
      Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu à cartomante
      para consultá-la sobre a verdadeira causa do procedimento de Camilo.
      Vimos que a cartomante restituiu-lhe a confiança, e que o rapaz repreendeu-
      a por ter feito o que fez. Correram ainda algumas semanas. Camilo recebeu
      mais duas ou três cartas anônimas, tão apaixonadas, que não podiam ser
      advertência da virtude, mas despeito de algum pretendente; tal foi a opinião
      de Rita, que, por outras palavras mal compostas, formulou este pensamento:
      - a virtude é preguiçosa e avara, não gasta tempo nem papel; só o interesse
      é ativo e pródigo.
      Nem por isso Camilo ficou mais sossegado; temia que o anônimo fosse
      ter com Vilela, e a catástrofe viria então sem remédio. Rita concordou que

    • @beatrizmendes5587
      @beatrizmendes5587 2 роки тому +1

      era possível.
      - Bem, disse ela; eu levo os sobrescritos para comparar a letra com as das
      cartas que lá aparecerem; se alguma for igual, guardo-a e rasgo-a...
      Nenhuma apareceu; mas daí a algum tempo Vilela começou a mostrar-se
      sombrio, falando pouco, como desconfiado. Rita deu-se pressa em dizê-lo ao
      outro, e sobre isso deliberaram. A opinião dela é que Camilo devia tornar à
      casa deles, tatear o marido, e pode ser até que lhe ouvisse a confidência de
      algum negócio particular. Camilo divergia; aparecer depois de tantos meses
      era confirmar a suspeita ou denúncia. Mais valia acautelarem-se,
      sacrificando-se por algumas semanas. Combinaram os meios de se
      corresponderem , em caso de necessidade, e separaram-se com lágrimas.
      No dia seguinte, estando na repartição, recebeu Camilo este bilhete de
      Vilela: "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Era mais de
      meio-dia. Camilo saiu logo; na rua, advertiu que teria sido mais natural
      chamá-lo ao escritório; por que em casa? Tudo indicava matéria especial, e a
      letra, fosse realidade ou ilusão, afigurou-se-lhe trêmula. Ele combinou todas
      essas cousas com a notícia da véspera.
      - Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora, - repetia ele com
      os olhos no papel.
      Imaginariamente, viu a ponta da orelha de um drama, Rita subjugada e
      lacrimosa, Vilela indignado, pegando da pena e escrevendo o bilhete, certo
      de que ele acudiria, e esperando-o para matá-lo. Camilo estremeceu, tinha
      medo: depois sorriu amarelo, e em todo caso repugnava-lhe a idéia de
      recuar, e foi andando. De caminho, lembrou-se de ir a casa; podia achar
      algum recado de Rita, que lhe explicasse tudo. Não achou nada, nem
      ninguém. Voltou à rua, e a idéia de estarem descobertos parecia-lhe cada vez
      mais verossímil; era natural uma denúncia anônima, até da própria pessoa
      que o ameaçara antes; podia ser que Vilela conhecesse agora tudo. A mesma
      suspensão das suas visitas, sem motivo aparente, apenas com um pretexto
      fútil, viria confirmar o resto.
      Camilo ia andando inquieto e nervoso. Não relia o bilhete, mas as
      palavras estavam decoradas, diante dos olhos, fixas, ou então, - o que era
      ainda pior, - eram-lhe murmuradas ao ouvido, com a própria voz de Vilela.
      "Vem já, já, à nossa casa; preciso falar-te sem demora." Ditas assim, pela
      voz do outro, tinham um tom de mistério e ameaça. Vem, já, já, para quê?
      Era perto de uma hora da tarde. A comoção crescia de minuto a minuto.
      Tanto imaginou o que se iria passar, que chegou a crê-lo e vê-lo.
      Positivamente, tinha medo. Entrou a cogitar em ir armado, considerando
      que, se nada houvesse, nada perdia, e a precaução era útil. Logo depois
      rejeitava a idéia, vexado de si mesmo, e seguia, picando o passo, na direção
      do Largo da Carioca, para entrar num tílburi. Chegou, entrou e mandou
      seguir a trote largo.
      "Quanto antes, melhor, pensou ele; não posso estar assim..."
      Mas o mesmo trote do cavalo veio agravar-lhe a comoção. O tempo
      voava, e ele não tardaria a entestar com o perigo. Quase no fim da Rua da
      Guarda Velha, o tílburi teve de parar, a rua estava atravancada com uma
      carroça, que caíra. Camilo, em si mesmo, estimou o obstáculo, e esperou. No

    • @beatrizmendes5587
      @beatrizmendes5587 2 роки тому +1

      fim de cinco minutos, reparou que ao lado, à esquerda, ao pé do tílburi,
      ficava a casa da cartomante, a quem Rita consultara uma vez, e nunca ele
      desejou tanto crer na lição das cartas. Olhou, viu as janelas fechadas, quando
      todas as outras estavam abertas e pejadas de curiosos do incidente da rua.
      Dir-se-ia a morada do indiferente Destino.
      Camilo reclinou-se no tílburi, para não ver nada. A agitação dele era
      grande, extraordinária, e do fundo das camadas morais emergiam alguns
      fantasmas de outro tempo, as velhas crenças, as superstições antigas. O
      cocheiro propôs-lhe voltar à primeira travessa, e ir por outro caminho: ele
      respondeu que não, que esperasse. E inclinava-se para fitar a casa... Depois
      fez um gesto incrédulo: era a idéia de ouvir a cartomante, que lhe passava ao
      longe, muito longe, com vastas asas cinzentas; desapareceu, reapareceu, e
      tornou a esvair-se no cérebro; mas daí a ponco moveu outra vez as asas,
      mais perto, fazendo uns giros concêntricos... Na rua, gritavam os homens,
      safando a carroça:
      - Anda! agora! empurra! vá! vá!
      Daí a pouco estaria removido o obstáculo. Camilo fechava os olhos,
      pensava em outras cousas: mas a voz do marido sussurrava-lhe a orelhas as
      palavras da carta: "Vem, já, já..." E ele via as contorções do drama e tremia.
      A casa olhava para ele. As pernas queriam descer e entrar . Camilo achou-se
      diante de um longo véu opaco... pensou rapidamente no inexplicável de
      tantas cousas. A voz da mãe repetia-lhe uma porção de casos
      extraordinários: e a mesma frase do príncipe de Dinamarca reboava-lhe
      dentro: "Há mais cousas no céu e na terra do que sonha a filosofia... " Que
      perdia ele, se... ?
      Deu por si na calçada, ao pé da porta: disse ao cocheiro que esperasse, e
      rápido enfiou pelo corredor, e subiu a escada. A luz era pouca, os degraus
      comidos dos pés, o corrimão pegajoso; mas ele não, viu nem sentiu nada.
      Trepou e bateu. Não aparecendo ninguém, teve idéia de descer; mas era
      tarde, a curiosidade fustigava-lhe o sangue, as fontes latejavam-lhe; ele
      tornou a bater uma, duas, três pancadas. Veio uma mulher; era a cartomante.
      Camilo disse que ia consultá-la, ela fê-lo entrar. Dali subiram ao sótão, por
      uma escada ainda pior que a primeira e mais escura. Em cima, havia uma
      salinha, mal alumiada por uma janela, que dava para o telhado dos fundos.
      Velhos trastes, paredes sombrias, um ar de pobreza, que antes aumentava do
      que destruía o prestígio.
      A cartomante fê-lo sentar diante da mesa, e sentou-se do lado oposto, com
      as costas para a janela, de maneira que a pouca luz de fora batia em cheio no
      rosto de Camilo. Abriu uma gaveta e tirou um baralho de cartas compridas e
      enxovalhadas. Enquanto as baralhava, rapidamente, olhava para ele, não de
      rosto, mas por baixo dos olhos. Era uma mulher de quarenta anos, italiana,
      morena e magra, com grandes olhos sonsos e agudos. Voltou três cartas
      sobre a mesa, e disse-lhe:
      - Vejamos primeiro o que é que o traz aqui. O senhor tem um grande
      susto...
      Camilo, maravilhado, fez um gesto afirmativo.
      - E quer saber, continuou ela, se lhe acontecerá alguma cousa ou não...

    • @beatrizmendes5587
      @beatrizmendes5587 2 роки тому +1

      - A mim e a ela, explicou vivamente ele.
      A cartomante não sorriu: disse-lhe só que esperasse. Rápido pegou outra
      vez das cartas e baralhou-as, com os longos dedos finos, de unhas
      descuradas; baralhou-as bem, transpôs os maços, uma, duas. três vezes;
      depois começou a estendê-las. Camilo tinha os olhos nela curioso e ansioso.
      - As cartas dizem-me...
      Camilo inclinou-se para beber uma a uma as palavras. Então ela declarou-
      lhe que não tivesse medo de nada. Nada aconteceria nem a um nem a outro;
      ele, o terceiro, ignorava tudo. Não obstante, era indispensável muita cautela:
      ferviam invejas e despeitos. Falou-lhe do amor que os ligava, da beleza de
      Rita. . . Camilo estava deslumbrado. A cartomante acabou, recolheu as
      cartas e fechou-as na gaveta.
      - A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendedo a mão por
      cima da mesa e apertando a da cartomante.
      Esta levantou-se, rindo.
      - Vá, disse ela; vá, ragazzo innamorato...
      E de pé, com o dedo indicador, tocou-lhe na testa. Camilo estremeceu,
      como se fosse a mão da própria sibila, e levantou-se também. A cartomante
      foi à cômoda, sobre a qual estava um prato com passas, tirou um cacho
      destas, começou a despencá-las e comê-las, mostrando duas fileiras de
      dentes que desmentiam as unhas. Nessa mesma ação comum, a mulher tinha
      um ar particular. Camilo, ansioso por sair, não sabia como pagasse; ignorava
      o preço.
      - Passas custam dinheiro, disse ele afinal, tirando a carteira. Quantas quer
      mandar buscar?
      - Pergunte ao seu coração, respondeu ela.
      Camilo tirou uma nota de dez mil-réis, e deu-lha. Os olhos da cartomante
      fuzilaram. O preço usual era dois mil-réis.
      - Vejo bem que o senhor gosta muito dela... E faz bem; ela gosta muito do
      senhor. Vá, vá, tranqüilo. Olhe a escada, é escura; ponha o chapéu...
      A cartomante tinha já guardado a nota na algibeira, e descia com ele,
      falando, com um leve sotaque. Camilo despediu-se dela embaixo, e desceu a
      escada que levava à rua, enquanto a cartomante, alegre com a paga, tornava
      acima, cantarolando uma barcarola. Camilo achou o tílburi esperando; a rua
      estava livre. Entrou e seguiu a trote largo.
      Tudo lhe parecia agora melhor, as outras cousas traziam outro aspecto, o
      céu estava límpido e as caras joviais. Chegou a rir dos seus receios, que
      chamou pueris; recordou os termos da carta de Vilela e reconheceu que eram
      íntimos e familiares. Onde é que ele lhe descobrira a ameaça? Advertiu
      também que eram urgentes, e que fizera mal em demorar-se tanto; podia ser
      algum negócio grave e gravíssimo.
      - Vamos, vamos depressa, repetia ele ao cocheiro.
      E consigo, para explicar a demora ao amigo, engenhou qualquer cousa;
      parece que formou também o plano de aproveitar o incidente para tornar à
      antiga assiduidade... De volta com os planos, reboavam-lhe na alma as
      palavras da cartomante. Em verdade, ela adivinhara o objeto da consulta, o
      estado dele, a existência de um terceiro; por que não adivinharia o resto? O

  • @iskilzinho
    @iskilzinho 3 місяці тому

    Eu gostei do final

  • @andresantos6963
    @andresantos6963 3 роки тому +22

    Vim ver os comentários: 😃
    Vi um monte de spoiler: 🤡

    • @im_Hyemi
      @im_Hyemi 3 роки тому

      Não vi nenhum spoiler

  • @Unfair5
    @Unfair5 4 роки тому +4

    Valeu bro

  • @raianesantos8584
    @raianesantos8584 3 роки тому +1

    Excelente narração

  • @hildemariodamasceno7039
    @hildemariodamasceno7039 Рік тому

    Muito obrigado!✨

  • @mariaribeiro3343
    @mariaribeiro3343 Рік тому +6

    Essa é a mesma cartomante que atendeu Macabéia

  • @vianavi5179
    @vianavi5179 4 роки тому +7

    O camilo q morreu?
    Gentiii

  • @LarissaGomes-qk9dh
    @LarissaGomes-qk9dh Рік тому

    Após refleti conclui que a moral dessa história é que a verdade não é crueldade mem justifica a crueldade.

  • @mylaaalves
    @mylaaalves Рік тому

    Adorei a narração, perfeita!!

  • @ruankurten1013
    @ruankurten1013 2 роки тому

    Vlw mano

  • @ceciliarevisartese9515
    @ceciliarevisartese9515 2 роки тому

    Ótimo!

  • @felipetillier4976
    @felipetillier4976 Рік тому

    Otimo

  • @byancamolero7728
    @byancamolero7728 3 роки тому +4

    Pelo menos eles ficaram juntos, mortos, porem juntos kkkkk

    • @Camila-tb9wd
      @Camila-tb9wd 3 роки тому

      KKKKKKKKKKKKKKKFJGFDKJKSJKJK

    • @theonce_
      @theonce_ 3 роки тому

      não, mas esse comentário aqui- KKSKSJWKSHKAA

    • @freitinhas7106
      @freitinhas7106 3 роки тому +1

      Você acha que Hamlet no começo do conto é por acaso? Na verdade é pra fazer referência a outra obra de Shakespeare em que o casal morre junto... aiai, esse Machado de Assis!

  • @clarencioootimista7831
    @clarencioootimista7831 3 роки тому +9

    To escultando pq meu professor me obrigou

  • @brunourbano5036
    @brunourbano5036 2 роки тому +1

    Caralhooo

  • @rotbarro
    @rotbarro 4 роки тому +7

    Pelo menos morreu iludido

  • @LarissaGomes-qk9dh
    @LarissaGomes-qk9dh Рік тому +1

    Será vilela é a cartomante estavam combinados ou Vilela desconfiou da Rita e a seguiu e descobriu tudo e a cartomante nada tinha haver com isso?

    • @poeteiro
      @poeteiro  Рік тому

      www.poeteiro.com/2018/08/o-desfecho-da-cartomante-conto-de-iba.html

  • @nicolesertoriosilva2374
    @nicolesertoriosilva2374 3 роки тому

    Alguém sabe como o Vilela descobriu a traição?

    • @alessandrolitrento2356
      @alessandrolitrento2356 3 роки тому +1

      A pista deixada foi que uma comprovinciana da Rita tenha denunciado a traição, já que ela morava na mesma rua onde Camilo e Rita se encontravam. Comprovinciana é a pessoa que vem da mesma província da outra. Então, essa "amiga" ou conhecida da Rita, viu tudo e sabia que ela era casada com Vilela, já que ambas vieram da mesma província. Aí, denunciou a traição.

    • @mariadasoledadpenanaval4767
      @mariadasoledadpenanaval4767 Рік тому

      @@alessandrolitrento2356, Camilo e Rita usavam a casa da comprovinciana de Rita para os encontros.

  • @katialima8019
    @katialima8019 2 роки тому +1

    Nossa, o Machado gostava dessa temática né.

    • @ivanrasputin1086
      @ivanrasputin1086 Рік тому

      Machado deve ter se inspirado em Nelson Rodrigues.

  • @alanmatheus5882
    @alanmatheus5882 4 роки тому +6

    O cara foi preso?

    • @jefersonaraujo2738
      @jefersonaraujo2738 4 роки тому +1

      kkkkkkkkkk

    • @aryanecavalcanti2761
      @aryanecavalcanti2761 Рік тому

      Kkkkkkkkkkkkk

    • @canaldoga6902
      @canaldoga6902 3 місяці тому

      Alan no passado do Brasil o hábito de marido matar amantes era algo aceitável pela sociedade, leia "Gabriela Cravo e Canela", aborda essa temática