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Maria Cláudia Pitrez
Приєднався 26 сер 2007
IN VITRO
In Vitro é uma composição imagética, sonora, gestual e textual, fruto da vida em quarentena. A casa se tornou um laboratório interior para cultivos e a vista da janela ganhou outros planos. O descortinar das janelas e parar para olhá-las é também achar o esconderijo dos tempos, dos ritmos que nos atravessam, coabitam e que também produzimos. Sobreposição de emoções e vibração enlaçam corpo-casa-paisagem. Novos rituais de observâncias, novos enquadramentos e sonoridades entre aqui e acolá compõem as camadas dessa experimentação.
O termo in vitro refere-se aos procedimentos utilizados em experiências laboratoriais que são feitas com vidros, onde os ensaios sobre a vida e suas mutações são manipulados e controlados dentro de recipientes. Embora o vidro proteja o que está dentro, ele também reflete a vida de fora. Em isolamento, a casa se tornou um recipiente fechado e as janelas como espaços de pequenas fugas diante daqueles dias em que as paredes parecem diminuir. A comunicação entre os vidros permite a nossa vista ir e vir. Luzes e sombras se projetam em meio à contração e expansão. E é nesse lugar que a casa, o corpo e a paisagem nos falam sobre processos interiores e exteriores, falando de mim, de você, da gente, dos seres e do mundo. E o que podemos experimentar In Vitro?
A composição artística desta proposta tem como fonte provocadora o texto de Henri Lefebvre, intitulado A vista da janela, que faz parte da sua obra sobre a Ritmanálise. Texto da década de 70, no qual analisa os ritmos e movimentos da cidade de Paris em ebulição. O autor faz uma crítica à vida cotidiana e nos convida a ver, ouvir e, sobretudo, a nos apropriarmos dos diferentes ritmos que nos compõem. Um grito poético e crítico para sentirmos nossos corpos e emoções. A recente releitura desta obra nos inspirou a fazer esta composição e adaptá-la em um contexto diferente mediante a uma pandemia mundial. Como podemos nos apropriar dos ritmos dos nossos corpos considerando toda essa pressão do momento atual em que a evitação dos contatos e o isolamento são urgentes e salvaguarda individual e coletiva? O que o isolamento e a vista da janela podem nos revelar e estimular sobre as composições de fora e de dentro?
A partir desse texto e das inquietações surgidas, foram criados fragmentos textuais utilizados como narração ao longo do vídeo, integrando-se as demais expressões imagéticas, sonoras e gestuais. O trabalho imagético desenvolvido buscou elementos-superfícies ou objetos-superfícies para serem utilizados diante da lente objetiva ao realizar movimentos lentos de panorâmicas feitos à mão. O efeito de caleidoscópio pelo vidro distorce o que está sendo projetado. A câmera subjetiva passeia pelo corpo-casa-paisagem através de uma fotografia que explora o contra luz e projeções de sombras e reflexos nos vidros. O filme é feito a luz natural em dias chuvosos, nublados e solares. Os sons da casa e da rua se misturam. Ruídos e sonoridades do cotidiano viram trilha sonora em conjunto com sons produzidos e gravados. Uma garrafa quebrada, a vassoura que limpa, os sinos da igreja vizinha, a louça sendo lavada, a respiração e os cantos dos pássaros se somam ao sons de percussões feitas através do corpo e também por meio de baldes com água, garrafas e instrumentos de vidros (marimba). Momentos de calmaria e alvoroço; alternâncias. O contraste entre luzes, sombras, preto e branco dão vida ao corpo que se movimenta. Pequenos e amplos gestos entram em cena. A bananeira coabita espaços internos e externos, e dança ao vento e chuva. O corpo que vibra e se redescobre contempla e brinca com outros seres. E é a partir dessa conexão que a gestualidade cotidiana dialoga e cria outras performances corporais.
Como um jogo de espelhos, a ambiência final dos experimentos in vitro nos convidam a sentirmos mais o cotidiano e a olharmos as conexões entre camadas, reflexos e ritmos que nos constituem e co-produzimos entre lá e cá; entre a casa e a rua; entre ínfimas coisas e delicadezas da vida; entre cacos e caos; entre luzes e sombras; entre tempos e incompletudes; entre eu e outro.
Um filme de Cacá Pitrez & João Gasparian
Ficha Tecnica:
Argumento, dança, montagem, narração e trilha sonora - Cacá Pitrez
Direção de Fotografia e montagem - João Gasparian
O termo in vitro refere-se aos procedimentos utilizados em experiências laboratoriais que são feitas com vidros, onde os ensaios sobre a vida e suas mutações são manipulados e controlados dentro de recipientes. Embora o vidro proteja o que está dentro, ele também reflete a vida de fora. Em isolamento, a casa se tornou um recipiente fechado e as janelas como espaços de pequenas fugas diante daqueles dias em que as paredes parecem diminuir. A comunicação entre os vidros permite a nossa vista ir e vir. Luzes e sombras se projetam em meio à contração e expansão. E é nesse lugar que a casa, o corpo e a paisagem nos falam sobre processos interiores e exteriores, falando de mim, de você, da gente, dos seres e do mundo. E o que podemos experimentar In Vitro?
A composição artística desta proposta tem como fonte provocadora o texto de Henri Lefebvre, intitulado A vista da janela, que faz parte da sua obra sobre a Ritmanálise. Texto da década de 70, no qual analisa os ritmos e movimentos da cidade de Paris em ebulição. O autor faz uma crítica à vida cotidiana e nos convida a ver, ouvir e, sobretudo, a nos apropriarmos dos diferentes ritmos que nos compõem. Um grito poético e crítico para sentirmos nossos corpos e emoções. A recente releitura desta obra nos inspirou a fazer esta composição e adaptá-la em um contexto diferente mediante a uma pandemia mundial. Como podemos nos apropriar dos ritmos dos nossos corpos considerando toda essa pressão do momento atual em que a evitação dos contatos e o isolamento são urgentes e salvaguarda individual e coletiva? O que o isolamento e a vista da janela podem nos revelar e estimular sobre as composições de fora e de dentro?
A partir desse texto e das inquietações surgidas, foram criados fragmentos textuais utilizados como narração ao longo do vídeo, integrando-se as demais expressões imagéticas, sonoras e gestuais. O trabalho imagético desenvolvido buscou elementos-superfícies ou objetos-superfícies para serem utilizados diante da lente objetiva ao realizar movimentos lentos de panorâmicas feitos à mão. O efeito de caleidoscópio pelo vidro distorce o que está sendo projetado. A câmera subjetiva passeia pelo corpo-casa-paisagem através de uma fotografia que explora o contra luz e projeções de sombras e reflexos nos vidros. O filme é feito a luz natural em dias chuvosos, nublados e solares. Os sons da casa e da rua se misturam. Ruídos e sonoridades do cotidiano viram trilha sonora em conjunto com sons produzidos e gravados. Uma garrafa quebrada, a vassoura que limpa, os sinos da igreja vizinha, a louça sendo lavada, a respiração e os cantos dos pássaros se somam ao sons de percussões feitas através do corpo e também por meio de baldes com água, garrafas e instrumentos de vidros (marimba). Momentos de calmaria e alvoroço; alternâncias. O contraste entre luzes, sombras, preto e branco dão vida ao corpo que se movimenta. Pequenos e amplos gestos entram em cena. A bananeira coabita espaços internos e externos, e dança ao vento e chuva. O corpo que vibra e se redescobre contempla e brinca com outros seres. E é a partir dessa conexão que a gestualidade cotidiana dialoga e cria outras performances corporais.
Como um jogo de espelhos, a ambiência final dos experimentos in vitro nos convidam a sentirmos mais o cotidiano e a olharmos as conexões entre camadas, reflexos e ritmos que nos constituem e co-produzimos entre lá e cá; entre a casa e a rua; entre ínfimas coisas e delicadezas da vida; entre cacos e caos; entre luzes e sombras; entre tempos e incompletudes; entre eu e outro.
Um filme de Cacá Pitrez & João Gasparian
Ficha Tecnica:
Argumento, dança, montagem, narração e trilha sonora - Cacá Pitrez
Direção de Fotografia e montagem - João Gasparian
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